terça-feira, 21 de agosto de 2007

Vinte anos sem Drumond


Há vinte anos morria o poeta Carlos Drummond de Andrade, um dos mais preciosos personagens da literatura brasileira do século 20. Drummond morreu um mês e meio antes de completar 85 anos e apenas doze dias depois da morte da pessoa que mais amou na vida: sua única filha, Maria Julieta. O poeta, que tinha problemas cardíacos e tomava remédios controlados, teria deixado de tomar os medicamentos. À sua maneira, mineiramente, decidiu não mais viver.

A filha, Maria Julieta, nasceu em 1928, data que marcou não só a vida, mas também a carreira literária de Carlos Drummond. Naquele ano ele publicou, na Revista de Antropofagia, de São Paulo, o poema No meio do caminho, um marco do modernismo - mas que na época se tornou um dos maiores escândalos literários do país. Alguns estudiosos da obra drummondiana, inclusive, chegaram a relacionar a pedra do famoso poema com o nascimento da filha. Mas essa é outra história.

Vamos relembrá-lo lendo uma de suas lindas poesias :

Mãos dadas

Carlos Drummond de Andrade

“Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.”

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