segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Direção dura de veículo sacrifica a coluna

FABIANO SEVERO da Folha de S.Paulo

A psicóloga Ilse de Araújo dos Santos, 56, começou a dirigir aos 25. Nessa época começou também seu problema crônico de coluna: como os carros não ofereciam a direção com assistência hidráulica, agravaram-se suas dores nas costas.
O caso de Santos não é isolado. Especialistas em coluna afirmam que dirigir carros com direção muito dura piora o problema nas costas.
"Fui a vários médicos, mas nenhum diagnosticou o problema. Até que, em 1990, comprei meu primeiro carro com direção hidráulica. As dores nas costas sumiram", conta.
Há um ano, a psicóloga voltou a ter um carro --um Fiat Palio Fire-- com direção mecânica. "Tornei a sentir dores na cervical, próximo ao pescoço. Faço tanta força para manobrar que tenho de tomar analgésicos no fim do dia."
A modelista Maria Judith Schiff, 53, também recorria a analgésicos após dirigir ao menos duas horas por dia. "Há dois meses troquei meu [Volkswagen] Gol Special sem direção hidráulica por um Fox com o equipamento. Não sinto mais dores no ombro e parei de tomar remédios", conta Schiff.
Segundo Luiz Pimenta, presidente da World Spine Society (Sociedade Mundial de Coluna), dirigir carros com direção muito dura ou com mau posicionamento no banco pode levar a lesões extremas e até a cirurgia nas costas.
"Tenho um paciente de 40 anos que dirigia como um "garotão", sempre com o encosto bem reclinado. Ele teve degeneração precoce dos discos da coluna e terá de operar em duas semanas", afirma Pimenta.
O médico diz também que dirigir de forma errada causa mais problemas em pessoas com idade acima de 40 anos.
"Os jovens ainda têm o tônus muscular para a sustentação da coluna. Já os mais velhos, principalmente os sedentários, sofrem de discopatia degenerativa [discos enfraquecidos]. Eles apresentam sintomas ou não."

Alongamento

Dirceu Rodrigues Alves, chefe de medicina ocupacional da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), afirma que a direção hidráulica não resolve o problema de coluna, mas pode aliviar as dores musculares, pois há redução de esforço no esterçamento.
"Em geral as pessoas já têm a lesão primária [problema hereditário] nas costas, que se agrava com o excesso de esforço ao volante. Os homens toleram mais do que as mulheres."
Para evitar as crises na coluna, além da direção hidráulica, Alves aconselha a prática de exercício físico e a redução de horas atrás do volante. Isso evita a lombalgia --dor lombar--, a mais comum entre motoristas.
"O esforço excessivo e repetitivo na parte superior da bacia e na cintura escapular se reflete em dores na lombar. Fazer alongamentos antes e depois de dirigir é recomendado."
Se não resolver, exercícios como RPG, natação, pilates e fisioterapia ajudam. Para Alves, o cuidado com o posicionamento correto no banco é fundamental.

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