domingo, 7 de setembro de 2008

João Gilberto em Salvador

O baiano João Gilberto






Sexta-feira última fui ao Teatro Castro Alves assistir ao show do cantor baiano João Gilberto.

Depois de Yokohama e Tóquio, no Japão, Nova Iorque, Rio e São Paulo, foi a vez de Salvador render a maior homenagem aos 50 anos da Bossa Nova.

Fui surpreendido logo ao constatar a faixa etária da platéia. Mesmo com ingressos caríssimos e disputados a tapa, não é que a maioria dos presentes era de jovens.
E a maioria com câmaras fotográficas registrando tudo o que tinham direito.
Uma prova que nem tudo está perdido!
Ainda resta uma esperança!!! kkkkkkkk

João, 77 anos, falou: “toco nesse mundo todo, mas na Bahia é diferente. Fico até nervoso” depois de ter mandado de cara essa do Caymmi, morto há menos de um mês:

Você já foi à Bahia, nêga?
Não? Então vá!
Quem vai ao Bonfim, minha nêga
Nunca mais quer voltar
Muita sorte teve
Muita sorte tem
Muita sorte terá
Você já foi à Bahia, nêga?
Não? Então vá!

Lá tem vatapá!
Então vá!
Lá tem caruru!
Então vá!
Lá tem mungunzá!
Então vá!
Se quiser sambar!
Então vá!

Nas sacadas dos sobrados
Da velha São Salvador
Há lembranças de donzelas
Do tempo do imperador
Tudo isso na Bahia
Faz a gente querer bem
A Bahia tem um jeito
Que nenhuma terra tem

http://www.youtube.com/watch?v=7RNUgDkw11M&feature=related


Revejo o nosso Blog e constato que reproduzi essa letra nele com o vídeo (link acima) há menos de uma semana. Os leitores mais constantes deste blog viram. E quem quiser comprovar, é só rolar o mouse e ver as últimas publicações de uma semana para cá. "Você já foi à Bahia?", de Caymmi, está lá.
Foi a primeira música do show. Quase não acreditei!!!

Graças ao nosso filho Fausto, Ita e eu tivemos a sorte de sentar na terceira fila e assim pudemos ouvir ao lado dele e da namorada Astrid, as sussurradas palavras do polêmico João, um dos maiores gênios de nossa música.
Sem ele e sem o Tom, nossa música não passaria de uma Carmem Miranda, de um Pixinguinha e de um Noel Rosa, o que, o que convenhamos, não é pouca coisa. Ah, ia cometendo o pecado de esquecer do grande Gonzagão.

Mas o mais importante foi ouvir o silêncio na platéia do Teatro Castro Alves.
João estava muito bem humorado e perguntou se havia um xarope para alguém da platéia que, numa tosse insistente, estava lhe tirando a concentração. As gargalhadas quase não cessaram.

Tive a sorte de ter nascido no Brasil e antes da Bossa Nova e isso me dá uma condição melhor de julgar o valor desse movimento que modificou a forma de se fazer música não só no Brasil, mas no mundo inteiro.
O jazz que o diga. Ele não foi o mesmo daquele show antológico de Bossa Nova, no Carnigie Hall em Nova Iorque, em 1.962, onde João e Tom Jobim, entre outros, marcaram presença.

No TCA na sexta tive a oportunidade de ouvir o silêncio. A platéia atenta e silenciosa nas duas horas e meia de show com os 1.500 lugares do Teatro absolutamente tomados, já que os ingressos foram disputados a tapa e, pelo que sei, duraram apenas uma hora e quarenta pra se esgotar.

E depois de uma hora e dez minutos de atraso do cantor (já esperado), João iniciou o seu show após cinco minutos de aplausos, mesmo tempo que duraram os aplausos no final da apresentação.
O Governador da Bahia Jacques Wagner, na platéia, provavelmente nunca teve que esperar por alguém por tanto tempo.

O show de Salvador teve músicas do Caymmi, do Tom e canções esquecidas pelo tempo, compostas nos anos 30 e 40, que João e o pessoal da Bossa Nova souberam sabiamente resgatar, a exemplo de “Isaura”.

Como bem lembrou meu irmão Luciano, João pega essas músicas antigas e as interpreta com tal modernidade como se elas tivessem sido compostas agorinha mesmo.




Izaura

João Gilberto

Composição: Herivelto Martins/Roberto Roberti

Ai, ai, ai, izaura,
hoje eu não posso ficar
Se eu cair em seus braços,
há desperta- dor
Que me fa- ça acordar,
(eu vou trabalhar)

Ai, ai, ai, izaura,
hoje eu não posso ficar
Se eu cair em seus braços,
não há desperta- dor
Que me fa- ça acordar,
(eu vou trabalhar)

O trabalho é um dever,
todos devem respeitar
O izaura me desculpe,
no domingo eu vou voltar
Seu carinho é muito bom,
ninguém pode contestar
Se você quiser eu fico
Mas vai me prejudicar
Eu vou trabalhar

Gente, a música atual é muito barulhenta. Mas aí vai um recado para quem, num bom nordestinês, gosta de zuada:

Nunca um estilo de música fez tanto barulho lá fora, tocando tão baixo. Isso é Bossa Nova!!!

E antes de qualquer coisa, a Bahia é a terra de João Gilberto e Dorival Caymmi.
Precisa mais de que ?
Sérgio Almeida Franco, Salvador/Ba

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