terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Em família


Praticar atividades físicas junto com os filhos é uma forma de estimular as crianças a se movimentarem desde cedo e de aprofundar as relações da família

Por Roberta De Lucca e Priscilla Santos

Virou bordão dizer que as crianças não brincam mais na rua devido à falta de segurança nas cidades e que a diversão está sendo substituída pelos videogames. As afirmações infelizmente são fato e se transformaram em problema mundial. Porém, não podemos nos esquecer de que os exercícios físicos são ingrediente essencial para a vida, a saúde e a sociabilidade ­ tanto dos pequenos quanto dos mais crescidos. Então, por que não unir o útil ao agradável e começar a mexer o corpo junto com seus filhos? Isso sim é que é dar exemplo. E, quem diria, comprovado cientificamente. Uma pesquisa feita na Universidade de San Diego, Califórnia, concluiu que filhos de mães ativas têm duas vezes mais chances de serem ativos do que os de mães sedentárias. Essa probabilidade salta para três vezes e meia quando se trata de o pai ser o cheio de energia e para quase seis quando ambos praticam atividades físicas. Mais do que servir de referência, quando os pais também entram na brincadeira estão agarrando a oportunidade de passar mais tempo com os filhos, de conversar, rir e superar dificuldades juntos. O que só faz o relacionamento ganhar em força e cumplicidade. “Hoje, os pais trabalham fora, estão sempre correndo. É legal reservar um horário para praticar atividades juntos. Dizer ‘a partir de agora, todo sábado vamos jogar futebol’, ou ‘todo domingo vamos andar no parque’. Você acaba criando uma tradição na família”, diz a psicoterapeuta Betina Serson, de São Paulo.


Quer mais argumentos? Ao contrário do que se possa pensar, a educação física na escola não supre a necessidade de exercícios para uma criança. Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos concluiu que, nessas aulas, apenas 20% do tempo é dedicado à prática de exercícios. O restante é gasto com chamada dos alunos, formação dos grupos, explicações da prática. A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de que as crianças pratiquem ao menos uma hora de atividades físicas, de nível moderado a vigoroso, cinco vezes por semana. Portanto, apenas o colégio não dá conta do recado. É aí que os pais entram. Confi ra a seguir que tipos de atividades físicas você pode praticar com seus filhos, de acordo com a idade deles, e mãos à obra.
6 a 12 anos
A criança está apta a aprender os princípios dos esportes. “Ela já assimila atividades mais programadas, porque desenvolveu um vocabulário de movimentos”, diz Hernandez. Mas não especialize seu filho em uma só modalidade esportiva até os 12 anos. “O ser humano precisa ter múltiplas experiências para desenvolver todas as habilidades. Isso é saúde em atividade física”, afirma Guizelini. É importante deixar seu filho escolher que tipo de atividade ele quer praticar, como e até em que momento. “Ninguém melhor do que a própria criança para orientar a brincadeira e o instante de parar”, afirma a educadora Jany Pereira, do Museu de Educação e do Brinquedo da USP. A liberdade de escolher praticar tênis, por exemplo, e mudar de idéia dois meses depois também é fundamental.

Lembre-se sempre: a criança não pode ser obrigada a praticar uma atividade de que não gosta, só para satisfazer os pais. Aliás, é esse um dos motivos para meninos e meninas abandonarem o esporte e se tornarem até mesmo sedentários. E não coloque em seu filho a expectativa e o peso de que ele seja um grande atleta. O primeiro passo para ter um campeão em casa é não visualizá-lo quando o pequeno pede para ir a uma escola de futebol. Embora sonhe em ser um Kaká da vida, a criança só começa a aprender um esporte para valer a partir dos 12 anos, em média (modalidades específicas, como ginástica olímpica, começam mais cedo). “Embora grande parte das atividades feitas antes dessa idade seja pura curtição, elas são fundamentais para o desenvolvimento humano”, diz Hernandez.

O QUE FAZER:
- Comece a ensinar o jeito de pegar na raquete de tênis ou de bater um pênalti, por exemplo. Mas sem regras. “É comum os pais dizerem que é para chutar assim ou arremessar assado. Mas, nessa faixa etária, é difícil para a criança ter uma técnica perfeita”, diz a pediatra e médica do esporte Ana Lúcia de Sá Pinto.
- Parta para os esportes de quadra quando a criança estiver por volta dos 8 anos, idade em que começa a entender melhor as regras. Como a diferença de altura ainda é grande, vôlei e basquete, por exemplo, valem mais como brincadeira.
- Jogue pingue-pongue, esporte considerado intergeracional.
- Corra e ande de bicicleta. As modalidades individuais são bacanas porque não há atrito entre os jogadores, o que, com a diferença de tamanho e força entre adultos e crianças, aumentaria o risco de o pequeno se machucar.

12 a 18 anos
Seu filho já pode respeitar as regras do esporte e levar a prática mais a sério, seja para ter boa forma ou para competir de verdade e levar isso adiante na idade adulta. É bom ficar de olho para que o treinamento dele seja adequado, de acordo com seus limites. É o caso de checar com um especialista se vocês podem seguir a mesma planilha de corrida, por exemplo. Em caso negativo, melhor irem juntos ao parque e se encontrarem somente ao final do treino.
Mas, se a atividade for saudável e prazerosa ­ nunca se esqueçam de que vocês estão entre família e todos querem passar bons momentos juntos ­, não esmoreça logo agora. Estudos feitos na Universidade de San Diego, Califórnia, apontam que os adolescentes que praticam atividades físicas têm 35% de chance de se tornarem adultos ativos. Já para os sedentários, pobrezinhos, só há 2% de esperança de que eles saiam da inércia.
E prepare-se, porque vem pela frente muita agitação. Nessa fase da vida, não tem jeito: é mais fácil os pais acompanharem os filhos que os filhos se renderem às práticas dos pais. “O adolescente necessita de uma atividade com maior desafio, que lhe proporcione uma dose de adrenalina. Raramente você vai convencer um garoto a fazer caminhada com os pais”, diz Luís Carlos de Oliveira, instrutor de pesquisas do Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul (Celafiscs).

O QUE FAZER:
- Esportes de aventura: skate, arvorismo, tirolesa, rafting e escalada urbana são exemplos. Equipamentos para tirolesa e paredes de escalada são encontrados em academias e centros esportivos nas cidades. Faça um diagnóstico com um profi ssional de educação física antes de iniciar as atividades para ver se você ou seu filho precisam de alguma preparação prévia.
- Parta para as provas de aventura, que acontecem no meio rural e envolvem diversas modalidades esportivas, como caminhada, corrida, natação e até canoagem. Embrenhados no mato, vocês terão que traçar planos e estratégias para chegar à reta final. “É uma oportunidade de criar uma equipe com o pai, a mãe e os filhos, o que solidifica a relação da família”, diz Ana Lúcia de Sá Pinto.
- Não estão a fim de tanta emoção? Escolham o esporte que mais agrade a todos. A habilidade e a coordenação motora estão mais parecidas do que nunca. Que tal convencer o filhão a jogar aquela pelada com você e seus amigos?

NÃO SE ESQUEÇA DE:

ALONGAR-SE E AQUECER-SE PARA PREPARAR O CORPO PARA OS EXERCÍCIOS. Isso é essencial em qualquer idade ­ ou seja, é válido também para seu filho, desde pequenino. Faça sempre movimentos lentos com os braços e pernas, durante cinco a dez minutos. No caso dos bebês, os pais é que devem movimentá-los. As crianças maiores podem correr ou andar de bicicleta de cinco a dez minutos antes de iniciarem uma prática esportiva. É importante que os dois se alonguem também ao fim da atividade.

OFERECER ÁGUA À CRIANÇA DURANTE OS EXERCÍCIOS. “Não espere que ela tenha sede e peça água. As crianças têm uma facilidade maior para se desidratar”, diz a pediatra Ana Lúcia de Sá Pinto. Nos dias muitos quentes, a temperatura do corpo pode se elevar, causando mal-estar e até febre no fim do dia. Isso vale para todo mundo: hidrate-se você também.

USAR ROUPAS LEVES E ADEQUADAS AO TIPO DE ATIVIDADE E À TEMPERATURA DO DIA. Cuidado redobrado com as crianças, que têm maior dificuldade para manter a temperatura do corpo. “Em um dia de frio, a criança não pode estar agasalhada demais nem com pouca roupa. Se o termômetro marca 12 graus e ela está de short, o risco de ela perder muito calor é grande e ela pode apresentar hipotermia”, diz Ana Lúcia. Aquele velho conselho de mãe ­ “cuidado com a água gelada” ­, acredite, tem sua razão de ser. Se faz muito frio e a temperatura da piscina ou da lagoa está lá embaixo, melhor deixar o programa para outro dia.

ESTAR SEMPRE ABERTO PARA NOVAS ATIVIDADES. Os especialistas dizem que uma pessoa pode adquirir qualquer habilidade, independentemente do momento da vida. Então junte a mulher, os filhos e o vovô e vá se divertir com sua família.


Fonte: site Vida Simples

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