domingo, 9 de setembro de 2007

O Anjo de cada um




Prezados amigos,



Após a rápida digressão com o lançamento do “Eclipse de Deus” e o texto filosófico de Martin Buber, retornamos hoje ao seqüenciamento normal, apresentando mais um tema do monge Anselm Grün. Desta vez elevando nossas preces ao Deus de Abraão para que neste terceiro milênio o Anjo protetor do Brasil conduza nossa pátria por melhores caminhos.
A todos vocês grande abraço e os votos de um feliz feriadão.



Carlos Almeida, Campina Grande/Pb

Cada pessoa neste mundo é acompanhada por um Anjo, enviado por Deus, que a protege e assiste em todos os seus caminhos, do nascimento até à morte, e além da morte até o paraíso. Não é isto um dogma de fé na religião cristã, mas a fé no Anjo da Guarda se encontra presente em muitas religiões. A começar pela tradição judaica, de onde foi acolhida pela Igreja cristã primitiva. A própria teologia, até pouco tempo atrás, zombava desta fé, achando que não passava de uma idéia infantil, que nada tinha a ver com a revelação cristã. Hoje é bem maior o número de pessoas que acreditam em um Anjo da Guarda pessoal.

Ao escrever este livro, quis basear-me inteiramente na tradição bíblica. A Bíblia contém muitas histórias de Anjos que vêm em socorro do ser humano e que lhe apontam o caminho. Destas eu escolhi 24, que descrevem como um Anjo se manifesta a uma pessoa desamparada, como Anjos a protegem e abrem-lhe os olhos para o caminho que leva à vida. Podem ser encontrados aí desde o Anjo que ouve o choro da criança (Agar e Ismael, Gênesis 16), passando pelo Anjo que cura uma doença (Rafael, cf. Livro de Tobias) e pelo Anjo que aparece em sonhos (a José, Mateus 1-2), até os Anjos que anunciam a alegria do Natal (Lucas 2). Essas histórias deixam claro que em nenhuma situação os Anjos deixam o ser humano sozinho, que eles o acompanham em todos os seus caminhos e trazem-lhe proteção e segurança, precisamente nos momentos em que o homem se defronta com suas angústias.

Ao falar do Anjo de cada um, deseja-se também partir de um interesse terapêutico. Muitas pessoas contam as experiências por que passaram, mostrando que a idéia do Anjo da Guarda pessoal lhes serviu de ajuda quando crianças. O Anjo que as acompanha era para elas tão real quanto a boneca com que brincavam, ou como o ursinho de pelúcia que as acompanhava na hora de dormir. Há pessoas que, quando falam de si, não sabem ver outra coisa senão as incompreensões e os sofrimentos que experimentaram. Existe quase que uma mania de descobrir sempre novas feridas da primeira infância. Mas em vez de sempre de novo remexer nas faltas de amor, seria melhor que fôssemos atrás dos vestígios dos Anjos em nossa vida.
“Vestígios dos Anjos” são os sinais de salvação e cura que podem ser encontrados em nossa vida. Onde é que, quando criança, eu me sentia bem, podia esquecer-me de mim, entregar-me inteiramente aos meus folguedos? Quais eram meus lugares preferidos? Onde é que eu me sentia no meu elemento? Indo atrás desses vestígios perceberei que não estava entregue às fraquezas e agravos dos pais, mas que já como criança um Anjo me acompanhava. Este Anjo fez com que, apesar das feridas e das más experiências por que passei, eu pudesse sobreviver, permanecer sadio e encontrar o roteiro de minha própria vida.

Trecho: O Anjo que ouve o choro da criança :

A primeira história bíblica em que um Anjo desempenha um papel decisivo é a história de Agar, escrava de Abraão. Você pode ler esta história no Livro do Gênesis, capítulo 16. A situação em que Agar se encontra é uma situação arquetípica. Ela sente-se rejeitada e abandonada por todos. Abraão, de quem estava grávida, a deixa entregue ao arbítrio de Sara. Não tem ninguém que a defenda. Então o Anjo se aproxima. Mesmo que os homens a abandonem, o Anjo vê sua miséria e não a abandona. Experiências como esta sempre de novo são feitas pelas crianças. Sentem-se incompreendidas pelos pais. Os pais ralham, chegam até mesmo a batê-las por causa de coisas sem importância. Pessoas adultas contam como na infância ficavam sem saber o que fazer. Tudo quanto fizessem estava errado. O pai reagia de maneira inteiramente arbitrária. Elas nunca sabiam realmente o que deviam fazer ou dizer. Qualquer coisa podia provocar a ira do pai. Tais crianças sentem-se abandonadas, entregues ao arbítrio.

A reação normal seria deixar de lado os sentimentos e simplesmente deixar-se levar. Mas, graças a Deus, existem ainda outras maneiras de reagir. As crianças procuram seu terreno onde possam esquecer-se de si mesmas, onde se sentem bem, onde estão inteiramente em paz consigo. Tais reações úteis também podem ser consideradas como ação do Anjo que cuida da criança.

Texto de Anselm Grün, Cada Pessoa tem um Anjo.
Tradução e adaptação de Carlos Almeida

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