segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Conflito de gerações

Empresas enfrentam o desafio de conciliar o conservadorismo de executivos veteranos com a ousadia de jovens talentos comente a matéria Guimarães, da BPI:

"Os jovens têm dificuldade de reconhecer uma liderança e isso pode ser prejudicial para toda a empresa"
Pegue a geração de executivos que cresceu no pós-guerra e que teve a formação permeada pela hierarquia e pelo desconhecimento do significado do verbo questionar. Depois, junte um grupo de profissionais nascidos entre as décadas de 60 e 80 que, por sua vez, via na contestação a melhor forma de se manifestar. A seguir, acrescente os jovens dos anos 80, criados sob a ótica do videogame - eles valorizam a agilidade e a habilidade para superar fases e alcançar o prêmio final, seja ele qual for.
Misture tudo isso e leve para dentro de uma empresa. Você certamente terá um conflito de ideias e visões de mundo que pode afetar o funcionamento de uma corporação. "Se antes o modelo organizacional era baseado na rigidez hierárquica, hoje os jovens têm mais dificuldade de reconhecer uma liderança e isso pode ser prejudicial para todos", diz Gilberto Guimarães, diretor-geral da BPI do Brasil, consultoria francesa especializada em gestão de carreiras. "Os jovens têm muita pressa para crescer e, como num jogo de videogame, às vezes só falta perguntar qual é o monstro que precisam matar para ser promovidos", afirma Maíra Habimorad, diretora de desenvolvimento da consultoria Companhia de Talentos.
Pesquisa com 26 mil brasileiros mostra que, ao contrário dos executivos da velha geração, os novatos não pretendem ficar muito tempo na mesma empresa. O desafio das empresas é evitar que o embate geracional contamine os negócios. Para a consultora Maíra, ao detectar esse tipo de conflito, a companhia não pode cair na tentação de dizer quem está certo ou errado. "Na verdade, o ideal é conciliar pessoas com formações completamente diferentes e extrair o que cada uma tem de melhor a oferecer, sem anular habilidades nem gerar frustrações", diz ela. Quanto aos jovens, é preciso baixar a elevada expectativa de quem ingressa numa empresa acreditando que, de uma hora para outra, vai se tornar um líder. Do lado dos veteranos, a dificuldade é fazê-los entender que os iniciantes podem representar a renovação que ajudará a empresa a se manter sintonizada com o mundo atual.
Para saber o que pensam os novatos de hoje que serão os executivos de amanhã, a Companhia de Talentos acaba de tirar do forno a edição de 2009 da pesquisa Empresa dos Sonhos dos Jovens. O estudo, que está em sua oitava edição, entrevistou 26 mil brasileiros, 1,3 mil argentinos e 1,5 mil mexicanos. De acordo com o levantamento, 20% escolheram a profissão influenciados por alguma matéria que fazia parte do currículo escolar. Quando a pergunta é sobre o que buscam na profissão, aparecem com destaque respostas como possibilidade de crescimento, estabilidade financeira e bom ambiente de trabalho. A maioria dos entrevistados considera que o tempo adequado para trabalhar na mesma companhia é entre seis e dez anos.Trata-se de uma grande transformação. As gerações anteriores, conforme atestam pesquisas antigas realizadas pela própria Companhia de Talentos, esperavam ficar décadas, às vezes toda a carreira, em uma única empresa. Hoje, os jovens querem circular mais e, se possível, passar por setores diferentes. A pesquisa também quis saber quem estes jovens admiram e identificam como líderes. No Brasil, os mais citados foram o presidente americano Barack Obama, o animador de televisão Roberto Justus e o presidente Lula. Nomes como Steve Jobs, Bill Gates e até Hillary Clinton foram citados pelos entrevistados dos três países, por serem considerados determinados, terem visão estratégica, serem inovadores e carismáticos. "São esses os valores e habilidades que os jovens usam como parâmetro para admirar alguém e não a posição que a pessoa ocupa na vida ou na hierarquia da empresa", resume Maíra.
Fonte: Isto é Dinheiro - ed. 633

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