quarta-feira, 4 de março de 2009

Sábios velhinhos


Belo artigo esse escrito pelo ex-jogador Tostão, do Cruzeiro de BH e da seleção brasileira.

Enviado por Valdenito de Souza, Rio de Janeiro/Rj


Tostão




Uma das coisas mais intrigantes do futebol é o fato das principais regras terem sido estabelecidas há mais de 120 anos. Uns dez ingleses, reunidos diariamente em um pub de Londres, provavelmente bêbados, estabeleceram as 17 regras. Continuam atuais e corretas.

Com frequência, ouço e leio críticas irônicas e preconceituosas aos “velhinhos da International Board”, que decidem os detalhes que possam ou não ser mudados. Os “velhinhos” demoram para mudar, mas quando decidem, costumam acertar em cheio, como a vitória valer três pontos e a
proibição do goleiro segurar a bola com as mãos, quando houver intenção do companheiro de atrasar com os pés.

Com a alegação de que o futebol ficou mais veloz e que os jogadores ocupam mais espaços, muitos pedem mudanças radicais, como acabar com o impedimento, diminuir o número de jogadores, aumentar o tamanho do gramado e a altura das traves. Seria um desastre.

Há mais de dez anos, comentei um jogo pela TV entre os reservas de dois grandes times de São Paulo. A partida, sob a observação dos “velhinhos”, servia de teste para acabar com o impedimento.

Os atacantes corriam para dentro da área e os zagueiros iam atrás. Ficava um enorme vazio no meio-campo. O jogo ficou horrível. Parecia outro esporte. Os “velhinhos”, sabiamente, vetaram.

Na semana passada, queriam adotar um novo cartão, o laranja. O jogador teria que sair por algum tempo para voltar, como acontece em alguns esportes. Se os árbitros, a imprensa e os torcedores não entram em acordo se um atleta mereceu o cartão amarelo ou vermelho, imagine a confusão com mais um cartão. Os “velhinhos”, sabiamente, vetaram.

Queriam ainda passar o intervalo para 20 minutos. Só seria bom para as TVs venderem mais anúncios comerciais. Os “velhinhos”, sabiamente, vetaram.

Isso não significa que nada deva ser mudado. Sou a favor de aumentar o número de substituições, principalmente se houve prorrogação, de punir jogadores e equipes que ultrapassarem um limite de faltas, do uso da tecnologia em pouquíssimas situações especiais, como saber se uma bola entrou no gol ou não, da bola só sair do jogo se tocar no chão.

Nesse último caso, beneficiaria o jogador habilidoso que bate o escanteio de curva, com a bola saindo do campo e caindo dentro da área. Mas se a bola entrasse no gol e saísse sem tocar no chão? Seria gol?

Há muitas controvérsias. Na teoria, seria bom colocar mais um auxiliar atrás de cada gol. Mas tenho dúvidas se não vai haver confusão entre o árbitro e os auxiliares. Uma boa teoria nem sempre é confirmada na prática. Os “velhinhos”, sabiamente, adiaram a decisão. Deixem os
“velhinhos” trabalharem com calma.
Eles sabem o que fazem.

Milagres
Em toda rodada, um atacante entra sozinho dentro da área, pode escolher um canto para fazer o gol e solta um petardo no corpo do goleiro. A bola bate e volta. O goleiro fica assustado. Aí, o narrador e/ou comentarista falam que o goleiro fez uma defesa espetacular, um milagre. Mesmo se quisesse, ele não conseguiria sair da bola.

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