sexta-feira, 27 de março de 2009

José Bezerra do Vale do Catimbau


Esta exposição organizada pelo Instituto do Imaginário do Povo Brasileiro e realizada na Galeria Estação é a primeira exposição de José Bezerra em São Paulo, reunindo cerca de 70 obras. O artista que nunca saiu do sertão inaugura seu trabalho no efervescente circuito das artes, com texto do consagrado crítico Rodrigo Naves.

Quando José Bezerra olha um pedaço de madeira ele já reconhece a imagem que ali se insinua. Sua arte então é esculpir o tronco para que o desenho surja, deixando, porém, uma janela aberta à imaginação. Com a intervenção de um facão, grosa, formão e serrote em árvores caídas, pedaços de troncos e raízes, ele retrata as mais diversas figuras, desde cabeças de gente, carros de boi, animais, tudo que faz parte do seu universo.

“A atuação sumária sobre as madeiras — que muitas vezes têm um facetamento que lembra a pincelada de Cézanne —, a lembrança constante de sua origem vegetal e a intensidade de suas figuras dão às obras a aparência de um movimento incompleto e inacabado, como se aspirassem a uma continuidade que as levasse além de seus contornos”, explica Rodrigo Naves. O crítico é o curador da exposição, fato que por si só aponta como a obra de raiz pode se inserir no pensamento erudito da arte contemporânea.

José Bezerra (1952, Buíque, PE) vive no Vale do Catimbau, no sertão de Pernambuco, região, segundo pesquisadores e arqueólogos, considerada o segundo maior sítio arqueológico do Brasil, tanto pela quantidade de pinturas e inscrições quanto pelo valor histórico. É respirando esta atmosfera que o artista produz suas esculturas, exibindo-as ao redor de sua casa, uma aldeia de seres em madeira que encantam os viajantes que por lá passam, entre os quais Zé Celso Martinez. O artista faz questão de sublinhar o papel da imaginação em sua arte. “Assim, a importância que atribui ao ato de ver imagens em troncos e galhos que acha pelos arredores de seu sítio encontra na imaginação um elemento que afasta suas peças de um realismo singelo, de quem transpõe para as nuvens do céu os devaneios que lhe vão pela cabeça”, escreve Naves.

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