quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Para reflexão

Durante minha vida profissional, eu topei com algumas figuras cujo
sucesso surpreende muita gente. Figuras sem um vistoso currículo
acadêmico, sem um grande diferencial técnico, sem muito networking ou
marketing pessoal.
Figuras como o Raul.
Eu conheço o Raul desde os tempos da faculdade. Na época, nós tínhamos
um colega de classe, o Pena, que era um gênio.
Na hora de fazer um trabalho em grupo, todos nós queríamos cair no grupo
do Pena, porque o Pena fazia tudo sozinho.
Ele escolhia o tema, pesquisava os livros, redigia muito bem e ainda
desenhava a capa do trabalho - com tinta nanquim.

Já o Raul nem dava palpite.

Ficava ali num canto, dizendo que seu papel no grupo era um só, apoiar o
Pena. Qualquer coisa que o Pena precisasse o Raul já estava
providenciando, antes que o Pena concluísse a frase. Deu no que deu.
O Pena se formou em primeiro lugar na nossa turma. E o resto de nós
passou meio na carona do Pena - que, além de nos dar uma colher de chá
nos trabalhos, ainda permitia que a gente colasse dele nas provas. No
dia da formatura, o diretor da escola chamou o Pena de "paradigma do
estudante que enobrece esta instituição de ensino". E o Raul ali, na
terceira fila, só aplaudindo.
Dez anos depois, o Pena era a estrela da área de planejamento de uma
multinacional. Brilhante como sempre, ele fazia admiráveis projeções
estratégicas de cinco e dez anos. E quem era o chefe do Pena? O Raul.

E como é que o Raul tinha conseguido chegar àquela posição? Ninguém na
empresa sabia explicar direito. O Raul vivia repetindo que tinha
subordinados melhores do que ele, e ninguém ali parecia discordar de tal
afirmação.

Além disso, o Raul continuava a fazer o que fazia na escola, ele apoiava.
Alguém tinha um problema? Era só falar com o Raul que o Raul dava um jeito.
Meu último contato com o Raul foi há um ano. Ele havia sido transferido
para Miami, onde fica a sede da empresa.

Quando conversou comigo, o Raul disse que havia ficado surpreso com o
convite.
Porque, ali na matriz, o mais burrinho já tinha sido astronauta. E eu
perguntei ao Raul qual era a função dele. Pergunta inócua, porque eu já
sabia a resposta.

O Raul apoiava direcionava daqui, facilitava dali, essas coisas que, na
teoria, ninguém precisaria mandar um brasileiro até Miami para fazer.
Foi quando, num evento em São Paulo, eu conheci o Vice-presidente de
recursos humanos da empresa do Raul. E ele me contou que o Raul tinha
uma habilidade de valor inestimável:... ele entendia de gente.
Entendia tanto que não se preocupava em ficar à sombra dos próprios
subordinados para fazer com que eles se sentissem melhor, e fossem mais
produtivos. E, para me explicar o Raul, o vice-presidente citou Samuel
Butler, que eu não sei ao certo quem foi, mas que tem uma frase ótima:
"Qualquer tolo pode pintar um quadro, mas só um gênio consegue vendê-lo".
Essa era a habilidade aparentemente simples que o Raul tinha, de
facilitar as relações entre as pessoas. Perto do Raul, todo comprador
normal se sentia um expert, e todo pintor comum, um gênio."
"Há grandes Homens que fazem com que todos se sintam pequenos. Mas, o
verdadeiro Grande Homem é aquele que faz com que todos se sintam Grandes."

Max Gehringer

Enviado por Clarissa Pessoa Borges, João Pessoa/Pb

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