sábado, 8 de agosto de 2009

Longevidade

O Japão, país cuja população envelhece mais rapidamente no mundo, economiza na festa anual que homenageia os centenários

Renata Moraes e Nathália Butti
Toru Hanai/Reuters
Revista VEJA











CORTE DE GASTOS

Japonesa na festa dos que fazem 100 anos e a taça de saquê (acima): prêmio com menos prata


Todo ano o governo japonês homenageia os cidadãos que completam 100 anos de idade. Em setembro, eles são convocados para o Hakusai-Shosho, a premiação dos longevos, na qual recebem um troféu – uma taça de prata para saquê. Em 1963, quando a festa foi realizada pela primeira vez, 153 cidadãos tornaram-se centenários. Neste ano, nada menos de 20 000 japoneses estão habilitados à homenagem. O governo está preocupado com os gastos que a celebração implicará e já anunciou que vai reduzir o tamanho da taça. Ela será feita com 63 gramas de prata, 31 a menos do que antes.
A prosaica questão da taça de saquê mostra como o aumento do número de idosos se tornou uma questão central na sociedade japonesa. O Japão é o país cuja população envelhece a ritmo mais acelerado no mundo. Hoje, as pessoas com mais de 65 anos representam 23% da população e, em duas décadas, serão um terço. A expectativa de vida das mulheres, de 86 anos, é a maior do mundo. A dos homens, de 79 anos, fica atrás apenas da da Islândia e de Hong Kong. Há hoje 37 000 japoneses com 100 anos ou mais. A proporção de idosos no Japão dobrou entre 1980 e 2005. Na França, isso levou 115 anos para ocorrer, e, na Alemanha, quarenta anos. A explicação para isso, além do aumento da expectativa de vida, está na acentuada queda na taxa de fecundidade das japonesas. O número de filhos por mulher caiu de 2,05 no início dos anos 70 para 1,34 hoje. Quando a taxa de fecundidade de um país cai abaixo do patamar de 2,1, a população cresce em ritmo cada vez mais lento e, depois de duas ou três décadas, passa a diminuir de tamanho.
Ao contrário do que costuma ocorrer nos países ocidentais, no Japão a maioria das mulheres para de trabalhar depois de ter o primeiro filho. Como elas estão cada vez mais inseridas no mercado de trabalho, acabam por adiar a maternidade. Junte-se a isso a estagnação econômica que o país vive há mais de uma década e o resultado são casamentos tardios e com menos crianças. Nas últimas três décadas, o número de japonesas solteiras entre 30 e 34 anos subiu de 7% para 32% e o de homens solteiros, de 14% para 47%. Disse a VEJA o economista Michael Smitka, diretor do Centro de Estudos do Leste Asiático da Universidade Washington and Lee: "O governo japonês não tem feito muita coisa para aumentar a natalidade no país. Equilibrar trabalho e família continua difícil para as mulheres, uma lei de paridade entre os sexos no mercado de trabalho não teve resultados e não há creches suficientes". As festas de premiação dos longevos exigirão cada vez mais taças de prata.




Fonte: Revista VEJA

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