domingo, 8 de junho de 2008

Ser Pessoa na Família

Prezados amigos,

Tenham um bom fim de semana. E reservem alguns momentos para refletir sobre a mensagem anexa.

Obrigado!

---Carlos Almeida

54. Ser pessoa na família

Se cada pessoa é uma personalidade própria, que se dirá da pessoa na família? Não ficaria ela restringida pelos desejos e necessidades dos outros familiares? E que dizer do trabalho de alguém, dentro e fora do grupo familiar? Para responder a estas perguntas é preciso que se leve em conta o caminho que leva da liberdade à responsabilidade – que é também o caminho de toda pessoa amadurecida.
Pode a pessoa ligada à comunidade familiar ser autônoma? A resposta está intimamente relacionada com a dimensão espiritual do ser humano: a dimensão da liberdade – aquela que nos permite tomar posição frente aos condicionamentos e dependências, tratá-los de acordo com o valor que lhes atribuímos. A pessoa humana é autônoma em relação a suas próprias ações e atitudes. A autonomia de determinado membro da família não é afetada pelas ações dos outros membros da família, nem delas depende. Ninguém pode determinar como outra pessoa irá se comportar em relação a ele, mas, graças à sua dimensão espiritual, todo membro da família toma posição em relação ao comportamento do outro: julga-o, e então decide que atitude tomar.
O que muitas vezes põe em risco a autonomia são os automatismos de pensamento e de conduta, baseados em hipóteses que talvez contem com o apoio dos nossos semelhantes, mas que carecem de fundamento: Hipóteses como as seguintes: “Quem se sente frustrado não pode ser amável para com os outros”, ou: “Os outros são culpados por eu ser assim”, ou ainda: “Se você não mudar, eu também não mudo”. Hipóteses como estas são claramente prejudiciais à família, e prejudiciais também à personalidade, porque solapam a autonomia da pessoa, e com isto sua dignidade.
Mas que dizer dos desejos individuais, e particularmente dos desejos na família? Aqui nós passamos da questão da liberdade para a questão de como nos orientarmos livremente. Que fazer se no domingo os filhos querem fazer uma excursão, a mãe insiste em finalmente arrumar a dispensa, e o pai tem que preparar os trabalhos da semana? Quando nos ocupamos com os “desejos na família”, não podemos esquecer que na disputa dos desejos existe um concorrente insubornável: a “exigência da situação”.
Suponhamos que o casal tenha voltado das férias para casa. O marido deseja revelar as fotos das férias, e a mulher deseja visitar sua amiga para contar as experiências por que passou. E admitamos ainda que cada um deseje ser acompanhado pelo outro no seu propósito. Mas, ao chegarem em casa, eles descobrem que as frutas amadureceram no quintal e precisam ser colhidas de imediato, para não se perderem. Estudos científicos comprovaram que os acertos e decisões comuns são tanto mais fáceis de ser tomados quanto maior a preferência que os membros da família derem à exigência da situação, deixando seus próprios desejos em segundo plano.
A solução ideal, no presente caso, seria que o casal se ocupasse de imediato com a colheita das frutas, e em seguida com as fotos e com a visita, uma coisa de cada vez. Isto significa que cada um concede ao outro a realização do que o outro deseja, sem exercer pressão sobre ele quanto ao seu próprio desejo. Se um insistir em satisfazer seu próprio desejo enquanto o outro se dedica sozinho à exigência da situação, logo surgirá em ambos uma má consciência, um certo rancor e mal-estar. Pior ainda se nenhum dos dois se ocupar com a exigência da situação, pois então o problema se tornaria ainda mais grave. Nesse caso nós teríamos apenas o desejo de um contra o desejo do outro, e cada um haveria de lutar para impor seu próprio desejo, rebaixando o do outro.
O que mais importa não é saber qual o desejo do parceiro (ou dos filhos), mas sim o que a vida espera de cada um. Não impor os próprios desejos, mas fazer o que tem sentido. Os desejos próprios e alheios não devem ser ignorados, mas a vez deles chegará quando a exigência da situação o permitir. A satisfação dos desejos não deve tornar-se objeto de disputa, mas deve ser concedida ao outro, contanto que não se oponha ao sentido.
Ligada a isto está a questão das tarefas na família. Quem assume uma tarefa, assume também a responsabilidade pela tarefa que lhe foi confiada. A dedicação a uma tarefa é um dos fatores mais importantes para manter a vitalidade e estimular as forças. Não existe quase nada capaz de despertar tamanha energia quanto uma tarefa que se tenha abraçado. Um cardiologista americano descobriu que as pessoas que se dedicam a tarefas em favor dos outros esquecem-se cada vez mais de si próprias e de suas preocupações, com isso passando a experimentar menor pressão arterial, batimentos mais tranqüilos do coração e outras alterações positivas da saúde. Para ele, “o altruísmo tem o mesmo efeito que a ioga, a espiritualidade e a meditação”.
Entre as tarefas, o trabalho assumido pelos membros da família possui duplo valor: serve para o resultado que dele se obtém, e serve para o bem da família, que se enriquece com seus frutos. O trabalho deixa de ser apenas auto-sustento, apenas campo da atividade individual, e amplia-se para a realização de uma tarefa de grande importância na família.
A família, em princípio, é o lugar onde o amor é possível na prática, onde a vida se realiza, onde se vive para alguém, onde se vive um para o outro. Isto constrói a pessoa e mantém suas forças, como ficou demonstrado nas pesquisas.
Família, a partir do seu sentido primordial, é segurança, segurança incondicional enquanto estiver intacta. Família é proteção para a vida e proteção para uma morte digna. Família é compreensão com a juventude e dedicação ao idoso. Família é saber que se tem um lugar seguro neste mundo onde se é sempre benquisto, quer seja-se esmoler ou milionário. Muitas coisas podem ser compradas com dinheiro e poder, mas segurança na família não pertence a este número.
Fonte: E. Lukas, Sehnsucht nach Sinn (Sua vida tem sentido)








O Senhor Deus fez cair um sono profundo sobre o homem e ele adormeceu. Tirou-lhe uma das costelas e fechou o lugar com carne. Depois, da costela tirada do homem, o Senhor Deus formou a mulher e apresentou ao homem. E o homem exclamou:
“Esta, sim, é osso dos meus ossos
e carne da minha carne!
Chamar-se-á ‘mulher’ [ichá]
porque foi tirada do homem [ich]”.
Gênesis 2,21-23

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