terça-feira, 26 de maio de 2009

A Vida


Era criança quando, pela primeira vez, entrei em um avião.
A ansiedade de voar era enorme.

Eu queria me sentar ao lado da janela de qualquer jeito, acompanhar o vôo
desde o primeiro momento e sentir o avião correndo na pista cada vez mais rápido até a decolagem.

Ao olhar pela janela via, sem palavras,
o avião rompendo as nuvens, chegando ao céu azul.
Tudo era novidade e fantasia..

Cresci, me formei, e comecei a trabalhar.
No meu trabalho, desde o início, voar era uma necessidade constante.

As reuniões em outras cidades e a correria me obrigavam, às vezes,
a estar em dois lugares num mesmo dia.

No início pedia sempre poltronas ao lado da janela,
e, ainda com olhos de menino, fitava as nuvens,
curtia a viagem, e nem me incomodava de esperar um pouco
mais para sair do avião, pegar a bagagem, coisa e tal.

O tempo foi passando, a correria aumentando,
e já não fazia questão de me sentar à janela, nem mesmo de ver as nuvens,
o sol, as cidades abaixo, o mar ou qualquer paisagem que fosse.

Perdi o encanto. Pensava somente em chegar e sair,
me acomodar rápido e sair rápido.

As poltronas do corredor agora eram exigência .
Mais fáceis para sair sem ter que esperar ninguém,
sempre e sempre preocupado com a hora, com o compromisso,
com tudo, menos com a viagem, com a paisagem, comigo mesmo.

Por um desses maravilhosos 'acasos' do destino,
estava eu louco para voltar de São Paulo numa tarde chuvosa,
precisando chegar em Curitiba o mais rápido possível.

O vôo estava lotado e o único lugar disponível era uma janela, na última poltrona.
Sem pensar concordei de imediato,
peguei meu bilhete e fui para o embarque.

Embarquei no avião, me acomodei na poltrona indicada: a janela.
Janela que há muito eu não via,
ou melhor, pela qual já não me preocupava em olhar.

E, num rompante, assim que o avião decolou, lembrei-me da primeira vez que voara.
Senti novamente e estranhamente aquela ansiedade, aquele frio na barriga.
Olhava o avião rompendo as nuvens escuras até que, tendo passado pela chuva, apareceu o céu.

Era de um azul tão lindo como jamais tinha visto.
E também o sol, que brilhava como se tivesse acabado de nascer.

Naquele instante, em que voltei a ser criança,
percebi que estava deixando de viver um pouco a cada viagem
em que desprezava aquela vista.

Pensei comigo mesmo: será que em relação às outras coisas da minha vida
eu também não havia deixado de me sentar à janela,
como, por exemplo, olhar pela janela das minhas amizades,
do meu casamento, do meu trabalho e convívio pessoal?

Creio que aos poucos, e mesmo sem perceber,
deixamos de olhar pela janela da nossa vida.

A vida também é uma viagem e se não nos sentarmos à janela,
perdemos o que há de melhor: as paisagens,
que são nossos amores, alegrias, tristezas, enfim, tudo o que nos mantém vivos.

Se viajarmos somente na poltrona do corredor, com pressa de chegar,
sabe-se lá aonde, perderemos a oportunidade de apreciar as belezas que a viagem nos oferece.

Se você também está num ritmo acelerado,
pedindo sempre poltronas do corredor,
para embarcar e desembarcar rápido e 'ganhar tempo',
pare um pouco e reflita sobre aonde você quer chegar.
A aeronave da nossa existência voa célere e a duração
da viagem não é anunciada pelo comandante.
Não sabemos quanto tempo ainda nos resta.
Por essa razão, vale a pena sentar próximo da janela para não perder nenhum detalhe.
Afinal, a vida, a felicidade e a paz são caminhos e não destinos'.




Alexandre Garcia



Mensagem enviada por Mércia Dias

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