sexta-feira, 8 de maio de 2009

Ai, que raiva!





Parece difícil, mas com um pouquinho de reflexão, treino e equilíbrio é possível domar sua fera interior e usá-la como aliada para melhorar suas relações


por Patrícia Affonso


Raiva: você já deve tê-la sentido. A maioria das pessoas prefere fazer vista grossa, fingir que nunca se deparou com ela, mas, na realidade, quando menos se espera, a calmaria cotidiana é interrompida por um incômodo que começa manso e aos poucos ganha espaço, fazendo um verdadeiro alarde interior.
Alguns se exaltam, sentem o sangue ferver e o coração bater forte e acelerado, como se fosse escapar de dentro do peito. Outros reagem de forma mais pacífica e antes que as palavras ganhem vida própria e saiam em defesa, preferem engoli-las a seco e permanecer com a inconveniente sensação de nó na garganta. Pois é, seja qual for o motivo é difícil prever ou ensaiar como responder à raiva, emoção tão conhecida e ao mesmo tempo evitada pelos seres humanos. "Principalmente devido à influência religiosa, nossa sociedade tachou alguns sentimentos como feios e impróprios. Por isso, muitas pessoas têm vergonha de assumirem que sentem raiva, aliás, um erro, pois é uma emoção natural à condição humana", afirma a psicóloga clínica Dora Lorch, de São Paulo.
Tudo o que se sente, seja bom ou ruim, tem um propósito na vida e está em contato com aspectos importantes de si mesmo. Com a raiva é igual. Por isso, melhor do que ignorá-la ou extravasá-la com uma intensidade devastadora é, antes de tudo, entender seus motivos. Só assim é possível criar uma estratégia para acalmar a fera que existe dentro de você e caminhar rumo a uma vida mais serena.


Saber o motivo da fúria é importante para poder domá-la


As causas da tempestade
Cada pessoa é um universo diferente, com gostos, normas e restrições particulares. Por isso, não dá para generalizar os motivos que provocam a ira. Sabe-se que ela funciona como uma espécie de alerta - um sistema de defesa mediante a algo que rompe as barreiras de preservação, sejam morais, emocionais ou físicas.
E aí entram uma infinidade de razões, tais como aquela injustiça cometida pelo chefe, o comportamento invasivo da sogra, o descaso do namorado... Junto com o desconforto vem também a cobrança: quais mudanças serão feitas dali para frente, a fim de solucionar o problema? E é exatamente essa a principal origem do medo de se confrontar com tal emoção. Tem-se a raiva porque, muitas vezes, ela implica em rompimentos, mostrando que determinadas situações são intoleráveis.
Daí a necessidade de mudar de postura, negociar a mudança do comportamento de alguém ou ainda, quando essas alternativas não forem eficazes, finalizar a relação. "Além disso, há a frustração, pois a raiva frequentemente aparece quando nossa expectativa sobre algo não se cumpre", comenta o psicólogo Nichan Dichtcekenian, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
As duas faces da moeda
Ainda que a sensação de raiva não seja das melhores experiências que alguém pode desfrutar, ela não deve ser vista como totalmente negativa. Afinal, se por um lado enraivecer-se causa sofrimento, por outro promove o descontentamento - um passo determinante na busca de soluções. "Mais do que um mecanismo de defesa, a raiva é uma ferramenta de transformação daquilo que nos desagrada. Ela nos abastece de energia para nos movermos na direção certa", opina Dora.
E para aproveitar esse lado criativo do sentimento é preciso saber domá-lo, dosar sua proporção. Sair por aí esbravejando nunca ajudou ninguém. "É preciso lembrar que quando agimos com agressividade, consequências virão", diz Dichtcekenian.
Sufocar o sentimento e guardá-lo para si também não é boa saída. "Causa mal-estar emocional e, a longo prazo, até físico [veja o box]. Além disso, tem o efeito de uma bomba-relógio. Você vai guardando, guardando e quando percebe estourou diante de um motivo pequeno, pouco merecedor de tanto estresse", completa o psicólogo.
Fonte - Revista Vida Natural.

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