terça-feira, 28 de julho de 2009

Luiz Gonzaga - Obra musical foi comparada à literatura dos romancistas dos anos 30




Cláudia Lessa, do Jornal A TARDE Salvador


Cronista do cotidiano nordestino, dos mais importantes artistas brasileiros e dos mais biografados (são quase 20 livros publicados no país sobre sua vida e obra) e discutido em teses acadêmicas, Luiz Gonzaga foi muito mais que um famoso sanfoneiro.Gonzagão participou da construção e representação de um imaginário sobre o Nordeste, como destaca Nildecy de Miranda, autora da dissertação de mestrado Luiz Gonzaga, um contador do Nordeste. “Ele conseguiu transplantar a cultura do sertão com muita teatralidade”.
Entre outras questões, a pesquisadora fez um paralelo entre a obra de Luiz Gonzaga e a dos escritores dos anos 30. A sua pesquisa, diz, se apresentou como um desafio, “principalmente porque ele não foi o letrista da maioria das composições que gravou, bem como pela fusão de elementos distintos: o oral e o popular, a música e a letra”.
“A força discursiva que o artista imprimiu à sua arte decorre de recursos narrativos tão eficazes quanto os que estão presente no romance da literatura oficial dos anos 30”, ressalta. No seu trabalho, Nildecy conta que comparou trechos de O Quinze (Rachel de Queiroz) e de Vidas Secas (Graciliamos Ramos) com A Triste Partida (Patativa do Assaré) e Asa Branca (Luiz Gonzagão/Humberto Teixeira).
"Essa comparação nos permite observar que a distância entre os lugares de enunciação, definidos, no primeiro caso, pela perspectiva do escritor letrado, em contraste com o ponto de vista do artista popular, não impede a semelhança na forma de organização de alguns elementos culturais e sociais por um e por outro universo”, analisa.
O legado deixado por Gonzagão – em parte preservado no Museu do Gonzagão, em Exu-PE, e no Memorial Luiz Gonzaga, Recife – “se constitui numa expressão poética fortemente ligada à memória do sertão nordestino”, enfatiza Nildecy. A seca, no caso, ”é o grande elemento catalisador dos discursos sobre o sertão“.

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