sábado, 19 de julho de 2008

57. Sentido no sofrimento?

Prezados amigos,
Queiram ler no anexo a mensagem número 57. Um bom domingo a todos.
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Carlos Almeida19-07-2008


57. Sentido no sofrimento?

Nos campos de concentração da Segunda Guerra Mundial, para onde foi levado pelos nazistas, Viktor Frankl teve contato com todos os abismos do sofrimento. Ali ele viu confirmada sua convicção de que, não obstante todo sofrimento, a vida tem sentido. E formulou assim sua conclusão: “O sofrimento torna o homem clarividente, e o mundo transparente”. Procuremos acompanhá-lo.
Existem duas formas principais de sofrimento: 1) o que nos é infligido por nossos semelhantes, quando nos atacam, humilham, ofendem, zombam, exploram e rejeitam; e 2) o sofrimento infligido pelo destino cego, quando inesperadamente somos atingidos por uma grave perda: de saúde, de força, de segurança, de renda, de familiares .... Para Frankl, a visão interior de uma pessoa se esclarece quando esta pessoa tiver experimentado uma ofensa ou sofrido uma desatenção. E para quem foi atingido por um grave golpe do destino, a vida se torna mais clara e compreensível. Elisabeth Lukas apresenta para isso uma experiência pessoal:
Uma pessoa que para mim era importante de repente passou a demonstrar-me uma hostilidade que parecia não ter explicação. Todas as tentativas de esclarecer a situação deram em nada. Para mim foi muito doloroso. De início não senti nenhuma “clarividência”; pelo contrário, para mim tudo se tornou obscuro. Comecei a me interrogar: “Por quê” isto aconteceu?
Mas esta é uma pergunta que não leva a lugar algum. Não compete a nós fazer perguntas à vida: “Por que minha filha é deficiente? Por que meu marido é alcoólatra? Por que minha mulher me traiu? Por que Fulano me odeia?” Ir atrás de um porquê sempre encontra resposta, mas quase nunca ajuda. Viktor Frankl, contrariando o pensamento tradicional da psicanálise, diz: Quem faz perguntas é a vida, e o que cabe ao homem é responder. A vida interroga alguém: “Tua filha é deficiente. Que farás agora?”, ou: “Teu marido é um beberrão. Que vais fazer?” E ainda: “Tua mulher te traiu. Como irás enfrentar esta situação?”, e a outro: “Ficaste doente. Que atitude vais tomar?” Não nos é dado penetrar no “porquê”, mas nos é dado escolher livremente o “por-isso”. Enquanto um responde: “Minha filha é deficiente, por isso não quero mais saber dela”, outro responderá: “Minha filha é deficiente, por isso vou dedicar-lhe toda minha atenção”. E enquanto um responde: “Eu fiquei doente, por isso não tenho mais alegria na vida”, outro dirá: “Eu fiquei doente, por isso vou aproveitar ao máximo cada minuto da minha vida”. Não podemos escolher as perguntas que a vida nos faz, mas as respostas que damos dão testemunho de nossa atitude espiritual.
No caso daquela pessoa que passou a demonstrar-me hostilidade, tudo mudou quando passei a entender-me como a interrogada. Teve início, então, um processo de amadurecimento, ao qual jamais eu desejaria renunciar. Comecei a refletir sobre o “amor ao inimigo”, que até então fora para mim bastante estranho. Eu conhecia bem o “amor ao próximo”, mas o “amor ao inimigo” ainda precisava ser decifrado. E naqueles dias de tristeza eu o encontrei. Descobri a força do perdão. Consegui erguer-me à minha plena grandeza. Aprendi a suportar a dor com coragem, descobri que existem coisas em mim que ninguém pode destruir.
Jamais desejaria renunciar ao processo de amadurecimento por que passei. O sofrimento infligido por outras pessoas pode ferir-nos, mas só enquanto em nosso íntimo houver escuridão. Logo que em nosso íntimo haja luz, instala-se a clarividência, nós percebemos como os que nos ferem são eles próprios feridos. Raiva, ira ou tristeza se transformam em participação e compaixão.”
Ela, pelo menos, tornou-se clarividente por meio do sofrimento!
Consideremos agora a outra forma de sofrimento, um grave golpe do destino. A própria vida está ameaçada. Mesmo quando o golpe consiste na perda de um parente próximo, ou na perda do emprego, nós não escapamos à ameaça existencial. Nos interrogamos como será possível viver sem a saúde, sem este parente, sem este emprego. Por mais leve que seja, o golpe representa um contato com a própria morte.
Ontem ainda se estava cheio de planos, mas de repente os planos foram por água abaixo. O que era importante, de repente perdeu a importância; o que ontem parecia merecer nossa atenção, hoje perdeu todo interesse. O mundo já começa a ficar transparente, a não ser que queiramos fechar os olhos e não perceber a verdade. A pessoa lembra-se que a vida nos é dada por empréstimo, mesmo que durante anos ela nos tenha parecido intocável. Lembra que a vida é o bem mais precioso. Começa a se interrogar se não vale a pena estar vivo, mesmo como um amputado, como um paraplégico preso ao leito ou à cadeira de rodas. Vemos que os valores precisam ser reorganizados e redefinidos. O destino obriga-nos a refletir.
E mais uma coisa: a gente percebe que está só – só com os próprios pensamentos, com as próprias angústias e dores. Para quem tem a coragem de olhar a verdade nos olhos, o mundo já se tornou por demais transparente para que ele se engane a si próprio. Bem no íntimo ele sabe qual é sua verdadeira situação. E surge a pergunta: O que é mesmo que é essencial?
Vez por outra, diz E. Lukas, eu falo aos participantes dos meus grupos sobre o gatinho que vivia em nossa casa e com quem muitas vezes nós gostávamos de brincar. Um dia nós recebemos a visita de um casal conhecido, e este trouxe consigo um enorme buldogue, cujo divertimento preferido consistia em caçar gatos. Por isso, enquanto os visitantes se encontravam conosco, nós deixamos o gatinho trancado num quarto, onde ele ficou a tarde inteira miando e reclamando. O gatinho não conseguia entender por que havia sido brutalmente aprisionado, e nós não podíamos fazer com que ele compreendesse o “sentido do seu sofrimento”, que consistia em evitar que ele fosse estrangulado. Não podíamos explicar-lhe, não porque este sentido não existisse, mas sim porque, por mais claras que fossem as nossas palavras, ele não as teria entendido! Então eu pergunto às pessoas se elas conseguem imaginar que também nós, seres humanos, vez por outra nos encontramos na situação do gatinho, arranhando uma porta fechada, sem entender a razão de estarmos excluídos do lado luminoso da vida. Não será que também no nosso caso existe um sentido oculto mais elevado, inacessível à nossa compreensão?
Geralmente a parábola é bem aceita, e muitas vezes os participantes acrescentam exemplos de sua própria experiência, onde se vê que um fato de sua vida, de início doloroso, mais tarde mostrou-se possuidor de um sentido que naquele momento eles não tinham condições de perceber. Estas considerações ajudam-nos a carregar corajosamente o minúsculo fardo que de qualquer modo cada um de nós é forçado a carregar.
Fonte: Elisabeth Lukas, Sehnsucht nach Sinn [Sua vida tem sentido]





Um dos criminosos crucificados insultava-o, dizendo: Não és tu o Messias? Salva-te, pois, a ti mesmo e a nós. O outro, porém, tomando a palavra, repreendia-o dizendo: Nem tu, que estás sofrendo o mesmo suplício, temes a Deus? Nós padecemos com justiça, porque recebemos o castigo merecido por nossas obras, enquanto este nada fez de mal. E falou: Jesus, lembra-te de mim quando chegares ao teu Reino. E Jesus lhe respondeu: Em verdade te digo, ainda hoje estarás comigo no paraíso.
Evangelho de Lucas 23,39-43

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