sábado, 12 de julho de 2008

56. Praticar a escuta ativa

Prezados amigos,
Vejam por favor a mensagem número 56 no anexo.
Obrigado
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Carlos Almeida


Uma das prerrogativas do ser humano é a comunicação oral. Nós somos capazes de transmitir a outros nossos conhecimentos, como também de adquirir conhecimentos transmitidos por outros. Daí a importância e riqueza do diálogo. Mas não é fácil se chegar ao verdadeiro diálogo, por causa da tendência que manifestamos de impor nossos próprios conhecimentos e de nos fecharmos ao que nos pode ser transmitido por nosso parceiro. A seguir, as considerações de Elisabeth Lukas [Lehrbuch der Logotherapie (Manual da Logoterapia)] sobre essa questão.


A escuta ativa é um ato de autotranscendência. Não se trata de deixar passar sobre si passivamente uma enxurrada de palavras, mas sim de se estar intimamente junto ao outro, com um interesse benevolente por sua pessoa e pela situação que está sendo descrita. Em toda comunicação entre pessoas é de extrema importância que o interlocutor seja entendido. Entender é até mais importante do que ser entendido, ouvir mais do que falar. Quando alguém compreende o outro – mesmo que seja um adversário ou um concorrente –, suas palavras não deixam de atingi-lo. Infelizmente a maioria das pessoas estão atrás de ser compreendidas, e não têm muita compreensão para os outros. Cerca de 50% de todos os desentendimentos devem-se à incompreensão mútua – o que entendemos, nós julgamos com mais justiça e compreensão.
Por isso os que procuram conselhos necessitam de um mínimo de treinamento na escuta ativa. Procuremos ver o que intensifica e o que dificulta a escuta ativa:

1. O ouvir, o escutar, exige tranqüilidade interior, não se deixar distrair por estímulos externos, estar aberto para o interesse alheio, e dispor de bastante tempo. O tempo empregado em escutar é um verdadeiro presente dado ao outro, um presente que sinaliza: “Veja, você tem valor para mim!”

2. Quem costuma expor-se a vários estímulos ao mesmo tempo, dificilmente conseguirá escutar, porque sua atenção está dividida. Não há nenhuma necessidade de alguém ver televisão enquanto passa roupa, de ouvir rock enquanto faz os deveres escolares, nem de ler jornal enquanto toma café. Viver o presente é estar por inteiro naquilo que se faz.

3. Quem não suporta uma pausa de silêncio em sua vida, dificilmente será capaz de escutar, porque sua atenção está sempre voltada para fora. Mas ninguém tem necessidade de ficar nervoso por ter que esperar, de sempre ficar agitado na fila do caixa, de pôr fones de ouvido na parada de ônibus, de estar constantemente à procura de distração. A concentração é um valor elevado, e só existe onde existe silêncio.

4. Aquele que só quer falar de si o tempo todo, contar as experiências que teve, mostrar que sabe muita coisa, etc., este não sabe escutar, pois sua atenção está voltada unicamente para si próprio. Está preso demais a seus próprios interesses, é por demais indiferente aos interesses alheios – um processo que automaticamente irá castigá-lo com o isolamento.
Mais uma dica: Não somente a boa educação, mas também a escuta ativa proíbe interromper-se a palavra do outro. Isto, com muita freqüência, revela falta de educação. Alguém, por exemplo, está contando um episódio sobre sua avó. Em meio à conversa, o ouvinte corta o fio da história e diz: “Minha avó era exatamente o contrário. Ela ...”, e ele próprio toma as rédeas da conversa. Quando chegar ao fim, o primeiro narrador não há de poder nem de querer retomar o tema interrompido, ele prefere desistir da mensagem que desejava transmitir. E com o tempo vai se tornando cada vez mais lacônico ...

A escuta ativa, na verdade, exige uma contrapartida de autotranscendência: a brevidade de quem fala. Quem fala demais sobre assuntos de pouca importância, quem a todo momento toma a palavra, ou quem se aproveita de qualquer dica para voltar ao seu “tema predileto”, está criando dificuldades desnecessárias para quem o escuta. “Temas prediletos” são assuntos não resolvidos, de que a pessoa não consegue libertar-se. Mas eles não podem ser resolvidos sendo indiretamente introduzidos em todas as conversas, mas unicamente com uma sincera discussão interior com a própria consciência, sem incomodar o outro.



Ouve, Israel! O Senhor nosso Deus é um só. Amarás o Senhor teu Deus com todo o coração, com toda a alma, com todas as forças, e trarás bem dentro do coração todas estas palavras que hoje te digo. Tu as inculcarás a teus filhos e delas falarás quando estiveres sentado em casa e quando estiveres andando pelos caminhos; quando te deitares e quando te levantares.
Deuteronômio 6,1-7

Um comentário:

Sérgio Almeida Franco disse...

Muitíssimo interessante esse artigo enviado por Tio Carlos. Não é à toa que temos dois ouvidos e uma boca. Há muita gente que pensa o contrário.

Sérgio