domingo, 3 de fevereiro de 2008

Meus oito anos

Casimiro de Abreu

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é - lago sereno,
O céu - um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado,
A vida - um hino d'amor!

Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!

Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minhã irmã!

Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
- Pés descalços, braços nus
- Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!

Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!

................................
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
- Que amor, que sonhos, que flores
, Naquelas tardes fagueiras
Á sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!

Enviado por Beni Alcântara, Fortaleza/Ce


Casimiro José Marques de Abreu (Barra de São João, 4 de janeiro de 1839Nova Friburgo, 18 de outubro de 1860) foi um poeta brasileiro da segunda geração romântica.
Filho de um abastado comerciante e fazendeiro português, e de Luísa Joaquina das Neves, uma fazendeira viúva. A localidade onde nasceu, Barra de São João, é hoje distrito do município que leva seu nome, e também chamada "Casimirana", em sua homenagem. Recebeu apenas a instrução primária, no Instituto Freeze, em Nova Friburgo, então cidade de maior porte da região serrana do estado do Rio de Janeiro, e para onde convergiam, à época, os adolescentes induzidos pelos pais a se aplicarem aos estudos. Casimiro, no entanto, só cursou naquela cidade a instrução primária, dos onze aos treze anos.
Aos treze anos transferiu-se para o Rio de Janeiro para trabalhar com o pai no comércio. Com ele, embarcou para Portugal em 1853, onde entrou em contato com o meio intelectual e escreveu a maior parte de sua obra. O seu sentimento nativista e a saudades da família escreve: "estando a minha casa à hora da refeição, pareceu-me escutar risadas infantis da minha mana pequena. As lágrimas brotavam e fiz os primeiros versos de minha vida, que teve o título de Ave Maria".
Em Lisboa, foi representado seu drama Camões e o Jaú em 1856, que foi publicado logo depois.

Um comentário:

Anônimo disse...

Querida Beni:
Que bem me fez reler estes versos tão lindos!...
Abraços da Déa.