quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Memória também precisa de acompanhamento e atenção em longo prazo

Falhas na memória podem acontecer em qualquer idade. Nos indivíduos mais jovens, esse tipo de problema pode ser indício de diversas condições, como estresse, depressão, distúrbios metabólicos (por exemplo, doenças da tireoide ou quadro de diabetes fora do controle) e também efeitos colaterais de medicamentos. Pessoas idosas veem a memória falhar com mais frequência, mas não necessariamente isso indica o início da demência. O Check-up da Memória, entretanto, serve para que essas dúvidas fiquem mais claras e para determinar, de maneira eficaz, quando os problemas da memória podem ou não ser indício de algo mais sério.
Orestes Forlenza, psiquiatra, professor do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e coordenador do serviço de Check-up da Memória do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, explica que as falhas na consolidação da memória de uma pessoa, independentemente da idade, devem ser observadas de perto.

“Diversas condições de saúde, nos seus estágios iniciais, podem fazer o indivíduo perceber falhas na sua memória. Adultos jovens e até mesmo adolescentes não estão livres desse tipo de falha. Nesses casos é preciso, após fazer uma análise dos dados coletados em uma série de testes que utilizamos para determinar o nível dessas falhas, encaminhá-los para os especialistas, caso seja detectada alguma condição de saúde que esteja interferindo na memória desses indivíduos”, diz o especialista.

A partir dos 60 anos, a memória pode piorar

No caso de pessoas mais velhas (a partir dos 60 anos de idade), essas falhas costumam ser mais comuns. “Isso acontece como decorrência natural do envelhecimento. Com o passar dos anos, o processo de memorização perde velocidade e há uma diminuição da eficiência no registro de detalhes; porém, a memória continua ‘competente’, ou seja, as informações essenciais continuam a ser registradas na memória. Estas informações podem demorar mais a serem fixadas ou mesmo pequenos esquecimentos podem ocorrer. Nesses casos também é importante fazer um check-up para descartar o início de condições como a doença de Alzheimer, que é a principal causa de demência em idosos – o termo ‘demência’ é usado para indicar a perda de memória e de outras capacidades intelectuais que são suficientemente importantes a ponto de comprometer a independência pessoal para as atividades do dia a dia”, explica Forlenza.

O programa de Check-up da Memória, aliás, foi projetado inicialmente para detectar indícios da doença de Alzheimer. Esse tipo de programa é importante porque cria padrões individuais que podem depois servir de histórico de comparação para a variação da qualidade da memória de um indivíduo ao longo do tempo.

“Quando se avalia um indivíduo para saber se há indícios da doença de Alzheimer, na maioria das vezes se utiliza uma curva padrão que é resultado de pesquisas publicadas no mundo todo. Essas pesquisas, obviamente, são um padrão geral. Entretanto, um indivíduo pode ter a doença e não ser diagnosticado corretamente, porque consegue se sair bem nos testes, compensando as falhas de memória com o reforço de outras habilidades. Esta situação é mais comum em pessoas muito instruídas ou muito inteligentes. O inverso também pode ocorrer. Isso vai depender de fatores como o nível de escolaridade, que pode influenciar ou mascarar os resultados finais desses testes”, detalha o psiquiatra.

Análise individualizada

Ao fazer uma análise do desempenho da própria memória, mesmo sem qualquer indício de uma doença, o indivíduo acaba por fornecer dados que ficarão disponíveis em seu histórico médico. Com o passar do tempo, ao refazer os exames disponibilizados pelo programa de Check-up da Memória, esses dados são complementados, definindo-se um padrão evolutivo.

As variações individualizadas desses exames são comparadas então com os resultados de testes anteriores, e não com as curvas padrão de uma população maior. Isso significa, muitas vezes, saber de antemão se há uma alteração repentina na memória e se isso significa que a doença de Alzheimer está se desenvolvendo (ou como alternativa, se o desempenho é normal, próprio do envelhecimento, e não há nada de errado com o indivíduo).

“Como se sabe, não há cura para o Alzheimer. Entretanto, há tratamentos que podem diminuir as perdas cognitivas – entre elas a degradação da memória – e ‘empurrar’ a fase mais grave da doença para frente. Isso quer dizer que o indivíduo vai manter sua independência por mais tempo, o que resulta em mais qualidade de vida para ele e para a família, que vai poder se preparar com calma para essa nova fase da vida. Outra coisa: em medicina, são necessários vários anos para serem contabilizados grandes avanços nos métodos e medicamentos utilizados para tratar uma condição”, diz Forlenza.

Mas para que esses benefícios sejam efetivos, o diagnóstico da doença precisa ser feito o mais rápido possível, antes que a fase de demência se desenvolva.

“O conceito de check-up – ou seja, de programas de testes clínicos unificados que possam diagnosticar precocemente condições de saúde – já está estabelecido em diversas especialidades médicas. O check-up anual do coração ou o ginecológico, citando dois exemplos, já são indicados para pessoas com mais de 60 anos. O adequado é que essa atenção fosse dada à memória também, pois ela é reflexo da saúde do cérebro. E para ter qualidade de vida na velhice é importante que, além dos outros órgãos do corpo, a mente também esteja protegida”, finaliza Forlenza.

-

por Enio Rodrigo - Site "O que eu tenho"

Nenhum comentário: