Revolução da longevidade

Dr. Luchesi
Cirurgião cardiovascular e escritor

O século da tecnologia foi pródigo em novidades. Já em 1904, com o
eletrocardiograma, inaugurou-se uma longa série de criações da arte e
argúcia humanas, passando em 1905 pela identificação dos grupos
sanguíneos e, em 1928, pela penicilina. Depois vieram duas décadas de
avanços da cirurgia, a partir de 1950, com intervenções sobre o coração,
válvulas artificiais, marca-passos, hemodiálise e, finalmente, os
transplantes. Depois de 1970 sucederam-se os anos dos avanços em imagem.
Surgiram a ecografia, a tomografia, a ressonância e os maravilhosos
filmes das coronárias. E, finalmente, a domesticação dos radioisótopos
inaugurou a era da medicina nuclear, que passou a exibir a intimidade
das células do corpo humano.

O século 20 foi indubitavelmente o século da tecnologia. Mas não foi o
século da longevidade. Entramos em 1901 vivendo pouco mais de 50 anos em
média e saímos em 2001 com pouco mais de 70. Não foi uma grande
conquista. Assim como o maior avanço em saúde do século 19 foi aprender
a lavar as mãos, a maior contribuição do século 20 não ocorreu na área
tecnológica. Nos últimos anos, aprendemos o conceito real e os
benefícios de viver um estilo de vida saudável.

A revolução da longevidade se iniciou a partir do momento em que
aprendemos a comer de forma adequada, nos exercitarmos, mantermos o peso
sob controle, organizarmos nossa vida familiar e financeira, nos
dedicarmos a uma profissão prazerosa e valorizarmos nossa
espiritualidade. Hoje se sabe, por um estudo da Stanford University, que
toda a tecnologia gerada pela medicina é responsável por apenas 10% de
nossa longevidade. A maior parte (mais de 50%) vem do estilo de vida
saudável.

Definitivamente na busca da longevidade, a tecnologia perdeu para o
estilo de vida e a repercussão virá já nos primeiros anos do século 21.
Já se anuncia uma perspectiva de vida de mais de 80 anos para 2020,
triplicando-se no Brasil a população de idosos em 2050.

Mais uma vez fica claro, como de resto em toda a história da raça
humana, que as soluções dos nossos problemas estão sempre ao alcance de
nossa própria mão. Na maioria das vezes, dentro de nós mesmos.