quinta-feira, 5 de agosto de 2010

ESPORTE - AS LIÇÕES DE UM VENCEDOR




Poucos podem dar lições de sucesso com tanta propriedade quanto Bernardo Rocha de Rezende, o Bernardinho, de 50 anos. Na semana passada, o técnico conquistou mais um título da Liga Mundial de Vôlei. Foi a 25 medalha de ouro nos nove anos à frente da seleção masculina. Bernardinho, formado em economia pela Pontifícia Universidade Católica carioca, também triunfou no mercado editorial. Seu primeiro livro, Transformando Suor em Ouro, teve mais de 300.000 exemplares vendidos e abriu-lhe uma fonte de renda ainda mais lucrativa que seu salário anual de 300.000 reais: a das palestras motivacionais. Ele cobra 4.0000 reais por apresentação. "Tenho trinta convites, mas, em agosto, só vou atender a três para não prejudicar os treinos da seleção", diz. Em entrevista à repórter Sandra Brasil, Bernardinho enumerou os dez caminhos para o êxito de qualquer profissional, em qualquer área de atividade.

TER PAIXÃO
É preciso amar o que se faz. É por isso que estou no esporte. Nada me dá mais satisfação do que acordar no centro de treinamento da seleção. Em 1984, eu era levantador da seleção brasileira e fazia estágio no Banco Garantia. (O economista) André Lara Resende, que foi meu professor, disse que eu precisava escolher uma das duas profissões. Não tive dúvida: fiz a mala e fui disputar a Olimpíada de Los Angeles.

SABER MOTIVAR
Há momentos em que é preciso cuidar da autoestima da equipe com a qual se trabalha. Há outros em que o grupo precisa ser desafiado. E ainda há aqueles em que só
a velha e boa bronca resolve. Mas é preciso ter em mente que o objetivo de tudo isso é motivar a equipe. No ano passado, quando disputamos o Sul-Americano na Colômbia,
os atletas começaram a reclamar que o alojamento e a comida eram péssimos. Exibi, então, um depoimento de uma menina de 12 anos que era destra e havia perdido o
braço direito num acidente de carro. Com uma força de vontade tremenda, ela passou a executar suas atividades, inclusive jogar vôlei, com o esquerdo, Ninguém reclamou
de mais nada e ganhamos o campeonato.

CORAGEM E DISCIPLINA
É preciso ter coragem para enfrentar os desafios. Quem não é corajoso pode ficar paralisado de medo diante dos adversários. Mas só coragem não resolve. Os melhores
também têm de mostrar responsabilidade, vontade e disciplina para trabalhar em prol das suas metas e das da equipe. Se eu fico bravo durante um jogo, é porque alguém
não tentou fazer o que havíamos pactuado. Nesse caso. vou à loucura.

BUSCAR A PERFEIÇÃO
A preparação faz a diferença. Por isso, quando um jogador começa a achar que "é o cara", que está bem, e não precisa mais se adestrar, eu o convoco para treinar
mais. Não podemos nos contentar com o que já temos e temos de nos conscientizar de que não há favoritismo na vida. Por isso, quando me dizem "você já ganhou tudo",
respondo que ainda falta ganhar o próximo campeonato.

RESERVAS DE PRIMEIRA
Um bom substituto também serve para pressionar o titular. No vôlei, os reservas têm de ser bons tanto para entrar em quadra quanto para desafiar os titulares nos
treinos. Quando jogava na seleção, Giovane (Gávio) dizia que os titulares não podiam se machucar porque corriam o risco de virar reservas.

RENOVAR SEMPRE
Preparo continuamente um grupo de cinco ou seis atletas em inicio de carreira, para formar o que chamo de seleção B. É um sistema de renovação que vem dando ótimos
resultados. Tanto que, dos catorze jogadores que foram disputar o título da Liga na Argentina, apenas um, Giba. já estava na equipe principal em 2001, quando comecei
a treinar a seleção.

RESPEITAR AS LIDERANÇAS
Marcel Telles (sócio do InBev) me disse uma vez que os líderes são os guardiões dos valores de suas instituições. Passei a vê-los assim também no vôlei. Hoje, Giba
é nosso grande líder. Ele tem um bom padrão de vida, mas fica no mesmo alojamento que os outros. Incentiva a todos, trabalha para si e para que seus colegas rendam
o máximo. Se ele dá esse exemplo, privando-se de confortos e dando tudo de si não dá para admitir que um novato dê menos de 100% do que pode. É por isso que o grupo
pune quem começa a se achar acima dos outros. Na Liga, Mário Júnior, um novato, disse que Dante estava falando muito. Como castigo pela petulância, passou a carregar
os sacos das bolas usadas nos treinos. Baixou a cabeça e foi eleito o melhor líbero do torneio.

ACEITAR A DIVERSIDADE
Na verdade, é a diferença entre seus integrantes que dá brilho a uma equipe. O segredo do sucesso é fazer com que os diferentes sejam complementares. É por isso
que, na seleção, os prêmios financeiros individuais concedidos a um atleta são divididos com o grupo. Essa foi uma sugestão minha que virou regra: quem ganha fica
com metade do dinheiro e reparte o resto com os colegas. Éjusto, porque o premiado dificilmente teria se destacado apenas pelas suas próprias qualidades - para sua
vitória, contaram também as habilidades ou características alheias que ele não tem.

EVITAR ENVOLVIMENTO
É difícil, mas tento não me envolver emocionalmente com a equipe. As relações afetivas com um técnico podem até prejudicar o atleta. No time atual, por exemplo,
tento me afastar ao máximo do Bruno, meu filho. Acabo mesmo sendo mais duro com ele. E, se precisar cortá-lo, não tenha dúvida de que corto. A mesma coisa aconteceu
quando treinei a minha mulher, Fernanda Venturini, na seleção feminina. Tivemos muitas brigas, porque ela era talentosa ao extremo e achava que isso era suficiente
para estar no time. Só com o tempo aprendeu que o importante era que a equipe fosse bem.

OBSESSÃO SAUDÁVEL
Muitos jogadores já pensaram a meu respeito: "Ih. lá vem o maluco de novo com aquele vamos treinar, vamos treinar". Sou obsessivo na busca do que é essencial para
a constituição de uma equipe vencedora, menos propensa a apresentar falhas - e um pouco de obsessão não faz mal a ninguém. Todo mundo tem de estar 100% comprometido
com sua profissão.

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