quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Aprender a conviver com os próprios sentimentos é uma arte

É difícil escapar de ser dominado por uma emoção que nos desgasta


Tenho muitas pessoas dentro de mim. Dentre elas, um bicho enorme, amedrontador, que fala coisas horríveis e sem volta, ruge, grita e arregala os olhos. Coitadinho, morre de medo de ser abandonado, deixado sozinho. Para conseguir o amor garantido, berra ainda mais. Parece que ele vai testando até onde os demais aguentam. Quando ele fala mais alto e está mais presente que as outras pessoas que moram dentro de mim, acabo me parecendo mais com ele. É duro colocá-lo no seu lugar novamente. Muito difícil mesmo. Acho que o nome dele é Medo.

Li certa vez que o oposto do amor é o medo. E não o ódio, como pensamos. O medo afasta, divide, destrói. O ódio é facilmente revertido, pois nele mora a paixão. Quando o Medo aparece, tento alimentá-lo, perguntando: "do que você precisa?". Às vezes ele quer colo, outras vezes ele quer ser dominado e outras ainda apenas ser ouvido. Tenho que alimentá-lo e pedir aos outros o que ele necessita. Quem sabe assim ele se acalma por um tempo. Sim, porque sei que ele está sempre ali.

"Conhecendo a nós mesmos e às várias pessoas que nos habitam, temos mais chance de construir relacionamentos saudáveis"Bom, aí surge outro carinha que mora dentro de mim. Vem surgindo duro, categórico: "de jeito nenhum! Você não precisa de ninguém. Precisa se virar sozinha! Autossuficiência! Ademais, os outros podem deixá-la a ver navios. Não confie em ninguém!" Esse aí, também já sofreu muitas decepções e frustrações. Quer provar a todo tempo que consegue sozinho. É gordo, precisa de alta camada de proteção. Já tomou conta de mim por vários anos. E fiquei literalmente igualzinha a ele. Penso que ele se chama Orgulho.

Enquanto eles se enfrentam numa guerra sem fim, aparece alguém humilde, com a voz branda, suave e sábia. Vem dizendo: "nem todo o conhecimento vem pela razão! Dê ouvidos a ambos, mas escolha com coração o que é certo de fazer. Você consegue e pedir não diminui seus méritos. Mesmo Jesus pediu para que aquele cálice amargo dos humanos fosse afastado de seus lábios." Essa voz me acalma. Gostaria de ser essa pessoa 100% do tempo. Não é homem, nem mulher. Tem forma etérea. Caminha com passos calmos, mas precisos e seguros. Acho que o nome dela é Amor.


Acabo pedindo aos outros que me cercam o que o Medo quer e respondo ao Orgulho que conseguimos aguentar o "não". Algumas vezes, não conseguimos o que o Medo queria. O Orgulho sai rindo e se vangloriando, "não falei?". Acredito que isso aconteça porque nem sempre os outros conseguem estar vestidos do Amor, assim como eu mesma não consigo ser Amor 100% do tempo. Mas procuro quem o esteja vestindo hoje, que é quando o Medo precisa. O mais surpreendente: quase sempre consigo o colinho, ou ouvidos compreensivos.

Conhecendo essas pessoas em mim e nos outros, aprendi que a impaciência, a intolerância e as agressões não são mais que o Medo gritando para não ser abandonado, para ser compreendido. Estou aprendendo com o Amor que ele nasce em primeiro lugar para nós mesmos. O jeitão do Medo não leva a lugar algum. Não consegue o que realmente precisamos.

O amor próprio possibilita o amor altruísta, generoso. Conhecendo a nós mesmos e às várias pessoas que nos habitam, temos mais chance de construir relacionamentos saudáveis, vivendo de bem com a vida.

Fonte: Site Minha Vida

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