domingo, 13 de fevereiro de 2011

SERES IMAGINÁRIOS

De repente me vi na agradável companhia de Jorge Luis Borges. Retirei da minha estante O Livro dos Seres Imaginários e reli, como se fizesses pela primeira vez, o que o saudoso escritor argentino escreveu, por exemplo, sobre o Minotauro, a Esfinge, o Centauro, o Cérbero, a Fênix e o Dragão.
Lendo sobre o Minotauro, lembrei-me de Creta onde estive, e, por alguns instantes, me vi em apuros ao tentar sair do Labirinto, "a casa feita para que as pessoas se percam. Nele entrara por mero exibicionismo e teimosia.
Não fosse o experiente guia, um grego que falava bem o espanhol, eu teria ficado em Creta, milenar cidade helênica, carinhosamente beijada pelas águas do Mar Egeu, misteriosas e de um azul profundo e encantador.
Sobre Cérbero, o horripilante cão de três cabeças, Jorge Luis Borges recorda, entre outras coisas, que Virgílio "menciona suas três gargantas"; Ovídio menciona seus três latidos; e Butler "compara as três coroas da tiara do Papa, que é o porteiro do céu, com as três cabeças do cão, que é o porteiro dos infernos".
Cérbero é o cachorro mais feio e mais feroz que se tem notícia na História dos nossos cães.
Interessantíssima é a página sobre a tão badalada Fênix, considerada pela lenda como uma "ave sagrada".
Jorge L. Borges recorda que no século IV, Claudiano a ela se referia, em versos, como "um pássaro imortal que ressurge das cinzas..."
Santo Ambrósio (339-397), o santo das abelhas, viu a Fênix "como a prova da ressurreição da carne".
E por falar em ressurreição, Borges chama a atenção para o pelicano. Transcreve, com todas as letras, como este belo pássaro egípsio é definido "no bestiário de Leonardo da Vinci". Vejam: "Ama muito a seus filhos e, encontrando-os no ninho mortos pelas serpentes, dilacera o peito e, banhando-se com seu sangue, os devolve à vida."
É a referência - de amor, entrega e solidariedade - que todo mundo conhece quando se fala nessa imponente ave; principalmente os que creem na Eucaristia, posto que, a Igreja Católica compara Jesus ao pelicano.
E assim, para cada ser imaginário - mais de uma dezena traz o livro -, o saudoso escritor portenho tem uma descrição detalhada, curiosa, que mostra o seu aprimorado conhecimento da mitologia greco-romana.
Gosto muito desse livro do Jorge L. Borges porque tenho uma velha paixão, tanto pela mitologia grega, como pela mitologia romana.
No seminário, tive competentes professores de História da Antiguidade e, por eles, fábulas e lendas me foram contadas.
Como se eu nunca o houvesse lido, o capítulo sobre as Fadas voltou a me interessar. Certamente porque, como salienta JLB, "seu nome se vincula ao vocábulo latino fatum (fado, destino)".
Nada de extraordinário nessa observação. Com efeito, tudo o que diz respeito ao nosso amanhã; ou dizendo melhor, tudo que o destino nos reserva, sempre nos causa uma indisfarçável inquietação.
Posso até ficar inquieto, mas prefiro, mil vezes, que este mistério que cerca o meu "depois", permaneça intocável!
Mas as fadas, apesar do lirismo com que as vemos, e adoremos os seus contos, é preciso ter cuidado com elas, lembra o texto do festejado escritor argentino, morto no dia 14 de junho de 1986, em Genebra.
Porque, segunda a lenda, "a fada, uma vez satisfeita sua paixão, pode matar seus amantes".
Precavenham-se, portanto, aqueles que veem nas suas amantes a irretocável imagem de uma fada... Ainda que ela esteja entre os seres imaginários...

Felipe Jucá

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