Na lista de comportamentos em extinção, muita gente colocaria, hoje, férias de 30 dias.
Isto mesmo... Muita gente!
É assim que pensam as pessoas que sofrem com o estresse de férias ou vacation phobia (medo de férias, em inglês). O termo, criado por Cary Cooper, professor de Psicologia Organizacional e Saúde da Manchester School of Management, nunca esteve tão atual.
Em uma época em que o mercado de trabalho causa alterações de comportamento diante do acúmulo de funções e da possibilidade do desemprego, o direito ao descanso anual, garantido por lei, ultrapassa o status de benefício para se tornar um problema.
“Isso acontece, porque, apesar da maioria das pessoas saber que as férias são uma pausa indispensável para a manutenção da qualidade de vida, algumas simplesmente não conseguem se desligar dos compromissos diários”, afirma a psicóloga Adriana de Araújo, especializada no tratamento de fobias.
Segundo dados da International Stress Management Association-Brasil (Isma-BR), o medo de férias tem aumentado. É o que comprova a última pesquisa da Isma- BR sobre o assunto, realizada com 678 profissionais, na faixa etária entre os 25 e 55 anos, moradores das cidades de São Paulo e Porto Alegre.
Dos pesquisados, 38% admitiram ter medo de dar uma pausa muito grande no trabalho e tirar férias de 30 dias. Por quê? Para entender este comportamento, a psicóloga Adriana de Araújo, autora do livro O Segredo para Emagrecer, lembra que as pessoas, atualmente, ao se obrigarem a fazer tudo, não suportam a pressão e têm receio de ficar muito tempo parado sem fazer nada. “Estas pessoas sentem que estão ficando para trás e que na volta do descanso terão serviço dobrado.
É preciso controlar a ansiedade para que o estresse não chegue à fase de exaustão, que leva a instabilidade emocional e doenças”, alerta a psicóloga.
Os chamados workaholics ou viciados em trabalho, por exemplo, com o passar do tempo, não conseguem dar uma pausa ao ritmo alucinante de atividades, exigências e metas. Os 365 dias do ano se tornam insuficientes.
Pouco a pouco, a fadiga e a fraqueza, a irritabilidade, a impaciência e a dor muscular podem ficar rotineiras. “Somam-se a esses outros sintomas, tais como medo, insegurança e doenças ocupacionais.
O sinal vermelho é dado quando ocorrem seqüelas mais graves, como infartos e derrames”, diz a hipnoterapeuta.A psicóloga afirma que uma das formas para diminuir a ansiedade provocada pela pressão do mercado de trabalho é se tornar competitivo.
“As pessoas devem manter os seus currículos atualizados, fazer cursos de aperfeiçoamento e manter uma rede social — o chamado network — que será um meio de mantê-las antenadas com as novas oportunidades de trabalho”, diz Adriana de Araújo. Segundo ela, as preocupações que assolam os trabalhadores na modernidade são plausíveis, mas devem ser administradas.
Planejamento das férias
Por mais óbvio que pareça, férias não programadas ou mal programadas, em que não haja tempo para relaxar, descansar e recarregar as baterias podem gerar um forte estresse, assim como qualquer outro momento do cotidiano.
Outro grande perigo está nos extremos. O excesso ou mesmo nenhuma atividade praticada durante as férias também pode causar estresse. “O importante é se desligar do trabalho e dos problemas pessoais. Não é bom ‘aproveitar as férias’, por exemplo, para fazer uma cirurgia ou resolver alguma pendência”, aconselha. O planejamento para o descanso faz a diferença nessa hora.
A seguir, a especialista fornece algumas dicas que podem auxiliar o profissional ansioso a aproveitar melhor o seu tempo de descanso:
1. Divida as férias em pelo menos duas etapas de 10 dias ou duas de 15;
2. Antes de se retirar do escritório, entregue tudo o que está sob sua responsabilidade, não deixe pendências no ar;
3. Quando estiver fora, delegue suas funções a um profissional capacitado;
4. Deixe uma resposta automática informando sobre suas férias na caixa de e-mails e no celular;
5. Não transfira seus recados de trabalho para o e-mail pessoal ou para o seu próprio celular;
6. Não telefone para o trabalho para saber ‘como andam as coisas na sua ausência’;
7. Priorize as coisas que te dão prazer e o que você tem adiado por falta de tempo: meditar, fazer yoga, ir ao cinema...;
8. Se você vai viajar nas férias, evite sair em seguida. Programe-se e escolha com antecedência um roteiro que se encaixe no seu ritmo. É importante também voltar de viagem ao menos um dia antes de retornar ao trabalho para organizar a sua vida pessoal.
No mais, segundo a psicóloga Adriana de Araújo, “é apostar firmemente na idéia de que você merece alguns dias de descanso e que é capaz de aproveitá-los de uma maneira inteligente e racional, sem transformar as férias num período estressante”, recomenda.
Após as férias
Para os workaholics, a psicóloga recomenda que os cuidados que foram observados durante as férias devem ser adotados também fora do período de férias, acrescidos de outras recomendações: tais como fazer exercícios físicos, cuidar da mente e do corpo e procurar manter o equilíbrio entre trabalho e lazer.
“Outra observação importante é que para render mais no trabalho, deve-se ter a mente descansada enquanto se trabalha. Nossa atenção costuma se desviar depois de 90 minutos, portanto, devemos usar essa informação a nosso favor e estudar ou trabalhar, fazendo pausas de 10 minutos entre esses 90.
Qualquer trabalho rende mais se você utilizar essa forma de atenção e descanso”, recomenda a hipnoterapeuta.
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