sábado, 21 de janeiro de 2012

Sobre Elis

É a maior cantora brasileira de todos os tempos. Parecia ter um instrumento na garganta, comparável a Ella Fitzgerald ou Sarah Vaughan duas das maiores divas do jazz. Elis surgiu para a música na fase mais rica e generosa que nossa música experimentou. Foi quando surgiram Edu Lobo, Chico Buarque, Caetano, Gil, Milton Nascimento, João Bosco entre outros, uma safra de compositores jamais igualada, todos eles gravados por Elis. Tom e Vinícius, um pouco mais veteranos, faziam enorme sucesso e conquistavam o mundo, levando o melhor de nossa música para fora, com muitas de suas composições na voz de Elis.

Ouvindo as gravações de Elis nos dias atuais, temos a impressão de que a gravação foi feita ontem, dada a modernidade de sua voz e o capricho dos arranjos de César Camargo, um dos maiores músicos brasileiros, o qual tem muito reconhecimento mundo a fora

E Elis ainda tinha a virtude de lançar novos talentos. Os cearenses Belchior e Fagner, até então ilustres desconhecidos no cenário brasileiro, por exemplo, foram lançados por ela. “Mucuripe” e “Como Nossos Pais” de ambos foram algumas das músicas que alcançaram enorme sucesso na voz maravilhosa da "Pimentinha".

A bata
Lá pelos idos de 1972 estando de férias no Rio, Ita e eu encontramos Fagner num apartamento na Rua Barata Ribeiro em Copacabana, onde moravam amigos cearenses. Fagner falou que naquela semana Elis iria estrear um show no Teatro Ipanema, incluindo a sua "Mucuripe" no repertório. Ita usava uma bonita bata do rico artesanato cearense pela qual Fagner se encantou. Pediu emprestado essa bata, dizendo que a vestiria no show de Elis. A bata jamais foi devolvida... Mas isso é outra história. O fato é que "Mucuripe" ganhou as paradas de sucesso, tanto na voz de Elis como na interpretação de Fagner.


O cortejo
Lembro como se fosse hoje. Eu acabava de chegar de Fortaleza, numa viagem de carro, naquele distante janeiro de 1982, com a Ita e os três meninos ainda bem pequenos. Ao acordar no dia seguinte, liguei o rádio numa estação daqui de Salvador no noticiário quando soube da súbita morte de Elis. Quase não acreditei, sentindo a perda daquela cantora de quem eu era um ardoroso fã. Quando moramos em São Paulo, vi três vezes “Falso Brilhante” no Teatro Bandeirantes, um show antológico com Elis acompanhada de músicos excepcionais, entre eles o pianista e arranjador César Camargo Mariano, com quem Elis foi casada. Desse casamento nasceu Maria Rita, cujo timbre de voz lembra muito o da mãe.

Por uma tremenda coincidência, eu tinha uma viagem a São Paulo a negócios no dia seguinte. Ao pousar em Congonhas (nessa época ainda não existia o Aeroporto de Guarulhos), tomei um taxi. No Parque do Ibirapuera, fiquei retido no trânsito para dar passagem a um cortejo que passsava pela Avenida 23 de Maio, do qual até então eu desconhecia a razão. Tal foi minha surpresa ao entender o que se passava. Era justamente o cortejo fúnebre que levava o corpo de Elis em um carro do Corpo de Bombeiros à sua última morada. Assim, por uns dez minutos prestei minha última homenagem àquela que continua sendo a maior cantora brasileira de todos os tempos.

Agora cliquem na setinha e ouçam na Voz de Elis, “Velha roupa Colorida”, de Belchior.



Sérgio Almeida Franco, de Salvador/Ba

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