quarta-feira, 11 de maio de 2011

Alimentos transgênicos

Benefícios ou Riscos Para a Saúde da População?

Desde o século XIX, quando o estudioso Gregor Mendel desvendou as características genéticas dos vegetais, os cientistas buscam combinações genéticas entre as plantas para obter mais qualidade e produtividade.

O que Mendel fez, analisa a especialista em nutrição clínica pela Universidade Federal de Ouro Preto, Erica Vidigal, foi cruzar espécies diferentes de ervilhas de forma que as características de espécies diferentes fossem aleatoriamente combinadas para gerar novas espécies.

Esse processo recebeu o nome de hibridação. O resultado final não era previsto, porém, as combinações abriram as portas para a atual biotecnologia. Hoje é comum depararmos com a expressão "alimento alterado geneticamente", "transgênicos", "manipulação genética", causando dúvidas e gerando polêmicas.

Com o objetivo de esclarecer algumas dessas controvérsias, que não ocorrem apenas no Brasil, mas em todo o mundo, Erica Vidigal explica alguns aspectos que envolvem o assunto, desde os aspectos políticos, éticos e até religiosos que não serão debatidos, pois a busca por respostas deve ser pautada na luz da Ciência.

Há mais de 10.000 anos, desde que o homem iniciou-se na arte da agricultura, a hibridação é utilizada. A diferença, no caso dos alimentos modificados pela engenharia genética, é que a hibridação ocorre entre seres que são da mesma espécie, enquanto na biotecnologia são utilizadas espécies diferentes, portanto com informações genéticas diferentes, para gerar uma espécie nova, diferente.

Segundo Erica, após identificar em várias espécies de vírus, bactérias e plantas características com genéticas importantes para aumentar a qualidade e a resistência de plantas da lavoura comercial às pragas, os cientistas transferem essas características para a planta que não possui a informação genética, mas que irá ter benefícios com a inclusão da característica em seu código genético.

O processo ocorre através do isolamento do gene que contém as informações necessárias e a inserção dele no DNA de células de tecidos da planta a ser alterada com o auxílio de máquinas especiais ou microrganismos. O embrião gerado dá origem a uma planta com a característica desejada incorporada em seu código genético, capaz de produzir as sementes transgênicas, explica.

Nos transgênicos, há a vantagem de os genes serem usados para fins extremamente definidos; já na hibridação ocorre a mistura de dois códigos genéticos completos, sem saber o resultado final. Essa nova era na agricultura representa uma resistência maior dos vegetais aos produtos químicos, agrotóxicos, insetos e fungos, que normalmente devastam a lavoura.

Além disso, do ponto de vista econômico, representa maior produtividade. Analisando a produção internacional, encontramos 60% de todos os produtos processados nos Estados Unidos sendo manipulados geneticamente.

Análise

Segundo Erica Vidigal, a Argentina possui 6,9 milhões de hectares plantados com soja transgênica, sendo que essa produção representa 90% do total.

O milho representa 20% da produção de transgênicos. O país irá economizar somente neste ano de 2.000, 200 milhões de dólares, e somente com a soja, 30 dólares por hectare serão economizados.

No Brasil, a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), utiliza a biotecnologia em pesquisas e testes com a soja, feijão, mamão, banana, batata e algodão em relação a resistência a fungos, herbicidas e vírus, entre outras pragas.

As pesquisas ocorrem com mais intensidade na soja, que representa 54% da produção dos alimentos modificados pela genética e ocorre desde 1996. A principal alteração é a resistência aos herbicidas.

O milho sofre modificação para aumentar a resistência alguns tipos de herbicidas e insetos, e representa 28% da produção de mais de dez espécies modificadas. O algodão e a canola também são testados pela Embrapa e equivalem a 9% da produção.

A canola é utilizada para fazer óleo comestível e os testes ocorrem para aumentar a resistência a pragas e para produzir um óleo mais saudável. O algodão é testado para aumentar resistência aos microrganismos que atacam as plantações, e as variedades alteradas chegam a ocupar 4 milhões de hectares.

A soja patenteada pela Monsanto, uma empresa da área de biotecnologia, recebeu um gene retirado de uma bactéria que a torna resistente aos herbicidas utilizados, o que representa redução de 15% no custo da produção e pode refletir diminuição no preço ao consumidor final. A Monsanto também pesquisa uma variedade de arroz enriquecido com betacaroteno.

Vários laboratórios espalhados pelo mundo, acrescenta a especialista, realizam pesquisas envolvendo genes que aumentam o valor nutricional dos vegetais. "Como toda pesquisa precisa avaliar os benefícios e as contra-indicações de seu objeto de estudo. No caso dos transgênicos, as vantagens da aplicação da biotecnologia são indiscutíveis". Porém, quais são as desvantagens?

Existem Desvantagens?

Segunda a Dra. Vidigal, as desvantagens ainda são desconhecidas. Desde 1994, as primeiras sementes modificadas foram comercializadas e nada foi detectado como anormalidade. A ciência ainda não desvendou todos os mistérios que envolvem a manipulação genética. Os riscos que existem ao misturar genes de espécies diferentes não são totalmente conhecidos.

A biotecnologia é extremamente complexa e exige precauções e estudos controlados de longo prazo e que avaliem todas as variedades envolvidas no processo.

Se uma semente torna-se mais resistente aos produtos químicos, como agrotóxicos e seres como vírus e fungos, e sabendo-se que dentro de um gene existem várias informações codificadas, não seria razoável que esse mesmo gene desencadeasse alguma reação dentro do organismo? A realidade é que no Brasil esses produtos já estão chegando à mesa do consumidor, diz a nutricionista.

Por decisão judicial, no Brasil, os produtos que utilizam a biotecnologia só podem ser manipulados para fins de pesquisa em plantações experimentais, como a Embrapa.

Porém, clandestinamente, os grãos são cultivados a partir de sementes vindas da Argentina e dos Estados Unidos, principalmente no sul do país. E o Brasil importa produtos processados com alimentos modificados vindos de vários países acima. Além disso, o país não apresentou um consenso em relação ao assunto, mas a utilização de herbicidas e produtos químicos nas lavouras é disseminada.

Efeitos da Prática

Segundo Erica Vidigal, os efeitos dessa prática são nossos velhos conhecidos, principalmente a carcinogênese comprovada. A União Européia é completamente contra a liberação de novos produtos modificados e os que já existem devem informar a composição no rótulo.

Várias dúvidas ainda ficarão sem resposta verdadeira como o potencial aumento do número de casos de alergias, desenvolvimento de resistência bacteriana com a conseqüente redução da eficácia de antibióticos, a potencialização dos efeitos tóxicos de resíduos de agrotóxicos.

A população cresce de maneira desorganizada e a distribuição de renda é totalmente irregular e injusta. A fome é real e um grave problema de saúde pública. Enquanto a biotecnologia buscar melhorias na qualidade e na produtividade ela tem seus méritos e créditos, destaca.

Além disso, pondera a nutricionista, "salvar crianças que morrem por deficiências de vitaminas através da biotecnologia e aumentar a produção de grãos a nível internacional já é um mérito suficiente para incentivar as pesquisas e a determinação dos possíveis efeitos colaterais da manipulação genética. " Os movimentos políticos, ideológicos, religiosos e comerciais deveriam avaliar a relação custo-benefício e lutar sim, mas pela segurança alimentar e não apenas por interesses", finaliza

Fonte: Blog Boa Saúde

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