terça-feira, 3 de maio de 2011

Academias criam programas para maiores de 60

Para atender às exigências dos maiores de 60, mercado da malhação investe em exames preventivos, profissionais especializados e exercícios com foco em qualidade de vida





O dentista Benedito Bassit, 74, treina na barra, na academia Fórmula, em SP

IARA BIDERMAN
FOLHA DE SÃO PAULO

Sabe qual é a nova tendência das academias? Gente mais velha.
Os pequenos grupos dos programas especiais para alunos com mais de 60 cresceram, e a turma de 70, 80, 90 ocupa cada vez mais espaço nas salas de musculação.
O novo público se encaixa em uma mudança que vem ocorrendo aos poucos no conceito de academia de ginástica, segundo Waldyr Soares, presidente da Fitness Brasil. A empresa organiza as maiores feiras do setor da América Latina.
"Há cinco anos, o culto ao corpo dominava: academia servia para homem ficar forte e mulher ficar com bumbum duro. Hoje, há uma procura maior por bem-estar e qualidade de vida, que é o que o público mais velho busca."

POTENCIAL DE MERCADO
O aumento no número de alunos nessa faixa etária não é surpresa em um país que está envelhecendo. Mas as academias ainda não perceberam todo o potencial do mercado desses alunos.
"Além dos que estão nos seus 70, há um contingente de alunos a partir dos 50, e certamente eles não chegam como o garotão que vai puxar ferro. Eles devem ser recebidos com outro olhar. Talvez o desafio agora seja investir em avaliações físicas mais completas", diz Soares.
É possível que os cinquentões estejam correndo mais risco do que seus colegas de academia com mais idade.
Quem começa a fazer exercício depois do 60 costuma vir por recomendação médica. "As academias pedem atestado do cardiologista liberando o paciente para a atividade", diz o ortopedista Ricardo Cury, da Santa Casa de São Paulo.
Esses alunos já fazem avaliações médicas regulares, independentemente de a academia pedir os exames.
Já o sujeito de 50, dependendo de seus hábitos de vida, pode ter a idade biológica muito mais avançada do que a real (leia à pág. 9). E um colega de esteira com idade para ser seu pai pode exibir taxas de colesterol de fazer inveja aos saradões.
Como as do dentista Benedito Bassit, 74. "Não fico contando vantagem, mas estou com meu exame aqui e o colesterol total deu 129", diz por telefone à Folha, enquanto espera a consulta com seu médico ortomolecular.
"Estou bem assim porque faço exercício. Só tomar remédio não adianta."
Benedito, que começou a treinar aos 59, faz musculação às segundas, quartas e sextas-feiras e corre na esteira às terças e quintas. Passa pelo menos duas horas por dia na academia.

PROFESSOR PREPARADO
Ele afirma que não é preciso montar aulas ou um ambiente especial para os mais velhos. "Não precisa ser nada sofisticado. O mais importante é ter algumas meninas bonitas para a turma se entusiasmar. E professor preparado para monitorar."
Vilmar Villas, gerente técnico da unidade Kansas da rede de academias Cia Athletica, em São Paulo, concorda: "O fundamental é investir na capacitação dos profissionais".
Equipes multidisciplinares, que incluem fisioterapeutas, nutricionistas e profissionais de educação física, devem ser formadas para orientar alunos com mais idade ou condições médicas específicas.
Eles devem estar preparados para identificar situações de saúde que podem gerar restrições temporárias à prática de exercícios.
"As mais comuns são a hipertensão e o diabetes mal controlado. É preciso acompanhamento médico e ajuste da medicação para a pessoa retomar o treino", diz o cardiologista José Kawazoe Lazzoli, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte.
Kawazoe afirma que uma boa academia deve ter uma equipe com treinamento periódico em primeiros socorros e um desfibrilador externo automático. A legislação brasileira não obriga toda academia a ter esse aparelho. A obrigatoriedade, definida por leis estaduais ou municipais, está relacionada à concentração ou circulação média diária de pessoas -em geral, algo entre mil e 1.500 pessoas.
Waldyr Soares, da Fitness Brasil, especula que o investimento em equipamentos de segurança e até em médicos fixos nas academia pode ser um diferencial de marketing.
"As redes ficam procurando estratégias para atrair e reter alunos, oferecendo brindes, camisetas. Mas o maior brinde é a sua vida. É preciso se preparar para mostrar a esses clientes [mais velhos] que eles vão ter segurança; "venha alongar a sua vida, mas não morra"."
O segredo, para o bancário aposentado Antônio Ferreira Batista, 93, é não exagerar.
"Tenho um companheiro de esteira que não passa de 2 km por hora. Eu faço 5 km. Está bom demais."
Antônio, que colocou marca-passo há cinco anos, treina cinco vezes por semana e faz cerca de 30 minutos esteira todo dia. Está ótimo.



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Colaborou JEANINE LEMOS

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