O ex-jogador Sócrates excluiu o Brasil da sua lista de favoritos para ganhar a Copa do Mundo de 2010 e disse que a seleção terá dificuldades até para passar da primeira fase do torneio.
"Acho que o Brasil fisicamente está muito mal neste momento. Estou extremamente preocupado", disse o ex-capitão da seleção à BBC Brasil, nesta quarta-feria, em Johanesburgo, onde ele divulga o projeto social 1 Gol, uma iniciativa mundial para ligar o futebol à educação.
Para ele, as seleções com mais chances de conquistar o título no dia 11 de julho são Argentina, Inglaterra, Holanda e Espanha.
"Mas o futebol hoje está muito feio. Não há mais espetáculo, não há mais arte. É só uma correria desenfreada", define.
Aqui os principais trechos da entrevista.
BBC Brasil - Quais são as suas expectativas para esta Copa do Mundo?
Sócrates - Espero que, pelo menos, o mundo se dê conta dos problemas africanos, principalmente os dos países da zona equatorial. A grande vantagem de se realizar uma Copa aqui é tentar levantar as questões da realidade africana para que o desenvolvimento chegue aqui de uma forma mais agressiva. Este continente foi extremamente explorado por colonizações extrativistas. Destruiu-se muito da estrutura cultural e social de vários países.
BBC Brasil - Sempre que se realiza uma Copa do Mundo ou uma Olimpíada se fala muito em legado. No caso da África do Sul e no caso do Brasil, para 2014, há muita gente criticando a realização desses eventos. Qual é a sua opinião?
Sócrates - Existe um interesse comercial muito grande em eventos desse tipo, mas também é algo que vai atrair praticamente todos os seres humanos do planeta. Então, os países precisam saber utilizar um grande evento esportivo direito.
Por exemplo, por que os países-sede não exigem determinadas coisas, em vez de aceitar ingenuamente aquilo que vem de fora, tanto do COI (Comitê Olímpico Internacional) como da Fifa? A Fifa chega aqui, toma todo o dinheiro de um povo, exige que não haja impostos, e o legado não é prioridade para ela. Porque a Fifa não tem nada a ver com a África do Sul, ou com o Brasil daqui a pouco.
Mas os países têm que exigir isso. Agora, se o país não se coloca, o problema não é da Fifa. O problema é da questão política e social que está em um projeto como este. É possível deixar um grande legado, desde que haja interesse.
BBC Brasil - E como você espera que seja no Brasil, em 2014?
Sócrates - Provavelmente no Brasil vai ser muito pior que aqui, porque está na mão de gente que não tem compromisso com nada, só com interesses pessoais. Ou seja, quem vai gerir a estruturação da Copa do Mundo no Brasil não tem nenhuma preocupação com a nação brasileira, querem é captar recurso para sei lá o quê.
Nós vamos fazer estádios desnecessários, em locais que não têm estrutura esportiva adequada, não têm política pública de esporte. Tomara que a linha se modifique. Mas até lá não teremos condições de formar recursos humanos, porque nunca nos preocupamos com isso.
Se for investido nisso, será um grande ganho para o país. É uma oportunidade única, temos dois eventos com dois anos de diferença e temos até seis anos para realizá-los. Será que vão investir nisso?
BBC Brasil - Passemos ao futebol. Quem, na sua opinião, são os favoritos para ganhar esta Copa?
Sócrates - Em primeiro lugar, o futebol está muito feio. Não tem mais espetáculo, não tem mais arte. É uma correria desenfreada, muito contato físico. E existe extremo equilíbrio em relação a isso (entre as seleções).
Existem ainda grandes jogadores que definem. Hoje, muito mais que há 40 anos, as equipes dependem de uma estrutura coletiva, mas têm que ter alguém que se destaque nessa estrutura.
Então acho que quem tem chances são: a Argentina, se o Maradona conseguir montar um time para o Messi; a Inglaterra, se o Rooney estiver bem; a Holanda, se o Robben estiver bem; e a Espanha, que tem um grande time, mas precisa de alguém de destaque.
BBC Brasil - O Brasil não está na sua lista?
Sócrates - Eu não estou gostando do Brasil. Estou extremamente preocupado. Acho que o time está muito mal fisicamente, neste momento. Acho que o Brasil vai ter até dificuldade de passar da primeira fase. Isso não quer dizer que não tenha condição de ganhar. Se ele andar e a condição física dos atletas melhorar durante a Copa, a seleção tem grandes chances de brilhar. É a que tem mais jogadores que podem definir isso.
BBC Brasil - Como você vê o estilo do técnico Dunga, que é considerado muito diferente do estilo da seleção nas décadas de 70 e 80?
Sócrates - O estilo do futebol brasileiro hoje é uma agressão à nossa cultura. Está voltado para a competitividade, que é uma coisa que não tem nada a ver com a gente. Nossa cultura é extremamente liberta, criativa, voltada para o talento individual, para a habilidade. Hoje se joga por resultado. O Brasil pode até ganhar, mas eu não tenho prazer nenhum em ver um time jogar assim.
BBC Brasil - Dunga também foi muito criticado por ter deixado de fora os novos talentos do Santos e Ronaldinho Gaúcho. O que você acha?
Sócrates - Além desses que você mencionou, tem outros também. O Alex (do Fenerbace, da Turquia) é um grande jogador. O Pato é muito melhor que todos os outros que estão aí. Acho que ele (Dunga) talvez tenha optado por jogadores que sejam mais fáceis de manipular.
BBC Brasil - A seleção de 1982 é chamada, fora do Brasil, do "time dos sonhos" do futebol. Que equipe deste Mundial de 2010 tem o estilo mais parecido com aquele?
Sócrates - Ninguém. Não tem ninguém que hoje faça o futebol-arte. Os africanos perderam a ingenuidade a partir do momento em que começaram a atrair treinadores europeus. Eles apareceram para o futebol mundial como o Brasil fez décadas antes. Mas depois que começaram a importar técnicos estrangeiros - com a filosofia extremamente burocrática - eles ficaram presos. E o ser livre quando preso.
Fonte: UOL/Maria Luisa Cavalcanti - Enviada especial da BBC Brasil a Johanesburgo
"Acho que o Brasil fisicamente está muito mal neste momento. Estou extremamente preocupado", disse o ex-capitão da seleção à BBC Brasil, nesta quarta-feria, em Johanesburgo, onde ele divulga o projeto social 1 Gol, uma iniciativa mundial para ligar o futebol à educação.
Para ele, as seleções com mais chances de conquistar o título no dia 11 de julho são Argentina, Inglaterra, Holanda e Espanha.
"Mas o futebol hoje está muito feio. Não há mais espetáculo, não há mais arte. É só uma correria desenfreada", define.
Aqui os principais trechos da entrevista.
BBC Brasil - Quais são as suas expectativas para esta Copa do Mundo?
Sócrates - Espero que, pelo menos, o mundo se dê conta dos problemas africanos, principalmente os dos países da zona equatorial. A grande vantagem de se realizar uma Copa aqui é tentar levantar as questões da realidade africana para que o desenvolvimento chegue aqui de uma forma mais agressiva. Este continente foi extremamente explorado por colonizações extrativistas. Destruiu-se muito da estrutura cultural e social de vários países.
BBC Brasil - Sempre que se realiza uma Copa do Mundo ou uma Olimpíada se fala muito em legado. No caso da África do Sul e no caso do Brasil, para 2014, há muita gente criticando a realização desses eventos. Qual é a sua opinião?
Sócrates - Existe um interesse comercial muito grande em eventos desse tipo, mas também é algo que vai atrair praticamente todos os seres humanos do planeta. Então, os países precisam saber utilizar um grande evento esportivo direito.
Por exemplo, por que os países-sede não exigem determinadas coisas, em vez de aceitar ingenuamente aquilo que vem de fora, tanto do COI (Comitê Olímpico Internacional) como da Fifa? A Fifa chega aqui, toma todo o dinheiro de um povo, exige que não haja impostos, e o legado não é prioridade para ela. Porque a Fifa não tem nada a ver com a África do Sul, ou com o Brasil daqui a pouco.
Mas os países têm que exigir isso. Agora, se o país não se coloca, o problema não é da Fifa. O problema é da questão política e social que está em um projeto como este. É possível deixar um grande legado, desde que haja interesse.
BBC Brasil - E como você espera que seja no Brasil, em 2014?
Sócrates - Provavelmente no Brasil vai ser muito pior que aqui, porque está na mão de gente que não tem compromisso com nada, só com interesses pessoais. Ou seja, quem vai gerir a estruturação da Copa do Mundo no Brasil não tem nenhuma preocupação com a nação brasileira, querem é captar recurso para sei lá o quê.
Nós vamos fazer estádios desnecessários, em locais que não têm estrutura esportiva adequada, não têm política pública de esporte. Tomara que a linha se modifique. Mas até lá não teremos condições de formar recursos humanos, porque nunca nos preocupamos com isso.
Se for investido nisso, será um grande ganho para o país. É uma oportunidade única, temos dois eventos com dois anos de diferença e temos até seis anos para realizá-los. Será que vão investir nisso?
BBC Brasil - Passemos ao futebol. Quem, na sua opinião, são os favoritos para ganhar esta Copa?
Sócrates - Em primeiro lugar, o futebol está muito feio. Não tem mais espetáculo, não tem mais arte. É uma correria desenfreada, muito contato físico. E existe extremo equilíbrio em relação a isso (entre as seleções).
Existem ainda grandes jogadores que definem. Hoje, muito mais que há 40 anos, as equipes dependem de uma estrutura coletiva, mas têm que ter alguém que se destaque nessa estrutura.
Então acho que quem tem chances são: a Argentina, se o Maradona conseguir montar um time para o Messi; a Inglaterra, se o Rooney estiver bem; a Holanda, se o Robben estiver bem; e a Espanha, que tem um grande time, mas precisa de alguém de destaque.
BBC Brasil - O Brasil não está na sua lista?
Sócrates - Eu não estou gostando do Brasil. Estou extremamente preocupado. Acho que o time está muito mal fisicamente, neste momento. Acho que o Brasil vai ter até dificuldade de passar da primeira fase. Isso não quer dizer que não tenha condição de ganhar. Se ele andar e a condição física dos atletas melhorar durante a Copa, a seleção tem grandes chances de brilhar. É a que tem mais jogadores que podem definir isso.
BBC Brasil - Como você vê o estilo do técnico Dunga, que é considerado muito diferente do estilo da seleção nas décadas de 70 e 80?
Sócrates - O estilo do futebol brasileiro hoje é uma agressão à nossa cultura. Está voltado para a competitividade, que é uma coisa que não tem nada a ver com a gente. Nossa cultura é extremamente liberta, criativa, voltada para o talento individual, para a habilidade. Hoje se joga por resultado. O Brasil pode até ganhar, mas eu não tenho prazer nenhum em ver um time jogar assim.
BBC Brasil - Dunga também foi muito criticado por ter deixado de fora os novos talentos do Santos e Ronaldinho Gaúcho. O que você acha?
Sócrates - Além desses que você mencionou, tem outros também. O Alex (do Fenerbace, da Turquia) é um grande jogador. O Pato é muito melhor que todos os outros que estão aí. Acho que ele (Dunga) talvez tenha optado por jogadores que sejam mais fáceis de manipular.
BBC Brasil - A seleção de 1982 é chamada, fora do Brasil, do "time dos sonhos" do futebol. Que equipe deste Mundial de 2010 tem o estilo mais parecido com aquele?
Sócrates - Ninguém. Não tem ninguém que hoje faça o futebol-arte. Os africanos perderam a ingenuidade a partir do momento em que começaram a atrair treinadores europeus. Eles apareceram para o futebol mundial como o Brasil fez décadas antes. Mas depois que começaram a importar técnicos estrangeiros - com a filosofia extremamente burocrática - eles ficaram presos. E o ser livre quando preso.
Fonte: UOL/Maria Luisa Cavalcanti - Enviada especial da BBC Brasil a Johanesburgo
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