Valeu, Guga

Guga, emocionado, ao final da partida de ontem em Sauípe/Ba


Estive na noite passada em Sauípe e vi o público amante do esporte viver um momento de emoção muito rara. Foi emoção do começo ao fim, desde a entrada de Guga em quadra, já enxugando algumas lágrimas ao som da música EMOÇÕES de Roberto Carlos. Tive a oportunidade de rever velhos amigos que há tempos não via.

Após de anos de luta contra uma contusão séria nos quadris, adquirida quando ainda era o número 1 do ranking mundial, e que o levou em duas ocasiões à sala de cirurgia, Guga iniciou sua turnée de despedida em partida de primeira rodada no Brasil Open na Costa do Sauípe, a cerca de 100 Km ao Norte de Salvador/Ba. O torneio de Sauípe é o mais importante do calendário do tênis na América Latina, com dotação próxima de US$ 500 mil dólares.

Ele ainda deverá participar de alguns torneios na Europa, encerrando definitivamente sua carreira em Paris no final de maio nas quadras de Roland Garros, onde ainda é um grande ídolo e onde foi tri campeão, 1.997, 2000 e 2.001.

Fortemente prejudicado pela contusão, é nítida a precária condição física de Guga, que o faz se deslocar nas quadras com uma velocidade bem abaixo do exigido pelo alto nível das competições profissionais. Mesmo oferecendo alguma resistência no primeiro set, onde em certos momentos fez a torcida acreditar que poderia ganhar o jogo, Guga foi batido em dois sets pelo consistente argentino Carlos Berloque, atual número 74 do ranking mundial.

Após a partida, Guga discursou emocionado, fez uma justa declaração de reconhecimento ao seu treinador Larri Passos. Pediu desculpas ao público pelo fato de não conseguir mais jogar em alto nível como no passado. O bom público presente a Sauípe, que o incentivou durante toda a partida, no final o aplaudiu de pé durante alguns minutos.

Arrocha o Cabra

Acompanhei desde quando ele era juvenil, há mais de quinze anos, a carreira desse que foi o maior tenista brasileiro de todos os tempos e um dos dez maiores do mundo. Assisti pessoalmente a dezenas de partidas dele aqui tanto aqui em Salvador, como em Florianópolis, São Paulo, Rio de Janeiro e fora do Brasil, em Nova Iorque e Paris.

Guga sempre foi muito carismático e costumava, nos bons tempos, lotar qualquer estádio neste mundo a fora. No torneio de Roland Garros, na capital francesa, vi Guga duelar em 2.002 contra o forte tenista chileno Fernando Gonzales com a quadra literalmente lotada. Jogo duríssimo, com o nosso Guga ganhando os dois primeiros sets, mas perdendo o terceiro. O quarto set se desenrolava numa dura disputa ponto a ponto, tendo no final Guga saído com a vitória. Nesse quarto set, o público muito atento, naquele silêncio quase absoluto, ouviu-se de repente bem alto uma voz, vinda da platéia, com carregado sotaque nordestino:

- “Arrocha o Cabra, Guga”.

Boa parte do público formada por brasileiros quase morre de tanto rir. Os franceses e os de outras nacionalidades presentes, sem nada entenderem, ficaram extasiados diante daquela explosão de gargalhada à brasileira. Foi muito engraçado.

Guga perdeu no jogo seguinte para o tenista espanhol Albert Costa, que acabou se sagrando campeão do torneio naquele ano. Vi pessoalmente nesse dia, em Roland Garros, o quanto nosso Guga era idolatrado na França. Ao final da partida, os franceses gritando o nome do ídolo, com carregado sotaque francês: Gugaaa, Gugaaa, Gugaaa. Costa, um jogador mediano em grande dia, mesmo sendo o vencedor, ali no canto esquecido e o estádio inteiro gritando o nome de nosso Gustavo Kuerten. É que esse jogo foi logo poucos meses após a primeira cirurgia e Guga por isso teve a presença ameaçada, onde justamente ele tinha sido campeão em três temporadas, inclusive nos dois anos anteriores. Emocionante!

Ao perdedor, os aplausos – Igualmente como em 2.002 em Roland Garros, na noite passada em Sauípe, Guga, mesmo perdendo, foi delirantemente aplaudido. Ídolo é ídolo! Para muitos, no esporte brasileiro ele só é superado talvez por Ayrton Senna e Pelé.

Sérgio Almeida Franco, Salvador/Ba