sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Trabalho de Waldo Pessoa permanece

Raquel Chaves da Redação Jornal OPOVO

O oftalmologista Waldo Pessoa morreu aos 69 anos, durante assalto a sua clínica. A missa de um ano de sua morte será hoje



A Sociedade de Assistência aos Cegos (SAC), mais conhecida como Instituto dos Cegos, perdeu seu chão exato um ano atrás. Levaram-lhe Francisco Waldo Pessoa de Almeida, à época com 69 anos. Fosse tarefa simples ou complexa, era o "Doutor Waldo" quem coordenava tudo por lá, até o dia em que foi assassinado na porta de sua clínica, durante uma tentativa de assalto, no dia 14 de dezembro de 2006. Depois de três dias de paralisação total nas atividades, elas foram retomadas. Mas o vazio e o sentimento de indignação permanecem.

Depois de mais de 40 anos atuando ao lado do marido no Instituto, Maria Josélia Sá de Almeida foi indicada para completar o mandato de Waldo Pessoa, que iria até 2009. De acordo com Josélia, o "mesmo padrão" de atendimento só foi conseguido graças à solidariedade dos outros médicos e funcionários do local. "Tenho que agradecer a todos os médicos que continuaram do meu lado. Eles permanecem. São muito antigos e muito bons. Fiquei muito emocionada com o apoio deles. No meio de tanta desgraça, a gente encontra sempre apoio", diz Josélia. Voz embargada.

Um dos problemas enfrentados atualmente é a interrupção temporária dos transplantes de córnea. "A gente não teve condição de continuar. Era mais o Waldo quem fazia os transplantes. A gente teve que desativar. Tem muita gente na fila, mas daqui pra fevereiro (de 2008), se Deus quiser, a gente vai retomar", afirma Josélia. Para Arnaldo Felipe de Almeida, um dos quatro filhos do oftalmologista, a ausência do pai no Instituto foi muito sentida. "Tivemos que readaptar muita coisa, porque ele era a pessoa que estava praticamente diuturnamente aqui. Tivemos muita dificuldade, mas temos que superar", afirma Arnaldo, que trabalha há três anos no departamento financeiro do Instituto.

Waldo Pessoa era conhecido por sua simplicidade e generosidade com os que precisavam dele. "Ele curava a vista da gente", disse o pequeno Jonatan Souza da Costa durante o enterro do médico, um dia após sua morte. Na ocasião, o menino de então sete anos pediu para homenagear quem chamava de "amigo" com uma rosa branca. Jonatan sofre com um glaucoma (aumento da pressão intra-ocular que causa danos no nervo óptico) desde bebê, quando passou pela primeira cirurgia. Ele é um dos que enxergam hoje graças ao médico, que deixou quatro filhos, cinco netos e centenas de "órfãos" dos cuidados e do carinho de Waldo Pessoa.

SERVIÇO
A missa em ação de graças de um ano da morte de Waldo Pessoa será realizada às 19 horas de hoje, na Igreja do Cristo Rei, em frente ao Colégio Militar de Fortaleza (CMF). A família estende o convite a amigos e ex-pacientes do médico. Sociedade de Assistência aos Cegos (SAC): avenida Bezerra de Menezes, 892 - São Gerardo. Telefone: (85) 3281 6111. Site: www.sac.org.br. E-mail: sac@secrel.com.br.

PARA ENTENDER O CASO
14 de dezembro de 2006 - O oftalmologista Waldo Pessoa, 69, é morto com cinco tiros ao tentar reagir ao assalto em sua clínica, na avenida Bezerra de Menezes, no Otávio Bonfim. Um dos bandidos entrou na clínica e se passa por paciente, pedindo para marcar uma consulta. Logo em seguida, entra o outro assaltante. Os dois rendem as atendentes, a filha de uma delas e mais quatro pacientes. Um dos bandidos se dirige à sala do médico. Há troca de tiros, já que o médico tinha uma arma na sala, ocasionando a morte do médico e de um dos dois criminosos, Washington de Oliveira. O outro assaltante, o ex-sargento da Polícia Militar Antônio Edísio Lima de Souza fugiu, mas foi preso dias depois.

MAIS SOBRE O INSTITUTO
Liderado pelo médico oftalmologista Hélio Góes Ferreira, um grupo de pessoas fundou no Ceará, no dia 2 de agosto de 1942, a Sociedade de Assistência aos Cegos (SAC), mais conhecida como Instituto dos Cegos. Primeiramente, foi instalada a Assembléia Geral de Fundação da SAC, no Clube Iracema, na rua Coronel Bezerril, 751 - 2º andar, em Fortaleza. O atendimento é igualitário, tanto para pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), quanto para conveniados e clientes particulares. Os recursos obtidos beneficiam os deficientes visuais nas áreas de educação, profissionalização e também de prevenção à cegueira. Lá são realizadas cirurgias e diagnósticos clínicos especializados em pacientes portadores de patologias oftalmológicas diversas.

A SAC tem caráter filantrópico e atua nas áreas de saúde, educação, profissionalização e integração social da pessoa portadora de cegueira. A entidade realiza cirurgias de pequeno, médio e grande porte, incluindo transplante de córnea, procedimentos a laser e exames especiais em crianças portadoras de polideficiência, realizados sob sedação ou anestesia geral.

Cerca de 60% do atendimento é realizado pelo SUS, sendo atendidos aproximadamente 1.300 pacientes por mês. Aos sábados, são realizadas operações a preços mais baixos, para a população de menor poder aquisitivo, quando o valor chega a 80% a menos que o normal. A entidade é formada pelo Instituto Hélio Góes, que atende 250 alunos com deficiência visual, pelo Hospital Alberto Baquit Júnior, pela Unidade Oftalmológica Iêda Otoch Baquit, pela Biblioteca Braille Josélia Almeida, pelo Centro de Prevenção à Cegueira Cel. José Bezerra de Arruda, entre outros programas.
Fonte: Banco de dados e site oficial da Sociedade de Assistência aos Cegos (www.sac.org.br)

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