Uma prova da grande popularidade de Alencar é fornecida por sua conterrânea e parente distante, Rachel de Queiroz, num artigo escrito para a edição completa das obras de Alencar na Editora José Olympio. Rachel de Queiroz refere que as obras de Alencar – sobretudo O Guarani e Iracema – são continuamente publicadas em todas as formas possíveis: “Tem sido publicado de todas as maneiras – em folhetim popular, ou comentado por eruditos, anda em papel jornal nas edições de cordel, ou sai nas coleções de luxo destinadas a bibliófilos.” Ela cita Sílvio Romero, que teria dito que Alencar não teria feito mais que criar novos nomes, pois por toda a parte andavam “as Iracemas, e os Moacires que abundam”. Rachel de Queiroz acrescenta que Alencar não apenas difundiu esses dois nomes, mas que chegou a revolucionar os livros de batistério nacionais.
De Norte a Sul existem aos milhares os Peri, Araquém, Caubi, Jacaúna, Irapuã, Ubirajara, Jurandir, Jandira, Araci. Mesmo o cão Japi teria encontrado homônimos cristãos, igualmente o adjetivo “Diva” se teria difundido como nome de pessoa, da mesma forma que Lucíola. Existem até lugares no Brasil onde o nome Iracema é o segundo na ordem de frequência, perdendo apenas para Maria. Entre os emigrantes alemães no Sul batizaram-se muitas meninas louras: Iracema Rann, Iracema Ruschel, Iracema Lersch, Iracema Jahn Fett, Iracema Knack, Iracema Müller. Rachel de Queiroz acha que não se pode pôr em dúvida que Alencar criou tipos que saíram definitivamente do papel para o coração das gentes. Ele criou figuras às quais “o sentimento popular confere uma existência real: “Peri, Ceci, Iracema, são parentes, são amigos, são figuras vivas.”
Essas figuras aparecem nas toadas sertanejas, nas cantorias, nas canções de carnaval, nas anedotas. Também nos lugares relacionados com estas figuras em sua suposta vida elas estão presentes como “fantasmas permanentes”. Assim, Porangaba continua a ser “a lagoa onde Iracema se banhava”, e a praia onde ela sofreu e morreu chama-se “Praia de Iracema.
Frases e pedaços de frases desta poesia passaram para a linguagem comum, transformando-se em clichês que os bons escritores têm necessidade de evitar: Ninguém fala nas praias do Ceará sem citar os verdes mares bravios, e ninguém pensa em jandaia sem ser nas frondes da carnaúba. Rápida como a ema selvagem é frase feita que está na boca de todos, talhe de palmeira, cabelo negro como a asa da graúna são expressões já banalizadas, que o escriba consciencioso evita com cautela. Nem sequer Machado de Assis, “o ídolo dos letrados”, poderia concorrer com esta afeição popular.
Rachel de Queiroz refere sobre um programa de rádio que ela teria ouvido, intitulado “Curiosidades Literárias”, ou coisa parecida. Tratava-se de um programa de auditório com perguntas e respostas. O público deste programa comumente consiste de elementos das classes trabalhadoras e da chamada “pequena classe média”, de instrução em geral primária, quando a tem alguma. São caixeiros em folga, garçonetes, moças do subúrbio, ginasianos, soldados, empregadas domésticas.
O locutor apresentou a primeira pergunta: “De quem eram os olhos de ressaca, olhos de cigana oblíqua e dissimulada?” Ninguém sabia, o gongo tocou e ninguém identificou Capitu, a personagem principal de Dom Casmurro, de Machado de Assis. Mas quando o locutor, aos gritos, porque estava certo do sucesso, perguntou: “E quem era a virgem dos lábios de mel?”, quase o auditório veio abaixo no brado unânime da assistência; “IRACEMA”.
Texto de Ingrid Schwamborn, A Recepção dos Romances Indianistas de José de Alencar, p. 140ss.
–Tradução e adaptação de Carlos Almeida.
De Norte a Sul existem aos milhares os Peri, Araquém, Caubi, Jacaúna, Irapuã, Ubirajara, Jurandir, Jandira, Araci. Mesmo o cão Japi teria encontrado homônimos cristãos, igualmente o adjetivo “Diva” se teria difundido como nome de pessoa, da mesma forma que Lucíola. Existem até lugares no Brasil onde o nome Iracema é o segundo na ordem de frequência, perdendo apenas para Maria. Entre os emigrantes alemães no Sul batizaram-se muitas meninas louras: Iracema Rann, Iracema Ruschel, Iracema Lersch, Iracema Jahn Fett, Iracema Knack, Iracema Müller. Rachel de Queiroz acha que não se pode pôr em dúvida que Alencar criou tipos que saíram definitivamente do papel para o coração das gentes. Ele criou figuras às quais “o sentimento popular confere uma existência real: “Peri, Ceci, Iracema, são parentes, são amigos, são figuras vivas.”
Essas figuras aparecem nas toadas sertanejas, nas cantorias, nas canções de carnaval, nas anedotas. Também nos lugares relacionados com estas figuras em sua suposta vida elas estão presentes como “fantasmas permanentes”. Assim, Porangaba continua a ser “a lagoa onde Iracema se banhava”, e a praia onde ela sofreu e morreu chama-se “Praia de Iracema.
Frases e pedaços de frases desta poesia passaram para a linguagem comum, transformando-se em clichês que os bons escritores têm necessidade de evitar: Ninguém fala nas praias do Ceará sem citar os verdes mares bravios, e ninguém pensa em jandaia sem ser nas frondes da carnaúba. Rápida como a ema selvagem é frase feita que está na boca de todos, talhe de palmeira, cabelo negro como a asa da graúna são expressões já banalizadas, que o escriba consciencioso evita com cautela. Nem sequer Machado de Assis, “o ídolo dos letrados”, poderia concorrer com esta afeição popular.
Rachel de Queiroz refere sobre um programa de rádio que ela teria ouvido, intitulado “Curiosidades Literárias”, ou coisa parecida. Tratava-se de um programa de auditório com perguntas e respostas. O público deste programa comumente consiste de elementos das classes trabalhadoras e da chamada “pequena classe média”, de instrução em geral primária, quando a tem alguma. São caixeiros em folga, garçonetes, moças do subúrbio, ginasianos, soldados, empregadas domésticas.
O locutor apresentou a primeira pergunta: “De quem eram os olhos de ressaca, olhos de cigana oblíqua e dissimulada?” Ninguém sabia, o gongo tocou e ninguém identificou Capitu, a personagem principal de Dom Casmurro, de Machado de Assis. Mas quando o locutor, aos gritos, porque estava certo do sucesso, perguntou: “E quem era a virgem dos lábios de mel?”, quase o auditório veio abaixo no brado unânime da assistência; “IRACEMA”.
Texto de Ingrid Schwamborn, A Recepção dos Romances Indianistas de José de Alencar, p. 140ss.
–Tradução e adaptação de Carlos Almeida.
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