"Frente a" e "face a": veja como evitar essas expressões
Por Thaís Nicoleti
"Os serviços de assistência à saúde mental em países em desenvolvimento não estão conseguindo atender às necessidades de tratamento dos pacientes, face à alta morbidade psiquiátrica na população."
"Somente mudando olhares e atitudes frente a problemas que antes pareciam distantes de nós é que poderemos caminhar para uma sociedade mais justa e harmônica, na qual os direitos humanos, especialmente os dos pequenos cidadãos em desenvolvimento, sejam devidamente assegurados."
"Naquele momento, ele contrastava com a paisagem de casarões. Hoje, chama atenção pela discrição, mas se destaca frente aos edifícios corporativos de vidro', observa Segawa."
Certas expressões parecem ingressar nas páginas de jornais e revistas por força de traduções apressadas, literais, que não levam em conta o arcabouço de termos e locuções disponíveis na língua.
Esse tema é sempre delicado porque é justamente a insistência em certos usos linguísticos que os torna apropriados, cabíveis, enfim, "corretos", se quisermos usar um termo melindroso.
O fato é que os dicionários mais atualizados vão incorporando as realizações consideradas legítimas, por necessárias ou úteis, mesmo que algumas delas continuem discutíveis. Ao fazerem isso, abonam, por assim dizer, o uso dessas formas novas.
As expressões destacadas nos trechos acima, entretanto, não estão entre essas abonações. Em língua portuguesa, as locuções de base substantiva têm uma preposição que antecede o substantivo. Em outras palavras, não se diz "face a", mas "em face de"; não se diz "frente a", mas "em frente de", "à frente de", "de frente para" etc.
Até aí, parece simples. Basta, então, encaixar nas expressões as ditas preposições faltantes? É preciso tomar cuidado, pois nem sempre isso será o bastante para alcançar o sentido pretendido, sobretudo em se tratando das locuções cuja base é o substantivo "frente."
No primeiro texto, de fato, bastava trocar "face à" por "em face da", que preserva a noção de causa. No segundo fragmento, entretanto, é fácil perceber que a história é outra. Nesse caso, a expressão "frente a" é bem substituída por "diante de" ou por "ante" ("...atitudes diante de problemas...", "...atitudes ante problemas..."). Duas observações: em "diante de", não ocorre a primeira preposição porque "diante" não é um substantivo; "ante" já é uma preposição, portanto não se usa outra preposição depois, algo como "ante a" - "ante" e "perante" já são preposições.
No terceiro trecho escolhido, o ideal seria dizer que o edifício em questão se destaca "em meio aos edifícios corporativos de vidro". A própria ideia de "destacar" sugere a ideia expressa por "em meio a".
Enfim, a língua portuguesa dispõe de grande quantidade de termos, capazes de exprimir as sutilezas do nosso modo de pensar. É tão prazeroso ler um texto cujas palavras são escolhidas com precisão! Veja, abaixo, as sugestões:
Os serviços de assistência à saúde mental em países em desenvolvimento não estão conseguindo atender às necessidades de tratamento dos pacientes, em face da alta morbidade psiquiátrica na população.
Somente mudando olhares e atitudes diante de problemas que antes pareciam distantes de nós é que poderemos caminhar para uma sociedade mais justa e harmônica, na qual os direitos humanos, especialmente os dos pequenos cidadãos em desenvolvimento, sejam devidamente assegurados.
"Naquele momento, ele contrastava com a paisagem de casarões.
Hoje, chama a atenção pela discrição, mas se destaca em meio aos edifícios corporativos de vidro", observa Segawa.
Fonte: Educação/UOL
sábado, 22 de maio de 2010
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