Talis Andrade
Agora entendo, Senhor,
a imensa e eterna solidão
de quem está preso
à árvore da desolação.
Agora entendo
o terror dos pregos
fixando os teus pés
de andarilho,
o terror dos pregos
lancinando a carne.
Agora entendo o ultraje
de cobrirem tua nudez
com um manto escarlate,
ornamento e cor
privativos dos césares
nas reuniões solenes.
Agora entendo
a humilhação, a dor
dos espinhos ferindo
tua fronte
que não faz sete dias
quiseram coroar.
Agora entendo
tua imensa angústia:
os olhos contemplando os sonhos
que tuas mãos dilaceradas
procuraram semear.
Só agora entendo
teu imenso abandono:
os olhos buscando os lugares
onde a Palavra foi um dia ouvida,
onde tua Palavra amiga
foi consolo dos que choram,
dos que têm sede de justiça.
Ó Senhor, teus olhos de infinita doçura
percorrem os caminhos
que teus pés marcaram com sangue.
Os olhos buscam a cidade na lonjura.
A cidade, que não faz uma semana
te recebeu em festas,
hoje te considera indigno
de que morras no seu chão.
E fora dos muros
da cidade
todos te abandonaram,
indiferentes ao teu coração
latejante de paixão
sábado, 3 de abril de 2010
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