Gostaria de apresentar duas famílias que conheci em minha atividade profissional. Trata-se de uma família que funciona e de outra que não funciona. Vamos descobrir por que as duas famílias são tão diferentes.
A família A é constituída da avó, pais, e um casal de filhos. A família B é formada apenas por pai, mãe e uma filha. A família A vive em condições modestas, embora não esteja passando necessidade. A família B pertence à classe média alta. Sobre a família A recaiu uma sombra de sofrimento, pois um acidente esportivo deixou a filha cega de um olho. Os membros da família B gozam de boa saúde. Os fatos até aqui mencionados parecem denunciar que a família B tem condições mais favoráveis de vida: prosperidade, saúde, e uma liberdade de movimentos relativamente grande, graças ao menor número de pessoas. Será que essas condições favoráveis resultam em um clima familiar confortável?
O pai da família B é gerente de um pequeno negócio e é responsável por ele. À noite, ele chega em casa tarde e cansado, recolhendo-se ao seu escritório, onde lê revistas especializadas para ficar em dia com as vertiginosas mudanças no ramo dos computadores. Não gosta de fazer refeições em comum, ainda mais com a impertinência da filha, porque ao longo do dia ele tem que falar e negociar muito, e à noite prefere descansar. No fim de semana ele é mais acessível à família, mas não raro percebe que os seus não têm muito interesse em conversar com ele – a mulher e a filha têm seus próprios planos para o domingo. Assim, pela manhã ele freqüenta rodas de chope ou então se encontra com conhecidos e passa várias horas do fim de semana nos bares. A mãe é versada em cosméticos e muito ligada à moda. Dá muito valor à aparência e sempre se veste com elegância. Por isso fica muito perturbada quando sua filha anda com os cabelos desalinhados ou veste calças jeans remendadas. Por causa disso, constantemente há atritos. Quando a mãe volta para casa, por volta das cinco da tarde, a filha quase sempre “sumiu”, e só os pratos sujos na cozinha e o material escolar jogado desordenadamente revelam sua rápida passagem – mais uma coisa que não contribui para uma boa relação entre as duas. Depois, enquanto a mãe arruma a casa e prepara a comida, ela começa a resmungar, descarregando sua raiva sobre a filha logo que ela chega. Por causa disso, a filha pega o prato e desaparece, indo para o quarto, onde fica trancada. Não tendo com quem conversar, a mãe senta-se na frente da televisão, mastigando sua ceia e mergulhando no mundo da tela, enquanto sonha com a felicidade perdida. A filha é uma jovem dos tempos modernos: precoce, contestadora e muito informada sobre seus direitos e vantagens. Está concluindo o ensino fundamental com resultados inconstantes, mais para modestos, e no tempo livre encontra-se com a turminha, faz passeios de moto que geralmente terminam em discotecas; no verão vai à piscina onde os jovens ouvem música, fumam e namoram. Os planos vocacionais da menina são vagos; quando perguntam sobre sua relação com os pais, ela responde com um gesto de desprezo, e sua filosofia de vida não demora a ser formulada: “O principal é que eu esteja bem!”
Essa é a família B, que a rigor nem sequer chega a ser uma comunidade familiar, já que cada um segue seu próprio caminho. Voltemo-nos agora para a família A, que vive em condições mais difíceis: uma velha avó, mentalmente ainda em forma, mas que fisicamente já não está mais tão capaz; uma menina que perdeu uma vista e que encontra consideráveis dificuldades na escola; um menino pequeno que, por causa de sua vivacidade, exige muita atenção; um pai que ganha apenas o suficiente; e uma mãe bastante estressada.
Nessa família estabeleceram-se determinados hábitos, de acordo com os quais uns ajudam a carregar os fardos dos outros. A avó assumiu duas obrigações: pela manhã ela ajuda na cozinha, tomando conta de atividades como, por exemplo, lavar as verduras; e à tarde ajuda a neta, deficiente visual (e que também tem dificuldades de leitura), exercitando-a na leitura e na escrita. A menina também tem uma obrigação a cumprir: prestar atenção ao irmão mais novo quando a mãe sai por várias horas para fazer faxina, com o fim de melhorar um pouco o orçamento doméstico. O menino é um verdadeiro sapeca, mas também ele assumiu uma tarefa que cumpre com entusiasmo: é o companheiro do pai no tempo livre. Mal o pai retorna do trabalho, o filho não sai mais do seu lado. Arrasta-se com ele para debaixo do carro quando o pai faz algum conserto, o que acontece com freqüência porque o carro é velho, e assiste com o pai todos os jogos de futebol na televisão. Junta os pedaços de madeira que o pai serra no porão e fica fascinado quando o pai, para variar, esculpe em um deles a cabeça de um brinquedo. O pai, manifestamente, se esforça para dar sua contribuição no orçamento da casa. Toma conta do aquecimento e dos consertos que com freqüência se fazem necessários em casa de uma família numerosa. Foi ele também que, há vários anos, concordou em receber na família a avó, o que para todos significou uma boa ajuda. A mãe representa o centro da família. Ela cuida de todos e de todos recebe alguma coisa de volta, seja o sorriso alegre de uma criança, seja um rápido beijo do marido em meio ao trabalho. A família A é uma família íntegra e uma comunidade feliz, à sua maneira modesta, apesar da escassez de dinheiro e do acidente sofrido pela filha.
Das duas constelações familiares não se deve concluir que as condições de vida favoráveis atraiam desgraças ou que devam ser desejadas condições de vida difíceis. Elas pretendem apenas mostrar que a alegria e o sofrimento da família não dependem necessariamente das condições exteriores. Existem fatores mais importantes, que desempenham um papel muito decisivo no que se refere ao bem-estar e à união de uma comunidade familiar. O que distingue a família A da família B não é a qualidade das circunstâncias de sua vida, mas as funções assumidas pelos diversos membros. Na família B não se consegue perceber que algum de seus membros exerça alguma função em favor de outro. Na família A, pelo contrário, cada membro possui sua tarefa com sentido, e ela está claramente definida.
Fonte: Elisabeth Lukas, Histórias que Curam, p. 52 ss.
Feliz aquele que teme o Senhor
e anda em seus caminhos:
comerás do fruto de tuas mãos,
serás feliz e prosperarás.
Tua esposa será videira fecunda
no interior de tua casa;
teus filhos, rebentos de oliveira
ao redor de tua mesa.
Eis como é abençoado o homem
que teme o Senhor.
Salmo 128
Enviado por Carlos Almeida Pereira, Campina Grande/Pb
domingo, 1 de junho de 2008
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