Um ermitão, uma destas pessoas que por amor a Deus se refugiam na solidão do deserto, do bosque ou das montanhas para se dedicarem somente à oração e penitência, muitas vezes reclamava que tinha muito que fazer.
Perguntaram-lhe como era possível que em sua solidão tivesse tanto trabalho?
- Tenho que domar dois falcões, treinar duas águias, manter quietos dois coelhos, vigiar uma serpente, carregar um asno e sujeitar um leão.
- Não vemos nenhum animal perto do local onde vives. Onde estão estes animais?
O ermitão explicou:
- Estes animais todos os homens têm, vocês também...
Os dois falcões se lançam sobre tudo o que aparece, seja bom ou mau.
Tenho que domá-los para que só fixem sobre uma boa presa: São meus olhos.
As duas águias ferem e destroçam com suas garras. Tenho que treiná-las para que sejam úteis e ajudem sem ferir: São minhas mãos.
Os dois coelhos querem ir onde lhes agrada, fugindo dos demais e esquivando-se das dificuldades. Tenho que lhes ensinar a ficarem quietos mesmo que seja penoso, problemático ou desagradável: São meus pés.
O mais difícil é vigiar a serpente, apesar de ela estar presa numa jaula de 32 barras. Está sempre pronta para morder e envenenar os que a rodeiam, mal se abre a jaula. Se não a vigio de perto, causa danos: É minha língua.
O burro é muito obstinado, não quer cumprir com suas obrigações. Alega estar cansado e se recusa a transportar a carga de cada dia: É meu corpo.
Finalmente, preciso domar o leão. Quer ser o rei, o mais importante; é vaidoso e orgulhoso: É meu coração.
Portanto, há muito que fazer...
Enviado por Arlindo de Almeida Simões, Fortaleza/Ce
domingo, 15 de junho de 2008
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