domingo, 8 de agosto de 2010

Sobre os Pecados Capitais



Certa vez, li nas páginas amarelas da revista VEJA uma entrevista de um consultor medalhão norte-americano, que a pessoa para ser feliz deveria praticar ao dia pelo menos três dos sete pecados capitais. Achei muito engraçado e confesso que gostei bastante da irônica opinião, com a qual acabei concordando. Hoje, a Danuza Leão em seu artigo semanal na FOLHA, tratou do mesmo assunto, igualmente de forma muito criativa.
Vejam o que ela escreveu:

DANUZA LEÃO

Pobre Deus

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Será que os sete pecados capitais (luxúria, gula, avareza, preguiça, ira, inveja e orgulho) valem?
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EXISTEM PALAVRAS que de tanto a gente não ouvir, até esquece que existem; uma delas é "pecado". Mas outro dia passei por um homem na rua distribuindo folhetos, olhei e estava escrito, bem grande: "Os sete pecados capitais". Levei para casa, mas antes de ler, tentei lembrar quais eram eles; fui só até o terceiro, que vexame.
O pecado acontece por atos, palavras ou pensamentos, e o pecador, para ser perdoado, tem que se arrepender sinceramente. Mas será possível que esses sete pecados capitais -a luxúria, a gula, a avareza, a preguiça, a ira, a inveja e o orgulho- continuam valendo?
A luxúria, por exemplo. Os programas de TV, os filmes, a moda, tudo é dirigido para despertar a sensualidade geral, e ai de quem, hoje, não for sexy. E alguém quer ficar fora desse admirável mundo, só porque é pecado? Duvido.
A gula. Não é possível considerar a gula um pecado, e atire a primeira pedra quem não é tentado diariamente por algum prato delicioso. A gastronomia virou moda, mas os gulosos são apontados como pecadores, o que deveria ser considerado um pecado.
A avareza. A economia estimula as pessoas a pensar no futuro e poupar. Mas como é pecado, vamos então gastar tudo, até o último centavo, para não sermos acusados de avarentos, isto é, pecadores. Não, isso não tem nada a ver com a realidade, e pobres dos que não são muito cautelosos com seu dinheiro.
A preguiça; ah, que delícia, a preguiça. Quem não gosta do fim de semana para poder não fazer nada? É uma injustiça dizer que isso é pecado. Se até Deus, depois de criar o mundo, tirou um dia para não fazer nada, vai dizer que nesse dia ele não exerceu o direito à preguiça?
A ira. É feia, a ira, mas ninguém consegue viver sem sentir um pouco de raiva, pelo menos às vezes. Raivas pequenas, quando alguém pega a vaga do carro que você já considerava sua, raivas maiores, contra as injustiças deste mundo em geral e a nós, em particular. Será que Deus nunca teve raiva?
A inveja. Quando se veem pessoas com a cuca totalmente fresca, dando risada, sem culpa de nada, não dá uma certa inveja? Dizem que existem a inveja boa e a má; não sei muito bem identificar a diferença entre as duas, mas confesso que tenho inveja dos que nunca se preocupam, e fico na dúvida. Será que é verdade, ou é tudo fingimento?
O orgulho. Mas o que é o orgulho mesmo? Se é o sentimento que se tem quando um filho faz uma coisa bacana, confesso que isso me acontece sempre. Aliás, cometo todos os sete pecados todos os dias, sou mesmo uma pecadora, e o pior é que não me arrependo de nenhum deles.
A religião não é o meu forte, e apesar de ter sido educada em colégio de freiras, ter aprendido o catecismo e ficado tantas vezes de castigo, ajoelhada no milho, não sei bem a diferença entre os pecados e os mandamentos da Lei de Deus. Os mandamentos são coisa mais séria, vê-se, mas mesmo assim, desobedecidos sem a menor cerimônia.
Não matar -é só abrir o jornal e ver quantos foram mortos na véspera; honrar pai e mãe -muitos filhos não só não os honram como até os matam; não cometer adultério -sem comentários; não desejar a mulher do próximo -também sem comentários. Não roubar -sem comentário algum.
Não cobiçar as coisas alheias (nem a pulseirinha da amiga). Não levantar falso testemunho contra seu próximo -mas os dossiês estão aí, cada vez mais frequentes.
Pobre Deus, que não podia imaginar como seria o mundo em 2010.

Fonte: Folha de São Paulo

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