sábado, 28 de agosto de 2010

Reposição de testosterona

DRAUZIO VARELLA


Alguns com mais de 70 anos mantém níveis próximos aos dos jovens, outros já têm concentrações baixas aos 40

OS NÍVEIS circulantes de testosterona caem com a idade. O declínio começa ao atingirmos a maturidade e prossegue à medida que envelhecemos, mas a velocidade de queda é muito variável. Alguns homens com mais de 70 anos mantém níveis próximos aos dos jovens, enquanto outros já apresentam concentrações baixas aos 40.
As alterações físicas e comportamentais causadas pelas variações fisiológicas levam à diminuição da massa óssea, da massa muscular e da força física, ao acúmulo de tecido adiposo, fadiga e tendência à depressão e à piora da função sexual. Como esses distúrbios são indistinguíveis do próprio processo de envelhecimento, é razoável supor que possam ser corrigidos por meio da administração de testosterona, à semelhança da reposição de hormônios femininos na menopausa.
As dificuldades estão na inexistência de critérios bem definidos para caracterizar o hipogonadismo nessa faixa etária, na dúvida sobre a eficácia do tratamento e na possibilidade de efeitos indesejáveis, como o aumento do risco de câncer de próstata.
Acabam de ser publicados dois estudos que procuram esclarecer essas questões.
O primeiro foi realizado com 3.219 homens de 40 a 79 anos, em oito países europeus, para estabelecer a relação entre sintomas e níveis de testosterona.
De uma lista inicial de 32 sintomas possivelmente associados à queda dos níveis de testosterona, apenas nove confirmaram guardar relação direta com ela: três deles ligados à sexualidade (frequência diminuída de ereções matinais espontâneas, de pensamentos eróticos e disfunção erétil), três sintomas físicos (dificuldade de praticar exercícios como correr ou levantar objetos pesados, incapacidade de andar mais de 1 km e de ajoelhar e levantar sem ajuda) e três sintomas "psicológicos" (falta de energia, fadiga e tristeza).
Os autores sugerem que o diagnóstico de hipogonadismo nos mais velhos deve levar em conta não apenas os níveis diminuídos de testosterona total (abaixo de 3,2 ng/mL), mas também a presença dos três grupos de sintomas citados.Usar apenas o critério clínico é desaconselhável, porque mais de 25% dos participantes com queixas de dificuldades sexuais apresentavam concentrações normais de testosterona, mostrando que a relação entre causa e efeito não é clara.
O segundo estudo foi conduzido por um grupo da Universidade de Boston entre homens com limitações de mobilidade, que apresentavam níveis baixos de testosterona (abaixo de 3,5 ng/ mL), com a finalidade de avaliar se a reposição hormonal seria capaz de aumentar a massa muscular e melhorar a sua movimentação.Foi planejado para incluir 252 homens com pelo menos 65 anos, com alta prevalência de doenças crônicas, portadores de restrições definidas como a impossibilidade de andar mais de dois quarteirões planos ou subir dez degraus.
Os participantes foram divididos ao acaso em dois grupos: o primeiro recebeu aplicações transdérmicas diárias de um gel contendo testosterona; os demais aplicavam na pele um gel placebo.
No grupo tratado com testosterona houve aumento significativo da força muscular nas pernas, nos braços e na capacidade de subir escadas. Os níveis de hemoglobina aumentaram, bem como os das frações HDL e LDL ("bom" e "mau" colesterol, respectivamente), mas surgiram também mais complicações cardíacas.No grupo dos 106 homens tratados com testosterona, dez sofreram complicações cardíacas, contra apenas um do grupo-placebo.
Essas ocorrências fizeram o Comitê de Segurança interromper o estudo.Os eventos cardiológicos foram de intensidade variável e não obedeceram um padrão definido. Como o número deles foi pequeno, não é possível excluir a possibilidade de que tenham ocorrido por acaso, uma vez que o grupo já sofria de doenças crônicas.Esses resultados são surpreendentes. Vários trabalhos com números bem maiores de participantes não detectaram aumento do risco de doenças cardiovasculares associadas à reposição.
A administração de testosterona deve ser abandonada em homens mais velhos com hipogonadismo? Não, mas deve ser feita com cuidado, redobrado naqueles que sofrem de hipertensão, diabetes, doenças cardíacas e que apresentam limitações de mobilidade.

Fonte: Folha de São Paulo

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