DRAUZIO VARELLA
Alguns com mais de 70 anos mantém níveis próximos aos dos jovens, outros já têm concentrações baixas aos 40
OS NÍVEIS circulantes de testosterona caem com a idade. O declínio começa ao atingirmos a maturidade e prossegue à medida que envelhecemos, mas a velocidade de queda é muito variável. Alguns homens com mais de 70 anos mantém níveis próximos aos dos jovens, enquanto outros já apresentam concentrações baixas aos 40.
As alterações físicas e comportamentais causadas pelas variações fisiológicas levam à diminuição da massa óssea, da massa muscular e da força física, ao acúmulo de tecido adiposo, fadiga e tendência à depressão e à piora da função sexual. Como esses distúrbios são indistinguíveis do próprio processo de envelhecimento, é razoável supor que possam ser corrigidos por meio da administração de testosterona, à semelhança da reposição de hormônios femininos na menopausa.
As dificuldades estão na inexistência de critérios bem definidos para caracterizar o hipogonadismo nessa faixa etária, na dúvida sobre a eficácia do tratamento e na possibilidade de efeitos indesejáveis, como o aumento do risco de câncer de próstata.
Acabam de ser publicados dois estudos que procuram esclarecer essas questões.
O primeiro foi realizado com 3.219 homens de 40 a 79 anos, em oito países europeus, para estabelecer a relação entre sintomas e níveis de testosterona.
De uma lista inicial de 32 sintomas possivelmente associados à queda dos níveis de testosterona, apenas nove confirmaram guardar relação direta com ela: três deles ligados à sexualidade (frequência diminuída de ereções matinais espontâneas, de pensamentos eróticos e disfunção erétil), três sintomas físicos (dificuldade de praticar exercícios como correr ou levantar objetos pesados, incapacidade de andar mais de 1 km e de ajoelhar e levantar sem ajuda) e três sintomas "psicológicos" (falta de energia, fadiga e tristeza).
Os autores sugerem que o diagnóstico de hipogonadismo nos mais velhos deve levar em conta não apenas os níveis diminuídos de testosterona total (abaixo de 3,2 ng/mL), mas também a presença dos três grupos de sintomas citados.Usar apenas o critério clínico é desaconselhável, porque mais de 25% dos participantes com queixas de dificuldades sexuais apresentavam concentrações normais de testosterona, mostrando que a relação entre causa e efeito não é clara.
O segundo estudo foi conduzido por um grupo da Universidade de Boston entre homens com limitações de mobilidade, que apresentavam níveis baixos de testosterona (abaixo de 3,5 ng/ mL), com a finalidade de avaliar se a reposição hormonal seria capaz de aumentar a massa muscular e melhorar a sua movimentação.Foi planejado para incluir 252 homens com pelo menos 65 anos, com alta prevalência de doenças crônicas, portadores de restrições definidas como a impossibilidade de andar mais de dois quarteirões planos ou subir dez degraus.
Os participantes foram divididos ao acaso em dois grupos: o primeiro recebeu aplicações transdérmicas diárias de um gel contendo testosterona; os demais aplicavam na pele um gel placebo.
No grupo tratado com testosterona houve aumento significativo da força muscular nas pernas, nos braços e na capacidade de subir escadas. Os níveis de hemoglobina aumentaram, bem como os das frações HDL e LDL ("bom" e "mau" colesterol, respectivamente), mas surgiram também mais complicações cardíacas.No grupo dos 106 homens tratados com testosterona, dez sofreram complicações cardíacas, contra apenas um do grupo-placebo.
Essas ocorrências fizeram o Comitê de Segurança interromper o estudo.Os eventos cardiológicos foram de intensidade variável e não obedeceram um padrão definido. Como o número deles foi pequeno, não é possível excluir a possibilidade de que tenham ocorrido por acaso, uma vez que o grupo já sofria de doenças crônicas.Esses resultados são surpreendentes. Vários trabalhos com números bem maiores de participantes não detectaram aumento do risco de doenças cardiovasculares associadas à reposição.
A administração de testosterona deve ser abandonada em homens mais velhos com hipogonadismo? Não, mas deve ser feita com cuidado, redobrado naqueles que sofrem de hipertensão, diabetes, doenças cardíacas e que apresentam limitações de mobilidade.
Fonte: Folha de São Paulo
sábado, 28 de agosto de 2010
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