domingo, 25 de novembro de 2007

A estréia de um romancista


Prezados amigos,
De volta à casa, retomo minhas mensagens semanais. Desta vez com uma autora que muito tem se ocupado com os assuntos do Brasil.
Veja no anexo a mensagem número 27.
Um abraço
---Carlos Almeida
Tel: 83 3321-0084
Skype: carlostrad




23.11.2007
Na maioria das mensagens anteriores ocupamo-nos com autores de língua alemã tratando de problemas que tocam também a nós, por serem assuntos de interesse universal. Existirão também escritores de língua alemã tratando de assuntos do Brasil? Pode não parecer provável, mas existem. A autora que hoje atrai nossa atenção é a Dra. Ingrid Schwamborn (foto). Sua tese de doutorado tem por tema os romances indianistas (O Guarani, Iracema, Ubirajara) do nosso brasileiríssimo romancista cearense José de Alencar. A Dra. Schwamborn, que todos os anos alterna sua residência entre Bonn (Alemanha) e a Prainha (próximo a Fortaleza, CE,) tem produzido também numerosos artigos, sempre envolvendo os interesses de nossos dois povos, o brasileiro e o alemão: A (Re)descoberta do Brasil, Stefan Zweig e o Brasil, Zweig e Getúlio, Os Holandeses no Brasil, A brasileira Júlia Mann (mãe do famoso prêmio Nobel de Literatura Thomas Mann), e por aí vai. No que segue, uma primeira informação sobre ...

27. A estréia de um romancista

Nascido em 1829 no Ceará, o grande romancista José de Alencar só permaneceu em seu estado natal até os dez anos de idade, quando a família mudou-se para o Rio de Janeiro. Concluída a formação básica, estudou Direito em São Paulo e Olinda. Nesta última cidade, na biblioteca do Mosteiro de São Bento, ele teve um primeiro contato com os “cronistas da era colonial” do Brasil. De volta ao Rio, trabalhou a serviço de um advogado, mas logo começou a escrever uma seção em um jornal, passando em seguida a colaborar com o Diário do Rio de Janeiro. Suas primeiras produções literárias foram o romance “Cinco Minutos” e as “Cartas sobre a Confederação dos Tamoyos”.
Essas últimas marcam a primeira polêmica de Alencar com o Imperador Dom Pedro II, apenas três anos mais velho do que ele. Entusiasmado com a obra “A Confederação dos Tamoyos”, de Domingos José Gonçalves de Magalhães, o Imperador mandou imprimi-la em 1856, em edição de luxo. Para Alencar, o assunto era bem apropriado para uma epopéia nacional, mas o autor não se revelou à altura do tema: "A poesia não está à altura do assunto", escreveu ele. Um grande autor certamente teria conseguido apanhar um novo aspecto da paisagem brasileira. “Se algum dia quisesse cantar a minha terra e as suas belezas, pediria a Deus que me fizesse esquecer por um momento as minhas idéias de homem civilizado”.
A brochura “Cinco minutos”, no final de 1856, foi enviada aos assinantes do Diário como um "um mimo de festa". Não se indicava indicava o nome do autor, mas este estava sempre atento às reações do público. Estimulado por este primeiro e modesto êxito, que não era devido a um nome célebre nem a críticas elogiosas, teve início a pleno vapor, como uma verdadeira explosão, o período de produção literária de Alencar.
Em 10 de janeiro de 1857 Alencar iniciou um novo roman­ce seriado, que veio a ser o maior sucesso da história do jorna­lismo brasileiro: O Guarani. Em 58 seqüências, de 10 de janeiro a 20 de abril de 1857, dia após dia, sob as mais adversas circunstâncias, aparentemente seguin­do a inspiração do momento, mas na realidade de acordo com um plano preconcebido, um “manuscrito interior”, Alencar, ainda como autor anônimo, escreveu este extenso romance histórico, que narra a dramática história de amor entre a nobre moça portu­guesa Ceci e o índio Peri, uma espécie de Tarzã da tribo dos Guaranis.
Tão empolgantes eram o estilo e a trama desta romântica história de aventuras que os leitores no Rio de Janeiro e São Paulo, sobretudo os estudantes e os círculos femininos da fina sociedade, aguardavam com avidez a próxima seqüência deste primeiro roman­ce autenticamente brasileiro. A tiragem do Diário subiu tanto que em 5 de abril de 1857, aos 27 anos, Alencar foi promovido de "Redator Gerente" a "Redator em Chefe" do jornal, que agora voltava a ser prestigioso.
A 20 de abril de 1857 O Guarani chegava ao fim, com o desde então muito citado epílogo em que, depois da enchente, Ceci e Peri desaparecem no horizonte sobre a copa de uma palmeira.
Ainda nesse ano de 1857 Alencar, por própria conta, publicou O Guarani em forma de livro, na própria editora do Diário. Com uma tiragem de 1000 exemplares. O nome do autor não figura na capa, aparecendo só do lado de dentro: J. DE ALENCAR. Diz-se que desta primeira edição existem hoje apenas dois preciosos exemplares. A segunda edição (1864), e todas as edições subseqüentes ficaram a cargo do livreiro francês Baptiste Louis Garnier, que, havendo-se estabelecido no Rio de Janeiro mandava imprimir em Paris numerosos livros brasileiros. Foi ele quem descobriu Alencar para o mercado dos livros, vindo com isto ele próprio a constituir-se numa instituição literária do Brasil do século XIX.
Apesar do silêncio dos críticos quanto à primeira edição, O Guarani veio a ser para ALENCAR o maior sucesso de público. Para a maioria dos seus amigos e inimigos, até sua morte ele permaneceu "o autor do Guarani".
Anos mais tarde, o jovem compositor Antônio Carlos Gomes, que Dom Pedro II mandara estudar música na Itália, tão empolgado ficou com este romance brasileiro que o transformou na ópera O Guarani, estreada em 19 de março de 1870 no Scala de Milão. Diz-se que quando ALENCAR, em 2 de dezembro de 1870, assistiu à estréia desta ópera no Rio de Janeiro, ele teria abandona­do a sala, decepcionado: “O Gomes fez do meu Guarani uma embrulhada sem nome, cheia de disparates”.
Durante gerações - até o surgimento das revistas em quadrinhos e da televisão - O Guarani permaneceu sen­do o romance brasileiro por excelência, enquanto A Confederação dos Tamoios caiu no esquecimento.
Texto baseado em Ingrid Schwamborn, O Guarani era um Tupi?
Adaptação e tradução de Carlos Almeida - carlostrad@uol.com.br, Campina Grande/Pb

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