Prezados amigos,
Lojas abertas aos domingos, máquinas funcionando, pessoas atarefadas ... Sinais de progresso, melhorando a vida das pessoas? Veja no anexo a mensagem no. 16 - e saiba o que pensa a respeito disso o monge-escritor Anselm Grün.
Um abraço, e um bom domingo!
Carlos Almeida Pereira, Campina Grande/Pb
“O interesse maior que me levou a escrever esse pequeno volume não foi em primeiro lugar proteger o Sagrado e tratá-lo com respeito. Meu desejo é muito mais ocupar-me com a proteção que o Sagrado nos oferece”, escreve Anselm Grün. “Quando já não existe mais nada que seja sagrado, cessa de existir também a proteção para a nossa alma.” O livrinho (102 páginas!) ocupa-se com os lugares sagrados, os tempos, ações e objetos, as pessoas e os valores sagrados: o Sagrado como reflexo de Deus em nosso mundo.
16. A Proteção do Domingo
Nos dias de hoje o domingo corre perigo, por causa da dominação da economia sobre os setores da vida humana. A economia considera que o mais importante é a eficiência no trabalho. As máquinas ficarem paradas no domingo, o comércio ficar fechado, estaria restringindo o rendimento da economia. Mas trata-se de uma visão míope da eficiência. Ela considera o ser humano como uma máquina, que deve subordinar-se à ditadura da eficiência econômica. Quem apenas explora e usa o ser humano, em última análise o despreza. E termina por torná-lo enfermo. Quando o ser humano não se alimenta das fontes que vão além da mentalidade de custo e benefício, com pouco tempo sua vida fica esgotada e depauperada.
O sentido do domingo é que o ser humano tenha consciência da sua dignidade, que possa alegrar-se por sua vida. Sem isto a vida se estiola, nós ficamos privados da fantasia e da criatividade. A curto prazo pode ser que a renúncia ao domingo sirva à economia. Mas a longo prazo será prejudicial ao ser humano, o que resulta em prejuízo também para a economia. ...
O domingo serve ao indivíduo. Cria-lhe o espaço livre de que ele tem necessidade. Mas o domingo não é uma questão apenas individual, e sim também da comunidade. Deixando de estar incluído na ordem social, o domingo não apenas perderá a dignidade que daí procede, mas será destruído também pelos interesses com que vier a se defrontar. Por isso é necessário defender o domingo. Por si mesmo o indivíduo não teria forças para criar o espaço livre de que tem necessidade para sua saúde física e psíquica.
O domingo vivido em comum possui ainda um outro significado. Nele se expressa a convicção de que a sociedade não se basta a si própria, mas tem necessidade de algo maior do que ela. Por si só uma sociedade fechada não se sustenta. Ela necessita de uma visão que a ultrapasse. A sociedade precisa de um mergulho em um mundo diferente. Do contrário, ficará exposta ao terror e à ditadura da economia e das pressões econômicas. A economia alega trabalhar para o bem da pessoa. Com bastante freqüência, no entanto, esta é uma desculpa inconsistente. Na realidade trata-se de lucro e crescimento sempre maior. Mas justamente esta falta de moderação leva a situações que já não fazem bem à pessoa.
Não teria muito sentido apenas exigirmos que o domingo fosse protegido, sem que tivéssemos clareza sobre o que o domingo pretende nos dar. Já o próprio Jesus disse que o sábado foi feito para a pessoa, e não a pessoa para o sábado (cf. Mc 2,27). Sem um dia de descanso, a pessoa se desumaniza. O repouso dominical é uma pausa para respirar. Muitos argumentam que abrir o comércio aos domingos favoreceria as pessoas. Mas o que isto na verdade favorece é o surgimento de um totalitarismo do mercado. A família haveria de dissolver-se ainda mais. Deixaria de ter um espaço de proteção. Tudo passaria a ser determinado pelo Estado. Este haveria de tornar-se o único vínculo para a pessoa da massa que não tivesse outro vínculo. Mas de acordo com a Lei Básica o Estado tem como uma de suas tarefas respeitar a dignidade do ser humano. O Estado deixando de proteger o domingo, isto traria consigo efeitos catastróficos para a saúde e para a condição íntima do cidadão deste Estado.
... Toda pessoa tem necessidade de espaços de silêncio para ficar livre de si, para tomar consciência do mistério do mundo e de si mesma. E só quando tem consciência do mistério de sua própria vida e do mistério do próximo é que ela irá respeitar sua própria dignidade e a dignidade dos outros.
Texto de Anselm Grün, A Proteção do Sagrado, p. 45ss.
Tradução de Carlos Almeida
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