sábado, 24 de março de 2012

Chico Anysio e a Baianidade



O Brasil e principalmente o Ceará choram a perda de seu artista maior, o humorista Chico Anysio, Maranguapense de nascimento, morto ontem aos 80 anos.

Mas não foi apenas em sua terra natal que a morte de Chico alcançou grande repercussão. Se todo o Brasil sentiu essa perda irreparável, aqui na Bahia não foi diferente, basta citar a cobertura na imprensa de Salvador, principalmente no Jornal A TARDE, o principal periódico da "boa terra". Quase todo o espaço da primeira página da edição de hoje desse jornal foi dedicada ao humorista cearense. Só vi paralelo quando das mortes de ACM e talvez na de Jorge Amado. Nem mesmo nos jornais de Fortaleza encontrei tanta cobertura sobre Chico Anysio.

E foi na Bahia que Chico se inspirou para criar alguns de seus mais engraçados personagens. Quem não se lembra de Paínho e de Baiano e seus novos Caetanos? Eram de chorar de rir.

Consta que a inspiração para a criação de Paínho ocorreu quando Chico Anysio esteve em Salvador certa vez para se apresentar. Ao visitar uma rádio para fazer a divulgação, encontrou lá a figura de um Pai de Santo homossexual muito consultado por pessoas importantes da sociedade baiana. Ele até tinha um programa nessa mesma rádio. Era o babalorixá Bel de Oxum que reconhece esse fato. Chico ao encontrá-lo falou: "Olha Bel vou fazer uma brincadeira com você,". Depois apareceu o Paínho na TV, explica Bel. Afe ! Eu tou morta! Sou doido por essa neguinha. Cunhã. São bordões lembrados ha mais de 30 anos.

Outras brincadeiras de Chico Anísio com os baianos foi justamente com os cantores Gil e Caetano nos personagens Zelberto Zeu e Baiano e os novos Caetanos. No começo eu até pensei que essa gozação viesse causar alguma escaramuça entre Chico e os já consagrados cantores baianos. Mas não foi nada disso. Havia entre eles uma grande amizade a ponto de Caetano ter sido ajudado por Chico Anísio quando precisou se exilar na Inglaterra na época da ditadura militar.

Inesquecível foi em um Congresso da ABAV ocorrido aqui em Salvador numa noite em que o estado do Ceará ofereceu em um hotel de luxo um show com artistas cearenses regado à uma bela boca livre com iguarias da culinária alencarina. Estava presente a fina-flor das sociedades baiana e cearense, inclusive os governadores dos dois estados, no caso Ciro Gomes e Antonio Carlos Magalhães, juntos na primeira fila. O final dessa noitada foi com uma apresentação de Chico Anysio que fez um de seus melhores shows.

Era meados dos anos oitenta e lá pelas tantas, Chico sai com essa:

"tive muita preocupação com as pessoas quando começou essa onda de AIDS, principalmente com as pessoas humildes que me cercam. Por isso, saí distribuindo camisinhas a torto e a direito. Certa vez, ao entrar no meu prédio, me dirigi ao porteiro e perguntei - Como é seu Sebastião, tá usando aquele negócio que lhe dei?
- tou usando direto, Doutor. Só tiro pra mijar e pra f....

Os governadores Ciro e ACM e todos os presentes foram ao delírio de tanta risada.

Sérgio Almeida Franco, de Salvador/Ba


Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente esta matéria do Sergio.
Vou mandar outra vez um antigo e-mail do Chico no programa do Jô. Seria um presente para todos se pudesse sair no nosso Blog.
Arlindo