Aplaudir o adversário ou vencer a qualquer custo e de qualquer jeito?
Neste país, o esporte não é o tênis
RÉGIS ANDAKU COLUNISTA DA FOLHA DE SÃO PAULO
NÚMERO DOIS do mundo estava em quadra. Confiante, firme, com jogo sólido, Roger Federer levou o primeiro set, como o esperado. Aplausos. No segundo, o adversário se soltou. Tomou a iniciativa e apertou o campeão. Agressivo, levou a definição ao terceiro set. Aí, Federer sentiu um rival mais inexperiente, porém talentoso, forte, em grande dia. O que fez Federer? Jogou o que era possível jogar. Suou, correu, colocou o esforço. Mas não berrou, nem reclamou com o juiz, nem prejudicou o rival. Perdeu, cumprimentou o algoz, o público, bateu palmas, sorriu e partiu para a próxima.
Logo em seguida, o tenista da casa entrou em quadra. Aplausos mais calorosos. Número um do mundo, orgulho dos mais de 10 mil torcedores presentes ao ginásio, começou à frente na segunda semifinal. Como Federer, Rafael Nadal sentiu o rival em um dia especial. Para nervosismo do público, perdeu o segundo set e ficou atrás. Sem catimba, histeria, agressividade só nas bolas. No ponto final, dúvida: bola dentro ou fora? O juiz chama o replay. O vídeo deixa claro que a bola saiu e que o ídolo local perdeu. Resultado: público de pé, tenistas se cumprimentando, todos aplaudindo.
No dia seguinte, aqui, um clássico de futebol. Antes do jogo, lembranças da confusão de uma partida anterior no mesmo local. Com cinco minutos, um gol e, em seguida, dois expulsos, após trocarem empurrões. Jogadores babando cercam o juiz. À beira do gramado, um dos técnicos, que dizem ser o mais elegante do futebol brasileiro, berra tresloucadamente.
Não muito longe dali, comoção popular com um crime em Santo André -cenas chocantes do que parece ser uma sucessão de erros. Choro, berro, acusações, quase histeria.
Na mesma noite, debate na TV entre pessoas que pretendem gerir a maior cidade do país. Discussões toscas, acusações, ironias, falta de educação entre eles e com a gente.
A verdade é que sempre perguntam quando o Brasil vai ser bom no tênis. A resposta: "Nunca". Parece que o nosso esporte é outro.
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