sexta-feira, 21 de março de 2008

Penitência e flagelação nos rituais da Quaresma em Juazeiro/Ba

Alimentadeiras de almas se reúnem para rezar no cemitério de Juazeiro/Ba - Foto Ivan Cruz


Por Cristina Laura, de Juazeiro/Ba

Durante os 40 dias da Quaresma, os penitentes atraem os olhares por onde passam. Sempre à noite, as alimentadeiras de almas saem pelas ruas da cidade rezando e entoando cânticos em louvor às almas dos mortos. A cena é vista pela população que respeita a tradicional cultura passada ao longo das gerações.


Os penitentes cumprem sete anos de promessas e muitos gostam tanto, que continuam fazendo parte dos ‘cordões’ por muitos anos. Pessoas de todas as idades passam pelas sete estações com paradas para orações e cantos, seguindo para o destino final, que é o cemitério, onde prosseguem com os ritos.

“Sou católico e acho muito interessante a religiosidade de quem é penitente e dedica a Quaresma às orações em prol das almas dos que já se foram. Nunca fui junto, mas não vejo nada de errado e respeito quem mantém a tradição”, afirma o comerciante Antônio Ferreira Pimenta, 57 anos. Para a maioria dos expectadores o que prevalece é a força de uma tradição, que de acordo com registro local, começou em 1901.

É ao som das matracas que os penitentes pagam suas promessas vestidos de branco com apenas uma parte do rosto à mostra. “Os Penitentes vieram com a chegada dos frades capuchinhos à região”, afirma Maria Isabel Borges da Silva, 75 anos. Para ela, a penitência é algo sério que deve ser levado com compromisso por quem decide entrar nos cordões. “A penitência é um segredo absoluto que precisa de seriedade e zelo”, completa.

Os rituais do período incluem ainda os cordões de “disciplinadores”, formado apenas por homens. Eles também percorrendo as sete estações, mas com a prática do autoflagelo como forma de repetição do sofrimento de Cristo. Eles saem cobertos por lençóis brancos, com estiletes presos em cordões, chamados de ‘disciplinas’, que são lançados nas costas descobertas provocando cortes e sangramentos.

“Eu fui dos disciplinadores por um ano, para cumprir a promessa por um primo que morreu antes de completar os sete anos. Ele me pediu e eu atendi”, relata Dorivan Xavier. Ele diz que existem hoje sete cordões de disciplinadores em Juazeiro e e um oitavo grupo, formado por crianças.

Fonte : Jornal A TARDE, Salvador/Ba

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