Damos início hoje ao contato com outra série de livros que traduzi, os livros do monge beneditino Anselm Grün. São livros que se ocupam com assuntos “espiri-tuais”, isto é, assuntos relativos à vida interior, sob um prisma religioso. Mas não são livros “beatos”. Eles podem ajudar as pessoas, mesmo em suas ocupa-ções profissionais ou profanas: na família, no trabalho, no descanso, na socie-dade. Espero que você possa aproveitar bem estas mensagens. Veja no anexo a mensagem no. 9. Com meus melhores cumprimentos.Carlos ("Frei Filipe")
Lá pela segunda metade do século III de nossa era (entre 250 e 300 d.C.) teve início, a começar pelo Egito, um novo movimento na Igreja cristã. Um número considerável de cristãos, desejosos de seguir radicalmente a Cristo, retiraram-se para o deserto (de um e outro lado do rio Nilo), deixando suas posses e a convivência social. Eles receberam o nome de monges. Desejavam pôr em prática em suas próprias vidas todas as recomendações do Evangelho. Surgiu assim o monaquismo, movimento que com as ordens religiosas (beneditinos, franciscanos, salesianos, etc.), de alguma forma perpetuou-se até os nossos dias. Mas os primeiros monges no deserto se depararam com a experiência de que, mesmo no isolamento, o seguimento de Cristo acarretava também graves dificuldades, por causa das fraquezas humanas. Perceberam que carregavam dentro de si toda uma série de defeitos, centralizados no egoísmo, que precisavam ser combatidos. Para poderem levar uma vida de oração, eles precisavam adquirir um conhecimento mais profundo de si próprios, de suas qualidades, mas também de suas más tendências: inveja, orgulho, preguiça, luxúria...
Jesus nos diz no Evangelho que a oração é de absoluta necessidade para a vida interior do homem: “É necessário orar sempre, sem nunca desfalecer” (cf. Lc 18,1). Pessoas pouco afeitas ao Evangelho podem achar que esta exigência é difícil de ser posta em prática. Isto se deve, talvez, a uma visão errônea da oração: a que indiretamente nos é transmitida pelo sentido literal da palavra “rezar”, que vem do latim recitare = recitar – como se oração fosse obrigatoriamente a recitação de determinadas palavras dirigidas a Deus, ou seja, como se fosse um ato puramente exterior. Na realidade, segundo uma expressão de Santo Agostinho, Deus está mais perto de nós do que nós mesmos, e o lugar melhor e mais fácil para encontrarmos a Deus é o nosso próprio íntimo, nosso “coração”. Nossas reflexões pessoais, mesmo sem que se pronuncie nenhuma palavra, podem ser autênticas orações, desde que realizadas com uma atitude humanamente pura e sincera: de amor a Deus e ao próximo, e de verdadeiro amor a si próprio, de acordo com a palavra bíblica: “Amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a si mesmo”. A “reza”, isto é, a recitação de certos textos de oração, pode ser um recurso, ou um ajuda, para se falar com Deus, mas não se identifica necessariamente com oração. Porque oração é diálogo interior com Deus.
Entre a oração e o autoconhecimento, ou seja, o conhecimento que a pessoa tem de si própria, existe uma estreita ligação. Autoconhecimento é sinal de maturidade. Pessoas imaturas julgam-se muito melhores do que são na realidade. Exageram as próprias qualidades, deixam de enxergar os próprios defeitos. Cada um que queira ser melhor e mais perfeito do que os outros. Já as pessoas que chegaram à maturidade se destacam pela humildade. Se lembrarmos que a oração é diálogo interior com Deus, e que a Deus ninguém engana, entenderemos que ao conversar com Deus não adianta eu pretender ser melhor do que realmente sou. Quem deseja orar bem precisa chegar a um bom autoconhecimento.
Se o autoconhecimento constitui uma condição para a oração, esta, por sua vez, quando sincera e honesta, favorece o autoconhecimento. Oração e autoconhecimento estão, assim, estreitamente relacionados. É este o tema central do livro de Anselm Grün, Oração e Autoconhecimento, do qual seguem-se abaixo alguns trechos (p. 13-15):
Ao conhecimento de Deus nós só podemos chegar através do próprio conhecimento. Isto já foi reconhecido pelo primeiro escritor monástico importante, Evágrio Pôntico († 399):
“Se quiseres chegar ao conhecimento de Deus, procura antes conhecer-te a ti mesmo.”
De maneira semelhante escreve Nilo († cerca de 430) em uma carta a um jovem monge:
“Antes de tudo, conhece-te a ti mesmo. Pois não existe nada mais difícil do que conhecer-se a si mesmo, nada mais trabalhoso, nada que exija maior esforço. Mas quando chegares a conhecer-te a ti mesmo, também poderás conhecer a Deus.”
O autoconhecimento a que os monges se referem possui dois aspectos distintos. Por um lado o homem se conhece a partir da grandeza de Deus que nele se reflete. O homem é uma imagem de Deus:
“Conhece-te a ti, porque és a minha imagem, e assim hás de conhecer a mim, de quem és a imagem. Em ti tu me encontrarás” (Guilherme de St. Thierry († 1148).
Mas ao mesmo tempo ele deve reconhecer que é uma imagem desfigurada de Deus:
“Reconhece-te como imagem de Deus e envergonha-te por a teres recoberto com uma imagem estranha. Lembra-te de tua nobreza e envergonha-te de quanto decaíste!” (Bernardo de Claraval, † 1153).
Jesus nos diz no Evangelho que a oração é de absoluta necessidade para a vida interior do homem: “É necessário orar sempre, sem nunca desfalecer” (cf. Lc 18,1). Pessoas pouco afeitas ao Evangelho podem achar que esta exigência é difícil de ser posta em prática. Isto se deve, talvez, a uma visão errônea da oração: a que indiretamente nos é transmitida pelo sentido literal da palavra “rezar”, que vem do latim recitare = recitar – como se oração fosse obrigatoriamente a recitação de determinadas palavras dirigidas a Deus, ou seja, como se fosse um ato puramente exterior. Na realidade, segundo uma expressão de Santo Agostinho, Deus está mais perto de nós do que nós mesmos, e o lugar melhor e mais fácil para encontrarmos a Deus é o nosso próprio íntimo, nosso “coração”. Nossas reflexões pessoais, mesmo sem que se pronuncie nenhuma palavra, podem ser autênticas orações, desde que realizadas com uma atitude humanamente pura e sincera: de amor a Deus e ao próximo, e de verdadeiro amor a si próprio, de acordo com a palavra bíblica: “Amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a si mesmo”. A “reza”, isto é, a recitação de certos textos de oração, pode ser um recurso, ou um ajuda, para se falar com Deus, mas não se identifica necessariamente com oração. Porque oração é diálogo interior com Deus.
Entre a oração e o autoconhecimento, ou seja, o conhecimento que a pessoa tem de si própria, existe uma estreita ligação. Autoconhecimento é sinal de maturidade. Pessoas imaturas julgam-se muito melhores do que são na realidade. Exageram as próprias qualidades, deixam de enxergar os próprios defeitos. Cada um que queira ser melhor e mais perfeito do que os outros. Já as pessoas que chegaram à maturidade se destacam pela humildade. Se lembrarmos que a oração é diálogo interior com Deus, e que a Deus ninguém engana, entenderemos que ao conversar com Deus não adianta eu pretender ser melhor do que realmente sou. Quem deseja orar bem precisa chegar a um bom autoconhecimento.
Se o autoconhecimento constitui uma condição para a oração, esta, por sua vez, quando sincera e honesta, favorece o autoconhecimento. Oração e autoconhecimento estão, assim, estreitamente relacionados. É este o tema central do livro de Anselm Grün, Oração e Autoconhecimento, do qual seguem-se abaixo alguns trechos (p. 13-15):
Ao conhecimento de Deus nós só podemos chegar através do próprio conhecimento. Isto já foi reconhecido pelo primeiro escritor monástico importante, Evágrio Pôntico († 399):
“Se quiseres chegar ao conhecimento de Deus, procura antes conhecer-te a ti mesmo.”
De maneira semelhante escreve Nilo († cerca de 430) em uma carta a um jovem monge:
“Antes de tudo, conhece-te a ti mesmo. Pois não existe nada mais difícil do que conhecer-se a si mesmo, nada mais trabalhoso, nada que exija maior esforço. Mas quando chegares a conhecer-te a ti mesmo, também poderás conhecer a Deus.”
O autoconhecimento a que os monges se referem possui dois aspectos distintos. Por um lado o homem se conhece a partir da grandeza de Deus que nele se reflete. O homem é uma imagem de Deus:
“Conhece-te a ti, porque és a minha imagem, e assim hás de conhecer a mim, de quem és a imagem. Em ti tu me encontrarás” (Guilherme de St. Thierry († 1148).
Mas ao mesmo tempo ele deve reconhecer que é uma imagem desfigurada de Deus:
“Reconhece-te como imagem de Deus e envergonha-te por a teres recoberto com uma imagem estranha. Lembra-te de tua nobreza e envergonha-te de quanto decaíste!” (Bernardo de Claraval, † 1153).
Carlos Almeida , Campina Grande/Pb
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