sábado, 25 de agosto de 2007

Big Brother é fichinha

RUY CASTRO

Dr. Mabuse perde

Há alguns anos, numa das raras vezes em que resolvi comprar um livro ou DVD pela Amazon, mandei vir um filme italiano de terror, "La Maschera del Diavolo", de 1960, um pequeno clássico do gênero, dirigido por Mario Bava. O filme continuava bom, e melhor ainda era Barbara Steele, uma atriz inglesa que faria carreira na Itália mordendo pescoços.

Bastou essa compra para que a memória do computador da Amazon decretasse que eu era um especialista em filmes de terror, principalmente italianos, e passasse a me invadir a tela com as novidades. Não houve filme de vampiro "al dente", comédia de lobisomem calabrês ou drama envolvendo raviólis envenenados que não me fosse oferecido.

Apesar de eu nunca mais ter comprado nada, a Amazon não desistiu. Continua até hoje a me bombardear com anúncios de novas edições de "Frankenstein", "A Múmia" ou "O Monstro da Lagoa Negra" em DVDs duplos e triplos, cheios de extras.

De fato, tenho um certo chiquê por esses monstros. Mas, para o computador da Amazon, eles são meu único interesse no mundo. Estamos deixando a máquina interferir demais na nossa vida.

Na Inglaterra, já há uma câmera de vídeo em circuito fechado para cada 14 cidadãos. A nova carteira de identidade, que todos lá estão sendo obrigados a tirar, contém mais de 150 informações sobre a pessoa, como endereço particular, registro profissional e DNA.

Quando esses dados forem conectados às câmeras, o sujeito poderá ser vigiado até dentro de casa. E não adiantará pegar o carro e fugir -o GPS, que um dia também será obrigatório, dirá a uma central para onde ele está indo. Dr. Mabuse perde.

É preciso resistir. De mim, até agora, os mil olhos do ciberespaço só sabem que sou louco pela múmia e pelo monstro da lagoa negra.

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