terça-feira, 29 de setembro de 2009

O importante é a taxa dos jovens


O Brasil dificilmente vai conseguir produzir quedas dramáticas na proporção de analfabetos, que hoje corresponde a 10% da população com mais de 15 anos. E as razões que determinam tal "fracasso" não são todas necessariamente más. É preciso antes de mais nada distinguir entre os analfabetos jovens e velhos. Enquanto a taxa de iletrados é de 12,4% entre as pessoas com mais de 25 anos, ela fica em apenas 2,2% para a população entre 15 e 24 anos. Isso significa que índices da ordem de 10% são basicamente um problema do passado. Se o Brasil não fizer nada em favor dessa população e apenas deixar o tempo passar, o analfabetismo já cairá. Vai levar ainda algumas décadas, porque a expectativa de vida (inclusive a dos mais pobres) tem aumentado ao longo dos últimos anos, mas essas taxas relativamente altas de iletrados têm prazo de validade para acabar. Poderíamos, é claro, catalisar esse processo investindo em programas de alfabetização do adulto. O problema aqui é principalmente a falta de interesse dos supostos interessados. Segundo a última Pnad, apenas 3% dos analfabetos fora da idade escolar frequentaram uma sala de aula em 2008. As matrículas nessa modalidade de ensino têm caído ao longo dos últimos anos, principalmente no nível fundamental.
De algum modo, eles parecem estar sobrevivendo relativamente bem mesmo sem saber ler e escrever. Seria interessante investigar quais as causas da baixa procura pelos cursos, além, é claro, de sua ineficácia e das velhas e conhecidas dificuldades de acesso. Para o futuro, entretanto, o que importa é olhar para as taxas de analfabetismo entre os mais jovens. E a situação neste caso não enseja comemorações. Os 2,2% registrados na faixa entre 15 e 24 preocupam. Pior ainda quando se considera que, entre os 10 e 14 anos, o índice sobe para 3,1%. Isso significa que a escola está ensinando a ler tarde e mal. Não haveria, em princípio, nenhum motivo para não conseguirmos proporções inferiores a 1% nessas faixas, como ocorre em países do Primeiro Mundo. Não estamos aqui falando de vencer o analfabetismo funcional, que implica atingir um nível de leitura e escrita adequado às necessidades do indivíduo, mas de derrotar o analfabetismo absoluto, para o que basta ser capaz de decodificar um bilhete com meia dúzia de palavras simples. HÉLIO SCHWARTSMAN DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Fonte: Folha de São Paulo, 29/08/2009 - São Paulo SP

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