Estamos cientes dos avanços registrados no processo de mobilização social, mas precisamos avançar ainda mais pela causa da educação
MILÚ VILLELA
Há um consenso cada vez maior da importância da participação dos pais na vida escolar de seus filhos. Os resultados extraídos da Prova Brasil mostram que essa participação pode contribuir para melhorar o desempenho escolar, como mostrou recentemente um estudo do Unicef. Por outro lado, essa participação é ainda muito tímida e os pais têm delegado às escolas a função da educação plena de seus filhos, o que é um grande equívoco. Há um sábio provérbio africano que diz: "É preciso toda uma aldeia para educar uma criança". Sem a participação efetiva dos pais e de toda a sociedade, fica difícil acelerar o tempo para que a educação brasileira possa melhorar, de forma que crianças e jovens não apenas passem pela escola, mas, de fato, aprendam. Ao completar três anos de existência no último dia 6/9, o movimento Todos pela Educação já pode comemorar expressivas vitórias, graças ao trabalho em parceria com vários setores da sociedade. Por outro lado, o movimento sabe que ainda precisa colocar uma maior força na mobilização social pela causa da educação, o que não apenas irá refletir numa maior participação dos pais na educação dos filhos como também em tornar a educação a prioridade número um dos brasileiros. A última pesquisa, realizada pelo Ibope/CNI, em 2007, por solicitação do movimento, mostrou que a educação ocupa a sexta prioridade entre os brasileiros e que 72% dos pais estão satisfeitos com a qualidade da educação oferecida aos seus filhos. Isso é preocupante se levarmos em conta que, apesar dos avanços recentes, o Brasil, em comparação com países mais desenvolvidos, está muito distante quanto à aprendizagem de seus alunos, como revelam os resultados do Pisa. Em relação, à meta de aprendizagem do Todos pela Educação, por exemplo, só 23% dos alunos que concluem a quarta série do ensino fundamental 1 alcançaram o nível adequado de aprendizagem em matemática. Na oitava série do ensino fundamental 2, esse percentual cai para 14% e, ao final do ensino médio, chega a 10%. Para ter uma ideia do tamanho do desafio que teremos pela frente, a meta de aprendizagem para 2022 é de 70%! Portanto, se, por um lado, temos metas claras para melhorar a qualidade da educação brasileira, o que há tempos atrás seria difícil de imaginar, por outro lado, estamos muito distantes de oferecer uma educação de qualidade para nossos alunos. Em recente artigo, o professor José Pastore chamou a atenção para a baixa qualidade da educação brasileira como o principal entrave para que o país ocupe posição de destaque no ranking mundial da competitividade. Como envolver e sensibilizar os pais nessa importante tarefa não é algo simples, tratando-se de um país tão desigual entre suas regiões e de tamanho continental. Nesse contexto, vale salientar o papel das denominações religiosas, que, em parceria com o Ministério da Educação e o Todos pela Educação, têm contribuído para envolver as famílias e os pais no processo educacional. O tamanho continental do Brasil exige, por outro lado, o forte e decisivo envolvimento dos meios de comunicação. O projeto "No ar, Todos pela Educação", em parceria com a Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), contando com mais de 2.000 rádios em todo o país, vem também ajudando nesse processo de mobilização pela causa de uma educação de qualidade para todos os brasileiros. Cabe parabenizar a mais recente iniciativa da Rede Globo de Televisão, da Fundação Roberto Marinho e do Canal Futura pelo lançamento do Globo Educação, um programa semanal, aos sábados, divulgando as boas práticas educacionais realizadas por escolas públicas de todo o país. Outro belo exemplo da força dos meios de comunicação tem sido a mobilização realizada pelo movimento Educar para Crescer, da Editora Abril, em parceria com o Todos pela Educação, que lançou um conjunto de três cartilhas dirigidas aos pais e empresários com dicas para participar da vida escolar de seus filhos e melhorar a qualidade da educação. Neste momento em que o Todos pela Educação completa três anos de existência, estamos cientes dos avanços registrados no processo de mobilização social, mas precisamos avançar ainda mais pela causa da educação e, assim, legar às futuras gerações um Brasil mais justo e verdadeiramente independente. Sonhamos com esse país e acreditamos que é possível com a participação de todos. MILÚ VILLELA é membro fundador e coordenadora da Comissão de Articulação do movimento Todos pela Educação, embaixadora da Unesco e presidente do Faça Parte-Instituto Brasil Voluntário, do MAM (Museu de Arte Moderna de São Paulo) e do Instituto Itaú Cultural.
Fonte: Folha de São Paulo, 28/09/2009 - São Paulo SP
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário