A ciência parece comprazer-se em destruir as nossas ilusões e sonhos. Galileu retirou-nos e à Terra do centro do mundo, reduzindo a Terra e os seus habitantes a um pontinho azul perdido entre biliões de sóis e outras astros. Darwin mostrou que não somos seres criados à imagem de Deus, mas simples animais, descendentes de outras espécies, envolvidos numa luta cruel pela sobrevivência.
Até agora o amor sempre pareceu protegido dos ataques da ciência. Sempre pensámos que a ciência pouco podia explicar dos nossos amores, tal como acontece com os nossos belos e feios, religiões, gostos artísticos, ou as nossas concepções de bem e mal. Essas são áreas fundamentalmente criadas pela nossa mente, ligadas aos nossos valores, estranhas à ciência.
Mas não é essa a visão de muitos cientistas, pelo menos no que respeita ao amor. Para eles não existem mistérios, nem grandezas. O amor está a ligada aos mecanismos da paixão, e estes não deixam de ser servos dos genes.
Há genes que incentivam a infidelidade (nomeadamente a masculina), a obsessão e a violência sexual, certos ódios e desejos de vingança (causados por aquilo que se opõe aquilo que queremos e amamos), e mesmo certas guerras (os índios da Amazónia ainda hoje fazem guerras para raptar mulheres) e homicídios…
Porquê? Por que razão os genes incentivam tais comportamentos? Porque através da infidelidade, ou do rapto das mulheres, ou da obsessão sexual, ou de certos homicídios e crimes, os genes dos vencedores são transmitidos, enquanto os dos vencidos desaparecem. Na luta pela sobrevivência, vale tudo. Os genes não têm ética.
Na perspectiva dos genes, o nosso corpo, incluindo o nosso cérebro, é apenas um «veículo» ao seu serviço. Os genes não se preocupam com o bem, nem com o bem-estar e a sobrevivência do indivíduo cujo corpo habitam. Eles apenas estão interessados em si mesmos, e em se propagarem. É essa a sua lógica.
Quando os genes activam determinados substâncias químicas do cérebro humano de modo a levarem um pai ou uma mãe a amar os seus filhos, e a sentirem prazer e a viciarem-se em tal, eles apenas estão a defender os seus interesses, ou seja, a defenderem as cópias de si mesmos, existentes nos filhos do casal.
Mais uma vez a ciência contraria os sonhos de sermos mais do que simples animais, acima do lado mecânico da vida. Nesta perspectiva o amor não tem nada de transcendente, romântico ou divino e surge como um mecanismo cego ao serviço dos genes, e da sua propagação.
Fonte: www.loveessaybook.com
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