Me dizem os jornais, que a Casa de Retiro São Francisco pode desaparecer! Isto significa que a qualquer momento pode sumir "o único refúgio espiritual católico da América Latina".
A Casa de Retiro São Francisco é um recanto franciscano no coração de Salvador. E se é franciscano, nele sobra amor, beleza, alegria, paz e bem.
Não afirmo isso por ouvir dizer. Falo com a segurança de quem a conhece na sua intimidade. Ao longo de cinco décadas, mais ou menos, tenho testemunhado o acolhimento fraterno que recebem os que a procuram diariamente.
Ou para a realização de encontros religiosos; ou pessoas, principalmente idosas, na certeza de que encontrarão, nos seus 46 apartamentos e nos seus jardins silenciosos, momentos de absoluta tranquilidade e o mais doce aconchego.
É forçoso reconhecer, que essa tranquilidade tem sido, nos últimos anos, interrompida, quebrada, maculada.
O causador disso é o avanço avassalador da especulação imobiliária que toma conta da capital baiana, roubando o bucolismo de muitos dos seus bairros.
E a Casa de Retiro está, hoje, numa área muito valorizada, com o metro quadrado avaliado em 6 mil reais. Tá todo mundo de olho nela.
Inaugurada no dia 6 de março de 1949, a Casa de Retiro São Francisco foi construída por Frei Hildebrando Kruthaup, um dinâmico e obstinado franciscano alemão.
O frade aproveitou um terreno doado à Ordem Franciscana por importantes figuras da sociedade baiana lideradas pelo empresário Norberto Odebrecht , hoje, do alto dos seus 91 anos, ainda orientando e aconselhando, com sabedoria e competência, os que atualmente dirigem as empresas que ele fundou e as que ele recebeu do seu pai, o saudoso Emílio Odebrecht.
Os franciscanos favoráveis à alienação da Casa de Retiro alegam que a Ordem já não tem mais condição financeira para manter o seráfico refúgio espiritual oferecendo aquela excelente qualidade que o consagrou, através dos seus 61 anos de vida.
Sei que isso é verdadeiro.
Mas, assim que surgiram as primeiras notícias sobre a venda da Casa de Retiro, o povo de Salvador, através de seus representantes na Câmara de Vereadores e Assembleia Legislativa, se posicionou contrária à transação.
Nos anais das duas casas legislativas podem ser encontradas Moções substanciosas e rigorosamente fundamentadas de "repúdio à tentativa de venda da área" onde se localiza a Casa de Retiro.
E a Arquidiocese de São Salvador da Bahia como vê esta ameaça?
Até a presente data, não ouvi um só pronunciamento do Senhor Cardeal contra ou a favor da transformação de uma casa religiosa do mais alto gabarito num condomínio de luxo onde dificilmente um crucifixo será visto ou encontrado.
E aqui vale lembrar o que me disse meu amigo Frei Hugo Fragoso, OFM, Historiador da Província dos frades menores: " A Casa de Retiro simboliza toda uma caminhada franciscana na Bahia." E mais adiante: "... a Casa de Retiro é instrumento indispensável de evangelização."
Minha modesta opinião a respeito.
Deve-se encontrar, com a necessária urgência, uma maneira legal capaz de salvar a Casa de Retiro São Francisco. A Arquidiocese, quem sabe, poderá ajudar nisso.
Por outro lado, numa cidade em que o poder público tomba e desapropria espaços de significação duvidosa, cabe-lhe, pelos meios ao seu alcance, evitar que um local de lazer sadio e de oração como é a Casa de Retiro, seja engolida por um barulhento condomínio e de apatacados.
Salvador, uma cidade canora, está precisando, e desde muito, de preservar lugares onde o canto dos passarins não seja atropelado pelo som ensurdecedor dos atabaques, dos timbaus e dos trios elétricos.
Felipe Jucá
domingo, 23 de janeiro de 2011
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