RUY CASTRO
RIO DE JANEIRO - Aos 29 anos cravados, Mario de Andrade publicou "Pauliceia Desvairada", Nelson Rodrigues estreou em teatro com "A Mulher Sem Pecado" e Tom Jobim compôs (com Vinicius de Moraes) as canções de "Orfeu da Conceição". Com essa idade, Clarice Lispector já tinha lançado seu romance "Perto do Coração Selvagem"; Ferreira Gullar, o livro-poema "A Luta Corporal"; e Jorge Amado, "Jubiabá", "Mar Morto" e "Capitães da Areia".
Aos 29, Carlos Drummond acabara de escrever que no meio do caminho tinha uma pedra, que João amava Teresa que amava Raimundo, e que, se seu verso não dera certo, fora o nosso ouvido que entortara.
Castro Alves, naturalmente, tivera só 24 anos para construir "Os Escravos" e toda a sua obra; Álvares de Azevedo, nem isso -morrera aos 21, pouco depois de fazer a "Lira dos 20 Anos".
Manuel Antonio de Almeida publicou "Memórias de um Sargento de Milícias" muito antes dos 29. Idem Joaquim Manuel de Macedo, com "A Moreninha"; José de Alencar, com "O Guarani"; João do Rio, com "A Alma Encantadora das Ruas"; e Lima Barreto, com "Recordações do Escrivão Isaías Caminha".
Aos 29 anos, Paulo Francis já espalhava o terror pelo Rio como crítico de teatro; Millôr Fernandes era um nome consagrado no texto e no desenho; e Glauber Rocha, que fora endeusado por "Deus e o Diabo na Terra do Sol", começava até a ser contestado, por causa de "Terra em Transe". Quanto a Dolores Duran, Leila Diniz e Cazuza, foram apenas alguns que fizeram tudo antes dos 29 e logo pegaram o chapéu.
Outro país, outros tempos. No Brasil de hoje, fica decretado que a minoridade se estende aos 29 anos e que, até essa idade, qualquer marmanjo munido de uma carteira de estudante, real ou falsificada, pode continuar pagando meia-entrada nas bilheterias e na vida.
sábado, 8 de outubro de 2011
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