O Diário do Nordeste na edição desse sábado trouxe matéria sobre a importância do compositor Johnny Alf e sua influência sobre os músicos, especificamente sobre os da cena musical cearense, entre os quais Luciano Franco e Adelson Viana.
Autor de clássicos como "Eu e a Brisa", "Rapaz de Bem" e "Ilusão à toa", Johnny Alf deixou a música brasileira mais triste, ao partir da última quinta-feira.
Seu Chopin, desculpe. Com essa intimidade, Johnny Alf deu adeus à sua ligação mais formal com a música erudita, abraçando a música popular "diferente" que surgia no início dos anos 50 sob a inspiração primeira de Dick Farney. Ainda Alfredo José da Silva, logo ele se tornaria um de seus principais redefinidores. Um de seus "Papas", embora jamais reconhecido à altura por seu talento. Mesmo tendo ganho nome de gringo, mesmo sendo respeitado por todos os demais "Papas". Jonhnny Alf morreu na noite desta quinta-feira, aos 80 anos, em decorrência de câncer de próstata. E o mínimo que podemos dizer agora em sua reverência é isso, um pedido de desculpas, em nome dos que apreciavam sua música, conduzida em seu piano e sua bela voz. Pedido mais tímido do que sua própria timidez, mas ainda necessário, ao menos para registro da sua posteridade.
Em matéria e entrevista em torno de seu último disco, "Mais um som", de 2006, o jornalista Dalwton Moura sentenciava a importância do músico carioca, que desde 1955 se transferira para São Paulo, pouco antes de vivenciar o furor da Bossa Nova que ele próprio ajudara a definir, em shows em boates como o Clube da Chave e a do Hotel Plaza. Em seu modesto quarto de hotel no centro da capital paulista, Johnny confirmava o rótulo de solitário que o acompanhou desde sempre, mas que não o impediu de tornar-se, ao longo das últimas cinco décadas, "um dos maiores nomes da música brasileira em todos os tempos", na visão não apenas do jornalista do Diário. Após comentar as "complexas simplicidades" da despedida fonográfica de Johnny, o jornalista lhe dá voz: "Quando as pessoas ouvem uma música minha e não me reconhecem, fico na minha, satisfeito", contava.
Johnny, Alfredo, aquele senhor negro brasileiro que jamais conheceu a fama com a mesma intensidade de Tom ou Vinicius, não se considerava injustiçado, desconversava. "Johnny Alf não se queixa de nada", dizia Ruy Castro no capítulo a ele dedicado em "A Onda que Ergue no Mar" (Cia. das Letras, 2001). Preferia falar de música, que fazia sozinho, letras junto às melodias, harmonias, impecáveis. "Procuro deixar uma mensagem de bem-estar com a minha música". Basta ouvi-la para confirmar. Pena que tivemos tão poucas chances de conferi-lo de perto.
E eis que em julho daquele ano, a dica do jornalista foi aceita, e os cearenses voltaram a ouvi-lo, pela última vez, cinco anos depois de sua apresentação anterior. Esteve no Festival Música na Ibiapaba e no Centro Dragão do Mar. Na plateia, o contrabaixista Luciano Franco, que já havia lhe assistido nos anos 80, no Rio. "Ouve um início de um movimento para ajudá-lo, mas acabou não vingando. Johnny Alf já era moderno nos anos 50. Não é um compositor popular, não penetrou muito na opinião do público, a mídia ficou devendo. A gente vê tanto remix de Bossa Nova, e o cara não estava presente. A não ser em uma gravação antiga ou outra. Muito menos do que deveria. Foi um dos grandes, um dos mestres das melodias. Se você ouvir a música dele hoje, de 1950, acha que é de hoje de tão moderno. Tive um contato com ele no Dragão do Mar, era um cara muito decente".
Opinião reforçada pelo pianista, acordeonista e compositor Adelson Viana, que também o encontrou no Rio de Janeiro. "A música perdeu uma grande personalidade, que contribuiu muito para a Bossa Nova, se não tiver sido um dos seus inventores com sua riqueza melódica e harmônica. Música gostosa de ouvir, ao mesmo tempo com sentimento. Bom-gosto aliado ao popular. Ele me influenciou, com certeza. Sempre fui fã, como todas as pessoas que gostam da música brasileira".
Por fim, o Poetinha, em um dos depoimentos colhidos por Zuza Homem de Mello para o seu "Eis Aqui os Bossa Nova" (Martins Fontes, 2008): "Os músicos adoravam as inovações do pianista da casa, Johnny Alf, aquilo sim era a música de seu tempo". Era a eterna Bossa.
Discografia
Rapaz de Bem (1961)
Diagonal (1965)
Johnny Alf (1967)
Ele É Johnny Alf (1971)
Nós (1974)
Desbunde Total (1978)
Olhos Negros (1991)
Noel Rosa - Letra & Música (com Leandro Braga, 1997)
Cult Alf - 40 Anos de Bossa Nova (1998)
Eu e a Bossa (1999)
As Sete Palavras de Cristo na Cruz (com Pedro Casaldáliga) (1999)
Música Brasileira Deste Século por Seus Autores e Intérpretes (2001)
Mais Um Som (2005)
HENRIQUE NUNES
REPÓRTER - Jornal Diário do Nordeste edição de sábado, 06/03 - Fortaleza/Ce
Autor de clássicos como "Eu e a Brisa", "Rapaz de Bem" e "Ilusão à toa", Johnny Alf deixou a música brasileira mais triste, ao partir da última quinta-feira.
Seu Chopin, desculpe. Com essa intimidade, Johnny Alf deu adeus à sua ligação mais formal com a música erudita, abraçando a música popular "diferente" que surgia no início dos anos 50 sob a inspiração primeira de Dick Farney. Ainda Alfredo José da Silva, logo ele se tornaria um de seus principais redefinidores. Um de seus "Papas", embora jamais reconhecido à altura por seu talento. Mesmo tendo ganho nome de gringo, mesmo sendo respeitado por todos os demais "Papas". Jonhnny Alf morreu na noite desta quinta-feira, aos 80 anos, em decorrência de câncer de próstata. E o mínimo que podemos dizer agora em sua reverência é isso, um pedido de desculpas, em nome dos que apreciavam sua música, conduzida em seu piano e sua bela voz. Pedido mais tímido do que sua própria timidez, mas ainda necessário, ao menos para registro da sua posteridade.
Em matéria e entrevista em torno de seu último disco, "Mais um som", de 2006, o jornalista Dalwton Moura sentenciava a importância do músico carioca, que desde 1955 se transferira para São Paulo, pouco antes de vivenciar o furor da Bossa Nova que ele próprio ajudara a definir, em shows em boates como o Clube da Chave e a do Hotel Plaza. Em seu modesto quarto de hotel no centro da capital paulista, Johnny confirmava o rótulo de solitário que o acompanhou desde sempre, mas que não o impediu de tornar-se, ao longo das últimas cinco décadas, "um dos maiores nomes da música brasileira em todos os tempos", na visão não apenas do jornalista do Diário. Após comentar as "complexas simplicidades" da despedida fonográfica de Johnny, o jornalista lhe dá voz: "Quando as pessoas ouvem uma música minha e não me reconhecem, fico na minha, satisfeito", contava.
Johnny, Alfredo, aquele senhor negro brasileiro que jamais conheceu a fama com a mesma intensidade de Tom ou Vinicius, não se considerava injustiçado, desconversava. "Johnny Alf não se queixa de nada", dizia Ruy Castro no capítulo a ele dedicado em "A Onda que Ergue no Mar" (Cia. das Letras, 2001). Preferia falar de música, que fazia sozinho, letras junto às melodias, harmonias, impecáveis. "Procuro deixar uma mensagem de bem-estar com a minha música". Basta ouvi-la para confirmar. Pena que tivemos tão poucas chances de conferi-lo de perto.
E eis que em julho daquele ano, a dica do jornalista foi aceita, e os cearenses voltaram a ouvi-lo, pela última vez, cinco anos depois de sua apresentação anterior. Esteve no Festival Música na Ibiapaba e no Centro Dragão do Mar. Na plateia, o contrabaixista Luciano Franco, que já havia lhe assistido nos anos 80, no Rio. "Ouve um início de um movimento para ajudá-lo, mas acabou não vingando. Johnny Alf já era moderno nos anos 50. Não é um compositor popular, não penetrou muito na opinião do público, a mídia ficou devendo. A gente vê tanto remix de Bossa Nova, e o cara não estava presente. A não ser em uma gravação antiga ou outra. Muito menos do que deveria. Foi um dos grandes, um dos mestres das melodias. Se você ouvir a música dele hoje, de 1950, acha que é de hoje de tão moderno. Tive um contato com ele no Dragão do Mar, era um cara muito decente".
Opinião reforçada pelo pianista, acordeonista e compositor Adelson Viana, que também o encontrou no Rio de Janeiro. "A música perdeu uma grande personalidade, que contribuiu muito para a Bossa Nova, se não tiver sido um dos seus inventores com sua riqueza melódica e harmônica. Música gostosa de ouvir, ao mesmo tempo com sentimento. Bom-gosto aliado ao popular. Ele me influenciou, com certeza. Sempre fui fã, como todas as pessoas que gostam da música brasileira".
Por fim, o Poetinha, em um dos depoimentos colhidos por Zuza Homem de Mello para o seu "Eis Aqui os Bossa Nova" (Martins Fontes, 2008): "Os músicos adoravam as inovações do pianista da casa, Johnny Alf, aquilo sim era a música de seu tempo". Era a eterna Bossa.
Discografia
Rapaz de Bem (1961)
Diagonal (1965)
Johnny Alf (1967)
Ele É Johnny Alf (1971)
Nós (1974)
Desbunde Total (1978)
Olhos Negros (1991)
Noel Rosa - Letra & Música (com Leandro Braga, 1997)
Cult Alf - 40 Anos de Bossa Nova (1998)
Eu e a Bossa (1999)
As Sete Palavras de Cristo na Cruz (com Pedro Casaldáliga) (1999)
Música Brasileira Deste Século por Seus Autores e Intérpretes (2001)
Mais Um Som (2005)
HENRIQUE NUNES
REPÓRTER - Jornal Diário do Nordeste edição de sábado, 06/03 - Fortaleza/Ce
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