O DIA INTERNACIONAL da Mulher, celebrado hoje, é momento para colocar em foco não só as conquistas mas também as desigualdades que ainda afetam as mulheres. Essa comemoração, que completa cem anos, deve servir para reafirmar a busca pela igualdade entre os gêneros e o inestimável valor da contribuição feminina para a humanidade.
Não se pode ter um mundo sustentável, justo e democrático se permanecem as várias formas de opressão sobre mais da metade da população do planeta, formada pelas mulheres. Nunca é demais lembrar que homens e mulheres se complementam, mas essa que deveria ser a principal qualidade das relações de gênero é muitas vezes deixada de lado pela prevalência da cultura masculina da dominação.
Seria benéfico para todos se o olhar e a perspectiva feminina estivessem mais presentes na vida social e, especialmente, nos espaços públicos onde se tomam as decisões de interesse coletivo.
O Ibase identificou, no ranking do Índice de Gênero (IEG), pesquisado em 150 países, conforme dados da PNAD 2006, que o Brasil ocupa uma posição intermediária entre os melhores e os piores países nessa questão. São várias as causas pelas quais permanecem os obstáculos enfrentados pelas mulheres. Apesar do avanço no plano educacional -hoje elas têm, em média, mais anos de estudos do que os homens, mas não existe ainda igualdade na renda, nos cargos e salários e na representação política.
As desigualdades de gênero estão em todas as classes sociais, e se tornam mais dramáticas quando a renda diminui. Estudo recente realizado pelo economista André Urani mostra que, em 1993, havia 32,4 milhões de pessoas em condições de extrema pobreza no país, das quais 5,5 milhões viviam em domicílios chefiados por mulheres. Em 2008, o universo da extrema pobreza foi reduzido à metade (15,8 milhões), mas ficou praticamente inalterado (5,2 milhões) o número de pessoas nessa categoria em lares chefiados por mulheres.
Isso ocorre porque elas enfrentam a miséria em condições ainda mais adversas do que as outras famílias. Sozinhas, têm o desafio de dar educação aos filhos e livrá-los da fome e da violência, enquanto se desdobram em sua jornada dupla, com salários baixos e pouca ajuda do Estado.
As homenagens de hoje são justas e bem-vindas, mas o que todas as brasileiras esperam é, em primeiro lugar, uma vida digna, onde possam desenvolver suas potencialidades, bem como a de seus filhos e filhas, e, assim, construir um país melhor, mais justo, mais fraterno, mais feliz.
MARINA SILVA - Folha de São Paulo
segunda-feira, 8 de março de 2010
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